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“As pessoas no exército são geridas pelo medo”, diz ex-sargento gay candidato a deputado

Em 2008, o ex-sargento Fernando de Alcântara e seu companheiro, Laci de Araújo, também servidor das Forças Armadas, ficaram nacionalmente conhecidos ao estamparem a capa da revista "Época", onde assumiam uma relação homossexual e denunciavam uma perseguição política e homofóbica por parte do exército.

Desde então o casal travou uma luta contra setores do Exercito. Fernando foi a público denunciar que o companheiro estava sendo torturado por agentes penitenciários. Num forte revés, Fernando e Laci foram condenados por "desacato, denunciação caluniosa e ofensas às Forças Armadas" no mês passado. Vão recorrer.

À época, Fernando conversou com A Capa e contou que as vezes dava vontade de ir embora, mas que não faria isso e ficaria para comprovar as suas acusações a instituição citada. Prova disso é que, agora, Fernando é candidato a deputado federal pelo Partido do Socialismo Brasileiro (PSB). Na entrevista que você confere a seguir, o ex-sargento fala de suas propostas, dos motivos que o levaram a ser candidato e afirma com todas as letras que as pessoas são geridas pelo "medo" no Exército.

Por que resolveu sair candidato?
Foi uma decisão bastante ponderada, a despeito de tudo que poderia mudar de forma significativa em minha rotina. Já no que diz respeito à vida, já estava de ponta cabeça, desde a exposição pública de nossa luta contra a perseguição política e homofóbica no Exército. Ser co-responsável por mudanças me fez refletir sobre a real possibilidade em ampliar o discurso – levá-lo adiante, fazer valer e não deixar esmorecer ou se perder no tempo, esta tem sido nossa meta. Nossa luta se confunde com embates históricos pelo reconhecimento da liberdade e dos próprios princípios que a democracia defende. Fugir disto é diminuir a importância do ato. Desta forma, o agir contra esse Estado opressor, ainda em vigor, sobretudo dentre membros do Exército, significa agir na esfera política por mudanças significativas. Mais isso não pode parar por ai.

Da experiência adquirida ao longo de todo nosso processo e do engajamento político – ativista em direitos humanos -, pudemos constatar chegada hora de tomar as rédeas da simbologia do ato e fazer dele a bandeira pra novas conquistas e, que estas não se limitem a uma comunidade, a um segmento, mas uma busca incessante por mudanças sociais que garantam a homens e mulheres a dignidade em sua plenitude.

Vai abordar a questão da homofobia que você sofreu no exército em sua campanha?
Sim. A exposição pública trouxe consigo a oportunidade a desmistificação, para quebra da hipocrisia quanto ao total desrespeito aos direitos humanos nos quartéis, aliás, uma característica de todas as demais instituições totais, como a igreja, por exemplo. Redutos que teimam em determinar o que as pessoas devem ou não fazer de suas vidas. A dificuldade de instituições como o Exército em se enquadrar na esfera democrática é uma delas. Nas Forças Armadas há uma intransigência em se sobrepor estatutos militares a Constituição, deturpando ditames internos em detrimento à lei. Isto têm que ser combatido. Não é só a questão do direito à diversidade em si, evidente admitir que negá-lo faz parte da rotina institucional e uma de suas mais eficientes armas para manipulação e total despersonificação do ser, mas, existem outros direitos que são negados, tratados como subversão interna. Sou um candidato forjado na luta pelos direitos humanos e vou representar os que votarem nesta minha proposta como um verdadeiro e incansável representante dos que lutam por mudanças significativas, o resto é mesmice e mera disputa por poder, e isso não faz parte de meu caráter.

Serra, Dilma e Marina fizeram acordo com lideranças religiosas, o que acha disso?
Se eles [candidatos à Presidência] não buscassem o entendimento e diálogo, com todos os segmentos da sociedade, estariam agindo de forma errada – tão fundamentalista quanto àqueles que perseguem os "diferentes". Também seria uma grande irresponsabilidade crer que há unanimidade na conduta preconceituosa dentre os líderes religiosos. Há sim, um processo generalizado, uma verdadeira caça às bruxas, comandado pela "Santa Sé", no sentido de jogar toda sua incapacidade de reconhecer erros pontuais, achando por bem, sair do foco principal, e, num ato vil, transmitir uma atuação criminosa de seus integrantes aos homossexuais. Sob o ponto de vista humano, não pessoal, embora respeite sua trajetória de vida, jamais poderia votar na proposta da senadora Marina Silva. O discurso adotado representa algo que contradiz sua própria história. Qualquer interferência em nosso Estado laico perturba a maturidade democrática e é de fato grave ameaça a luta pela igualdade.

De que maneira, caso seja eleito, o seu mandato pode ajudar na luta pela aprovação do PLC 122, adoção gay e união civil?
Nos falta representatividade política. Esse é o grande problema. Não poderia negar a importância do trabalho realizado por alguns parlamentares que tentam levar adiante nossas propostas, mas, definitivamente, estou convencido que ter alguém capaz de transpor um discurso contido, com meias palavras, é extremamente importante. Temos que ter a consciência de que enquanto nos acanhamos em colocar gente nossa no Congresso a bancada fundamentalista avança e nós saímos perdendo. Meu mandato será uma incansável batalha pela aprovação de todos os direitos civis negados ao segmento LGBT.

Você eleito, irá continuar a sua luta e os processos contra o exército?
Prefiro afirmar que minha luta não é contra o Exército, e sim, contra questões de ordem pontual na caserna. O Exército é feito de homens e mulheres oriundos dos mais diversos segmentos da sociedade no Brasil.. Minha luta não é contra a instituição, mas contra a cultura que se faz postergar. As pessoas lá são geridas pelo medo. Um esquema de pânico faz parte do dia a dia dos profissionais que são de fato servidores do Estado, como outros quaisquer, mas que são geridos por um esquema secular de imposição a duras normas, onde o que é público se confunde com o privado. Boa parte do Comando está infectada por um pensamento retrógrado. A cúpula em sua maioria trata o Exército como Estado à parte do Estado brasileiro. Vejo isso como uma ação criminosa – uma postergação da mentalidade doentia, a mesma que fez com que nosso país mergulhasse nas trevas por mais de vinte anos de ditadura militar. Hoje quando chego ao quartel para acompanhar o Laci na sua jornada sinto que vencemos. Quando encontro um Soldado recruta que me cumprimenta com continência, ainda, mesmo estando afastado da tropa, sinto que nosso ato não foi em vão. Tudo valeu a pena. Essa gente merece ter alguém que lhe dê voz, que transmita toda sua indignidade e anseios, assim como os movimentos sociais precisam de fato de representatividade.

Quem você vai apoiar e votar para presidente?
Estou convencido que está na hora de nosso país ter uma mulher à frente de sua administração. E esta mulher é a ministra Dilma Roussef. Meu voto é da ministra por uma série de razões, uma delas diz respeito ao modelo de gerenciamento que implementou no Governo Lula. Modelo este que tem demonstrado avanço à economia e em conseqüência mudança significativa no combate a miserabilidade. Não posso, deixar de mencionar a identificação política com ela, enquanto pessoa. Um ser humano forte que venceu o preconceito em ser mulher e demonstrou competência numa sociedade ainda machista.

Quais serão as suas principais propostas?
Os principais eixos do projeto visam desde a extinção da Justiça Militar dos Estados e da União até a aprovação do casamento gay em noss

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