Reconhecer a importância de produtos culturais tão focados como os livros da Brejeira Malagueta significa reconhecer a importância das leitoras lésbicas. A grande maioria, ainda esta na invisibilidade.
Os livros são fundamentais para todas/os. Divertem, ajudam, educam e ampliam o conhecimento e os horizontes. Ampliar a cultura lésbica através dos livros da Brejeira Malagueta significa aumentar a visibilidade das homossexuais, para que essas mulheres possam ser aceitas pela sociedade e por elas próprias!
Confesso que foram os livros, que me ajudaram a ter compreensão de mim mesma. Pensando na minha trajetória, entrei no projeto da editora para que outras mulheres/lésbicas tenham a mesma oportunidade que eu tive.
E a atriz Ana Paula Arósio? Onde é que ela entra? Confesso que nunca achei essa moça uma grande atriz. Bonita, sem dúvida, ela é!
No jornal “Agora SP”, encarte Show do dia 15/10/2010 a manchete: “Dor de amor”, e logo em seguida: “Ana Paula Arósio vive lésbica com o coração partido no filme – Como Esquecer”.
É surpreendente que uma atriz global de repercussão nacional, belíssima e sem dúvida ousada, tenha aceitado atuar como uma lésbica. Aplaudi a iniciativa da diretora, Malu de Martinho, não só pela protagonista, mas de levar à tela para que, milhões de espectadores, possam assistir ao filme que foi baseado no livro “Como Esquecer: Anotações Quase Inglesas”, de Myriam Campello. Alguns pensariam: Isso tudo é uma bobagem! Não é! Eu garanto. Tem sentido, nesse caso, afirmar que essas mulheres, homossexuais ou não, são aliadas da Brejeira Malagueta, na missão em prol da diversidade.
Em algumas entrevistas a cineasta afirmou que não pretendia “jogar uma lente de aumento na questão da homossexualidade”. Bobagem! Eu assisti ao filme e a lente está lá, revelando várias questões gerais e outras bem específicas da homossexualidade feminina e masculina. Chega, inclusive, numa cena a orientar juridicamente os casais homoafetivos na hipótese da separação, quando em uma discussão entre os protagonistas – Ana Paula e Murilo Rosa, a conversa toma o rumo de quem fica com o quê.
Volto a questionar, por que um filme com uma protagonista lésbica dessa grandeza, é tão importante para nós, lésbicas e significativa para a editora Brejeira Malagueta? O filme demonstra o respeito à diversidade.
A editora surgiu com uma proposta bem diferente de publicação de livros: é a primeira editora brasileira inteiramente dedicada às mulheres que amam mulheres. Fundada por um grupo de lésbicas cansadas de não terem o que ler, a Brejeira Malagueta surge para publicar obras em que a homossexualidade feminina, seja vista de forma natural, declarada e sem preconceitos.
Da mesma forma, o filme revela essa naturalidade, propondo personagens resolvidas quanto a sua homossexualidade, sem grandes conflitos internos, pelo menos quanto à orientação sexual, com lésbicas como protagonistas: Ana Paula e Arieta Corrêa (maravilhosa em todos os aspectos de sua atuação), falando abertamente da experiência de amar outra mulher, e tocar a vida. Tudo isso, também encontramos nos sete títulos em catálogo da Brejeira Malagueta.
Posso afirmar que, essa primeira iniciativa cinematográfica, da mesma forma que a editora, na literatura, é representativa e fundamental para a cultura lésbica se tornar visível à nossa volta. Revelam, o filme e os livros, nossas particularidades como mulheres que não pertencem à maioria. E o mais importante, tanto o filme como os livros afastam os subterfúgios, personagens indecisas, suicídios no final da história e toda aquela parafernália discriminatória, típicas de nossa cultura, quando o assunto são as minorias.
Espero que mais cineastas tomem essa iniciativa, realizando milhares de filmes com protagonistas lésbicas, com atrizes lindas e talentosas, como Ana Paula Arósio e Arieta Corrêa. Da mesma forma, a Brejeira Malagueta esta fazendo a sua parte, dando voz às lésbicas através dos livros, também com protagonistas mulheres que amam mulheres, falando sem rodeios, sem medo de censura, sobre o que é importante para elas.
Renovar os caminhos da cultura lésbica nacional e legitimar a intensa produção que há nesse segmento, é o objetivo da nossa editora.
VIVA A DIVERSIDADE!
* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.