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“As mulheres transexuais são discriminadas por todos”, diz Edith Modesto

Edith Modesto é uma pessoa que praticamente dispensa apresentações, principalmente para os leitores do A Capa que já puderam conferir outras entrevistas com a doutora em Semiótica Francesa pela Universidade de São Paulo (USP). À época conversamos com Edith sobre seu livro "Mãe Sempre Sabe?", lançado em 2008 e que trata do mito de que as mães sempre sabem que o seu filho é homossexual.

Agora voltamos a falar com a querida Edith para falar sobre seu mais novo livro, fruto de uma pesquisa da educadora com mulheres homossexuais. "Entre mulheres – Depoimentos Homoafetivos" acaba de ser lançado pelas Edições GLS. O trabalho traz relatos de mulheres homossexuais e bissexuais que foram concedidos a Edith por e-mail.

Na entrevista a seguir, a criadora do Grupo de Pais de Filhos Homossexuais (GPH) e do Projeto Purpurina relata que, na maioria dos casos, as mulheres contaram sofrer de uma ojeriza por parte dos pais. Também relata que há inúmeras esposas que, aos 40 e poucos anos, se dão conta de que não sentem tesão pelo marido pelo simples fato de gostarem de mulheres. Edith fala ainda sobre a lei Maria da Penha, que considera um grande avanço, da representação feminina no movimento LGBT e muito mais. Confira.

As mulheres lésbicas ainda são reféns do fetiche masculino?
Eu não tenho percebido nenhum culto ao masculino vindo de mulheres lésbicas. Mas também não vejo nenhuma incompatibilidade no convívio como havia há alguns anos, principalmente entre grupos militantes. No Projeto Purpurina, trabalho dirigido a jovens de iniciativa do GPH – Grupo de Pais de Homossexuais, os gays e lésbicas convivem em harmonia. Sobre fetiches sexuais, eu não tenho segurança para afirmar. Mas penso que os dildos são usados por mulheres, tanto lésbicas quanto heterossexuais (HTs).

Nos relatos que você recebeu espontaneamente por e-mail, o que há de mais em comum entre essas mulheres?
Percebi na maioria o sofrimento pela falta da aceitação dos pais. A aceitação da mãe, principalmente, é um grande motivo de sofrimento entre os homossexuais, também mulheres. Nada de novo, não? Eu imagino que seria a mesma coisa se os filhos heterossexuais fossem desprezados, discriminados, por suas próprias mães.

Sempre ouvimos histórias de homens que aos 40 e poucos anos se separam e assumem a sua homossexualidade. Com mulheres também ocorre?
Isso ocorre muito com elas. As mulheres, mais ainda do que os homens, são criadas para se casarem, vestidas de noivas etc, etc. Acabam casando e um dia descobrem porque o sexo é tão pouco atraente pra elas: se apaixonam por uma outra mulher!

A mulher transexual sofre mais preconceito que a mulher lésbica?
Sem dúvida. As transexuais, assim como travestis e transgêneros em geral, são discriminadas/os por todos: homossexuais, bissexuais e heterossexuais.

A Lei Maria da Penha é um avanço na luta contra o machismo e misoginia?
É uma lei importante e ela tem sido usada até para defender as diversidades sexuais e de gênero, pois o machismo é a base de todo o preconceito desse tipo.

Falta representação feminina no movimento LGBT?
Não, pelo contrário. Sempre houve mulheres nas frentes ativistas e hoje cada vez mais há mulheres muito competentes em todas as áreas de trabalho pelo respeito às diferenças.

O que é o triplo preconceito que você cita? Poderia dar um exemplo?
Se você quiser, posso até citar preconceito quádruplo. São preconceitos que se somam, como: mulher, pobre, negra e lésbica.

Serviço:
"Entre Mulheres – Depoimentos Homoafetivos"
Nº de páginas: 168
Preço: R$ 37,80

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