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Avenida Brasil: Trama de Roni termina morna e recria fim do gay Bernardinho de “Duas Caras”

Ao que tudo indica, não teremos grandes surpresas quanto ao fim de Roni (Daniel Rocha) em "Avenida Brasil". No capítulo de quarta-feira (17), o jogador do Divino contou ao pai que ele, Suelen (Ísis Valverde) e Leandro (Thiago Martins) vão criar o filho que ela espera juntos e que não querem fazer um exame de DNA para saber quem é o pai da criança.

Leandro disse ainda que eles vão assumir de vez para o bairro que são um "casal de três pessoas".  Diogénes fica um pouco atordoado no início, mas depois diz que, se eles são felizes assim, quem é ele para contrariar.

Em entrevista no último fim de semana, o autor João Emanuel Carneiro disse que nunca tirou Roni do armário porque nem o próprio personagem sabe se é gay. Mas, segundo ele, algo vai ficar subentendido. Ou seja, talvez surjam indícios que ele e Leandro também vão se pegar em algum momento.

O fato é que a trama deu um passo atrás ao retratar os gays nas novelas. Basta comparar com as duas últimas produções da Globo no horário das 21h. Em "Fina Estampa" tínhamos o afetadérrimo Crodoaldo Valério, em interpretação inspirada de Marcelo Serrado. Muitos achavam o mordomo pintoso demais, mas o fato é que ele foi uma das estrelas da novela e um gay com muito orgulho.

A antecessora, "Insensato Coração", foi um marco na TV brasileira nesse quesito. A trama não tinha apenas um personagem, mas um núcleo gay completo. A história contou ainda com um jovem assassinado por homofobia e o casal Hugo (Marco Damigo) e Eduardo (Rodrigo Andrade) assinando a união estável no último capítulo. Temas mais que pertinentes à comunidade gay hoje em dia.

Mas, vale lembrar, que a trama envolvendo os dois personagens sofreu censura da emissora. A Globo solicitou que os autores Ricardo Linhares e Gilberto Braga dessem uma esfriada na história para não irritar os telespectadores mais conservadores.

Se João Emanuel tivesse explorado a questão da homofobia no esporte, fato mais que verídico não só nos gramados, mas em todo o ambiente esportivo, a história teria ido para um caminho bem mais interessante. Talvez, a própria emissora não quis ir a fundo no tema e preferiu ter um gay casado com uma mulher e um "subentendido" affair com um terceiro. Vamos combinar, em que ano a gente está para que as coisas fiquem subentendidas?

O autor já tem um certo histórico com gays enrustidos. Em "A Favorita", o personagem de Iran Malfitano, Orlandinho, "virou" hétero e acabou nos braços de Deborah Secco. Em "Da Cor do Pecado", Abelardo (Caio Blat), de assexuado com trejeitos efeminados, se revelou hétero também e se apaixonou pela mulher que sempre havia rejeitado.

Como bem disse o colunista Tony Goes, do portal "F5", talvez seja mais fácil para a Globo e a sociedade aceitarem uma situação que está muito fora da realidade da maioria dos gays, como o triângulo formado por Roni, Suelen e Leandro.

"Esses arranjos dificilmente aconteceriam na vida real. Por isto, se tornam inofensivos quando mostrados na TV: não refletem o que se passa do lado de cá da tela. Não ameaçam, nem dão ideias a ninguém. Portanto são 'perdoados'. E os poliamorosos são até vistos dormindo na mesma cama, enquanto que um casal do mesmo sexo não pode nem mesmo trocar um selinho", escreveu Tony sobre o desfecho do trio na novela.

E também não pense que João Emanuel está inovando com a história do triângulo. Em 2008, na novela "Duas Caras", de Aguinaldo Silva, o gay Bernardinho (Thiago Mendonça) acaba se envolvendo no meio da trama com sua melhor amiga, Dália (Leona Cavalli). Ela também acaba cedendo aos encantos do bonitão Heraldo (Alexandre Slaviero), que desperta o desejo de Bernardinho. Os personagens foram apelidados de "Trio Ternura" e desenvolveram uma relação a três na história. Assim como em "Avenida Brasil", Dália fica grávida e os dois resolvem assumir a paternidade da criança. No fim da novela, eles conseguem a permissão para registrar a menina com o nome dos dois pais e da mãe.

Mas, Aguinaldo Silva resolveu dar uma apimentada extra na trama e o machão Carlão (Luigui Palheres) se declara para Bernardinho nos últimos capítulos. O trio, então, acaba virando um quarteto.

Se "Avenida Brasil" pegou fogo no embate entre Carminha e Nina, a história de Roni não chegou nem a esquentar. Ficou morna, quase fria mesmo.


O "Trio Ternura" de "Duas Caras" em 2008

 

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