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As realezas e a vida real

Sexta-feira às sete da manhã, minha mãe me acorda e pergunta: "Que horas começa o casamento real?" Eu, pra lá de Waterloo ainda de tanto sono, respondi que não sabia e nem queria saber, pois de rainha bastava eu.
 
Assim como minha progenitora, milhões de pessoas pararam por alguns instantes que seja para acompanhar o casamento entre o príncipe William e Kate, o tal do casamento real que aconteceu na última sexta-feira em Londres.
 
Eu fiquei distante das notícias do evento, primeiro porque tenho coisas bem mais interessantes para fazer e por tantos outros motivos. E depois, porque acho que esse sistema político não seja o melhor do mundo (aliás, o nosso também não é, mas…). Essa coisa de rei e rainha, príncipes e plebeus, só ficam bem em contos de fadas e filmes da Disney… Na vida real, nos nossos tempos, não acho nada saudável uma população sustentar o luxo e conforto de uma família só porque ela descende de um grupo familiar que soube (de alguma forma) se afirmar superior aos demais grupos usando um discurso mitológico qualquer… Me espantam os ingleses, tão evoluídos, tão industrializados e pertencentes à elite dos países mais potentes do mundo manter um sistema político tão pouco contemporâneo.
 
Outra coisa que me deixou louca foi como a imprensa denominou mais um casamento de "o casamento do século". Bicha! Ainda faltam 89 anos para este século acabar e dizer que este é o casamento do século é meio pretensioso demais, não acha? A não ser que quem disse isso esteja mesmo achando que o mundo vai acabar em 2012… Agora, pensa comigo: até o final deste século, a maioria das pessoas que está viva hoje não estará até o fim deste século, ou seja, muitas coisas acontecerão e casamentos muito mais babadeiros poderão acontecer até lá…
 
No entanto, o que realmente me faz ficar passada no dendê e salpicada no açúcar e canela é o significado que as pessoas dão a este enlace matrimonial. E claro, não pude deixar de fazer uma comparação entre o príncipe William e o príncipe Manvendra, da Índia. O primeiro, o inglês, representa e ratifica o padrão heteronormativo de continuidade da família real e, para muitos, continuidade da espécie (como se não houvesse outras formas de se procriar). William e Kate sintetizam a ideologia cristã ocidental e, uma vez abençoados pela rainha mãe, eles encherão o palácio de filhos e serão felizes para sempre.

Já o indiano Manvendra trilhou o caminho oposto e foi penalizado por isso. O príncipe indiano foi casado, conforme obriga sua cultura e tradição, porém, nos anos 90 terminou o casamento. No ano 2000, fundou a instituição Lakshya Trust, que aborda a prevenção do HIV na Índia. Em 2006, o príncipe resolveu sair do armário e resultado: foi deserdado pela família real. Depois de uma entrevista no programa de Oprah Winfrey parece que a família fez as pazes e que os indianos têm aceito melhor o seu "Pink Prince" como o chamam. Manvendra diz que os gays enfrentam muitas dificuldades em seu país, uma delas é a obrigatoriedade do casamento. Ele diz que muitos são enrustidos e não assumem sua condição, inclusive dentro da família real…
 
É por essas e por outras que essas realezas me deixam enojada. Esses paradigmas propostos pelas famílias reais aos seus súditos são tão cafonas, tão fora de contexto, tão fora de moda… E principalmente, tão alheio às necessidades dos grupos de minoria da sociedade ocidental de nossos tempos…
 
Enquanto os ingleses dizem "God save the Queen" eu prefiro dizer: "GOD SAVE THE DRAG QUEENS…"
 
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui…

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