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Ativista gay faz greve de fome para chamar a atenção do presidente Lula

Edson Nunes, 65, natural de Belo Horizonte, pai de seis filhos adotivos, é ativista gay desde 1972, quando organizou o I Simpósio Brasileiro de Estudos sobre Homossexualidade. "[O evento] foi um sucesso e teve um presbítero que se assumiu em público", lembra Nunes, destacando que o material levantado na época foi censurado pela ditadura.

No ano seguinte, o ativista foi a São Paulo organizar o segundo simpósio sobre homossexualidade, mas que, dessa vez, "foi um fracasso por falta de divulgação", conta. Incansável, ele fez um terceira edição com anúncios pagos, resultando num sucesso inesperado. Nunes lembra ainda de um caso sobre o Frei Albino "que anunciava a cura de homossexuais e saiu do recinto vaiado". "Em 1978, quando surgiu o jornal gay Lampião de Esquina e o movimento gay organizado, fui lutador solitário pelos nossos direitos", diz.

Nessa época Edson promovia cursos de parapsicologia, onde falava sobre o fato de a homossexualidade ser algo "normal com base na literatura de Chico Xavier". Em 1980, conta, participou da primeira passeata gay do país, "contra a repressão do Maluf via delegado Richet". No ano seguinte, fundou o primeiro núcleo gay do Partido dos Trabalhadores (PT) e, em 1982, foi candidato assumidamente gay à Câmara Federal. Ainda nos anos 80, teve uma coluna sobre a questão gay no jornal mineiro Jornal de Domingo.

O trabalho de Edson como ativista sofreria um hiato, mas ele voltou a atuar na defesa das questões gays em 2004 com o Clube Rainbow e, mais tarde, ajudaria a fundar a Associação Gay de Minas (AGM). Porém, às vésperas da Conferência Nacional GLBT, ele voltou a se afastar da militância devido "a atitudes do Centro de Referência Estadual à minha pessoa". 

Agora, Edson Nunes volta a ser notícia ao promover uma greve de fome. O objetivo, segundo o ativista, é denunciar o "assédio moral sofrido na Prefeitura de Belo Horizonte e cobrar do presidente Lula a criação da Secretaria Nacional de Políticas Para a Diversidade de Orientação Sexual". Em tempo: Edson anunciou que irá interromper temporariamente a sua greve de fome, mas que ela deve voltar semana que vem. A seguir, confira entrevista onde ele descreve todos os motivos da greve, fala de Lula e do PT.

Qual o seu objetivo com a greve de fome?
Denunciar assédio moral sofrido na Prefeitura de Belo Horizonte, no PT e novamente na Prefeitura, nos últimos cinco anos. Clamar por justiça para a minha situação no PT e cobrar do presidente Lula a criação da Secretaria Nacional de Políticas Para a Diversidade de Orientação Sexual. Os negros e as mulheres já têm Secretarias. Não somos nem mais e nem menos, somos iguais. Também merecemos uma Secretaria Nacional e diferente disso é discriminação e contradiz o Programa Brasil Sem Homofobia.

Você está sendo perseguido?
Sim, há cinco anos.

Você pode dizer quem são as pessoas?
Quem seja o mandante da perseguição não tenho condições de saber. Mas posso afirmar e provar quanto a três implicados: o ex-secretário de Governo na Administração do prefeito Pimentel, Dr. Paulo Moura; o deputado estadual e atual vice-prefeito de BH, Dr. Roberto Carvalho, e o ex-prefeito Fernando Pimentel.

Quem são os traidores do PT?
Aqueles que rasgaram o ideário partidário. Os três nomes apontados têm essa minha classificação.

Acredita que o presidente Lula irá se manifestar?
Não se manifestou. Mas estou certo de que nem está sabendo de nada, porque não saiu na grande mídia e minhas correspondências para a Presidência da República devem estar sob cerco de assessorias.

E sobre o silêncio da militância em torno da sua greve de fome. O que tem a dizer?
Algo que fere profundamente. Mas, como alguém voltado para o conhecimento humano, entendo que possa haver uma posição de cautela tendo em vista que até recentemente, com a esperança de que os fatos fossem primeiramente investigados pelo PT, não forneci nomes dos implicados. Mas, de qualquer forma, também penso que quem colocou a cara no mundo, sozinho, em tempo no qual a mídia nos chamava de anormais e até tarados, esse alguém merecia um crédito de confiança.

Qual a sua opinião sobre o Plano Nacional de Políticas públicas LGBT lançado pelo governo federal?
Li todo o Plano e fiquei sensibilizado com a abrangência. Um grande avanço, algo inédito no mundo. Mas, diante do presidente que temos, é pouco, porque está em desnível com as Secretarias Nacionais que ele criou para os negros e as mulheres em geral. Lula pode avançar mais, estou certo de que somente não fez isso ainda porque o movimento contentou-se com o Brasil Sem Homofobia. Temos que reivindicar o máximo. Lula foi além dos limites habituais e teve muita coragem para tanto. Está faltando coragem ao nosso movimento.

Caso não seja atendido pelo presidente, a greve de fome continua?
Sim, a greve continua até o presidente manifestar-se. Vou às últimas consequências, porque entreguei parte de minha vida à construção do PT e não aceito ser discriminado por assessorias presidenciais.

Algumas pessoas disseram que a greve de fome é um exagero. O que tem a dizer?
Tenho aprendido, através do tempo, que é importante respeitar as análises das pessoas, porque cada um vê e interpreta pelos parâmetros que lhes são disponíveis. No entanto, somente cada ser humano pode saber efetivamente sobre si mesmo. Estou em paz comigo e isto é suficiente.

O que você acha da aliança PT e PSDB?
Isso seria a pá de cal na cova do  PT como ideário político e social – no atual cenário político nacional. Em Belo Horizonte houve, recentemente, uma aliança via PSB como Cavalo de Tróia. Um absurdo. No primeiro turno votei na candidata do PCdoB, Jô Morais. No segundo, diante do desastre que seria eleger um pastor "evangélico", não havia saída.

Vai continuar no PT?
O presidente Lula vale todo o PT. E enquanto ele estiver no PT estarei. O partido está cheio de aproveitadores e traidores, mas ainda conta com o maior quadro de nomes dignos de confiança em termos de um projeto político popular.

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