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Até que ponto devemos nos entregar a um amor?

Depois de muitas reclamações vindas de pacientes, passei um bom tempo refletindo e cheguei a algumas constatações sobre a atual maneira de como a maioria das pessoas encaram os relacionamentos hoje em dia.

O mundo capitalista nos prega diariamente através da mídia e das exigências sociais que o ideal é comprar cada vez mais, mudar constantemente de bens materiais mesmo sem precisar para assim fazermos parte deste ciclo de aquisições e de descartes.

Somos induzidos a pensar que isso se dá também no nível dos sentimentos e das relações, uma vez que as exigências sociais nos impelem a competitividade acirrada e, assim, para acompanharmos de perto tal competitividade acabamos por fazer pessoas e animais como bens descartáveis. Mas será certo isso?

A reclamação justa de meus pacientes passa exatamente por essa questão: até que ponto devo me entregar a um amor ou até que ponto estou disposto a amar? O amor envolve entrega, envolve troca e tudo isso demanda tempo, o que atualmente é artigo de luxo. Sendo assim, torna-se mais fácil ficar com alguém numa balada, ter um relacionamento fugaz e só. Como diz o ditado: “a fila anda”. Assim, as filas vão passando uma a uma sem que as pessoas envolvidas sintam propriedade de tais relacionamentos.

O vazio vem exatamente daí, é comparável ao consumo excessivo, quanto mais se compra mais se quer comprar. Para suprir o vazio é preciso sempre mais e mais e mais. Assim ocorre com os relacionamentos. Fico hoje com você, te descarto amanhã e a sensação de vazio permanece, bem lá no fundinho, já que verdadeiramente não é na próxima pessoa que você encontrará o preenchimento do mesmo.

Para acabar-se com o ciclo é necessário justamente o questionamento, até que se perceba que ao agir assim jamais conseguirá ser feliz plenamente, que a ilusão da quantidade é somente isso: uma ilusão.

A reflexão aqui e na maioria dos casos é o caminho para o encontro das respostas. Através dela encontramos nosso lugar no mundo e podemos, a partir daí, verificar se a “coisificação” dos seres e de nós mesmos vale a pena.

A generalização neste caso não existe. Afinal, realmente devem existir pessoas que não chegam nem mesmo ao patamar do questionamento e assim, na ignorância, são felizes com sua própria coisificação. Para os que querem encontrar a melhor forma para serem felizes e satisfeitos com a vida sem serem os próximos a serem descartados ou a descartar alguém, vale a dica de pararem e permitirem-se pensar, sem o medo constante de estarem ficando pra trás.

Afinal, não é bom mesmo pararmos para pensar que mundo é esse que somos forçados a crer como correto? Essa última frase vale para os animais que são descartados aos milhares a cada dia, pelos mesmos humanos que os compram nos pet shops da vida e os descartam como um brinquedo que não vale mais.Grande beijo a todos.

* Regina Claudia Izabela é psicóloga e psicoterapeuta. Para enviar suas dúvidas, escreva para claudia@dykerama.com.

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