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Ativistas criticam ‘intervenção’ gay no movimento de luta contra Aids

“Stalinista”. Foi dessa forma que o ativista José Araújo, diretor da AFXB (Centro de convivência para crianças que vivem com HIV/Aids em São Paulo), classificou alguns setores do movimento gay.

Na sua avaliação, alguns dos militantes homossexuais têm “fome de poder”. “A fome de poder deles está sendo saciada pelo Programa Nacional [de DST/Aids]”, avalia Araújo.

Críticas ao movimento gay marcaram a reunião ordinária do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, que teve início na manhã de sexta-feira (13). Para José Roberto Pereira, mais conhecido como Betinho, está acontecendo “um aumento cada vez maior da intervenção do movimento gay no movimento de Aids”.

“Eu sou gay, não tenho o menor problema com gay, mas luto contra a Aids”, ressaltou o ativista, que atua na periferia da capital paulista. “Existe uma espécie de estrangulamento do movimento de Aids com o crescimento do movimento gay”, acredita Betinho.

“Fundos importantes da Aids estão indo para o movimento gay e não estou vendo uma queda dos índices [da epidemia do HIV entre os homossexuais]”, avalia Betinho, um dos colaboradores do Projeto Bem-Me-Quer. Em 28 de junho, o Programa Nacional de DST/Aids lançou um plano com o intuito de combater a epidemia entre homossexuais homens que fazem sexo com outros homens (grupo conhecido pela sigla HSH) e travestis.

José Araújo concordou com a avaliação do ativista paulistano Betinho. “Eu acho que o movimento gay tem várias conquistas, mas acho a sua fala oportuna, pois o Programa Nacional coloca dinheiro [em projetos desenvolvidos por ONGs do movimento gay] sem avaliar as ações”, afirma Araújo. Para o diretor da AFXB, é preciso “reavaliar” o trabalho de prevenção que tem sido feito até aqui.

O ativista Albert, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) de Araraquara (cidade do interior de São Paulo), defendeu uma “articulação” entre os dois movimentos. Contudo, ressaltou que, “quando faltam medicamentos, é a gente quem tem de correr atrás.”

“E o movimento gay nem se manifesta”, diz. Albert, entretanto, assim como os demais ativistas que se manifestaram, ressaltou não ser “contra os gays”, sobretudo porque ele também se declarou publicamente como homossexual.

“A gente não quer virar inimigo do movimento gay. E eu não sou gay, mas adoro homem”, brincou uma das ativistas presentes à reunião. Ela foi muito aplaudida pelos demais militantes, reunidos no hotel San Raphael no Largo do Arouche, região central de São Paulo. “O movimento de Aids está perdendo sua característica. Está virando um grande movimento gay”, lamentou, em outro momento, José Araújo, da AFBX.

Ao final dos debates, Américo Nunes Neto, presidente do Fórum paulista, falou sobre os dados obtidos com o recadastramento das ONG associadas à entidade. Ao invés de 186, agora o Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo possui 86 organizações filiadas.

Dessas, 58 estão com a documentação e contribuição — que toda organização associada precisa pagar mensalmente — em ordem. O restante, 28 instituições ao todo, apresenta algum tipo de pendência.

*Texto publicado sob autorização da Agência de Notícias da Aids

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