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Banda Twinpines lança EP dedicado a Claudia Wonder; leia entrevista

No ano passado, o governo de São Paulo lançou edital com verda destinada a selecionar projetos culturais voltados para a questão LGBT. As categorias eram várias: literatura, cinema, música e teatro. Quando soube do edital, Bruno Monstro, 25, guitarrista e backing vocal da banda Twinpines, teve a ideia de fazer um EP com canções voltadas para personagens, coisas e fatos do cotidiano gay.

Monstro propôs o projeto aos seus colegas de banda: Leonardo Braga, 25, vocalista e guitarrista; e Magoo, 30, baterista. Segundo Bruno, os colegas aceitaram a ideia e o projeto foi inscrito e selecionado pelo edital. O músico conta que o EP serve de manifesto "para esta vergonha chamada homofobia".

Porém, o que era para ser um trabalho entre amigos, sem muita preocupação mercadológica, ganhou ares de homenagem póstuma, pois, há alguns anos, Bruno Monstro tocou com a saudosa Claudia Wonder em uma turnê – a participação dela era certa em uma das músicas. "Essa notícia (a morte de Claudia Wonder) foi um puta soco no estômago pra mim. Mas o EP será dedicado a ela. Não tem como não dedicar", revela Bruno Monstro.

Ao término da entrevista, confira o vídeo com a canção "Love Hill", que estará no EP da banda.

Há quanto tempo o Twinpines existe?
O Twinpines foi formado em 2003 na zona norte de São Paulo. Fui o último a entrar. Meu primeiro show com a banda foi exatamente no dia que o Michael Jackson morreu, em 2009.

Como você definiria o som de vocês?
Você sabe que todo mundo que toca tem essa frescura de não querer definir o próprio som, né? A gente toca rock… Alguns chamam de rock alternativo, alguns de indie rock. Bem capaz que existam outros rótulos. Bom, a gente faz um som inspirado em bandas que gostamos, principalmente dos anos 90.

Como surgiu a ideia de fazer um EP voltado exclusivamente para a questão LGBT?
Fiquei sabendo desse edital, que é da Secretaria de Cultura do Estado, pelo meu amigo Pomba [o DJ André Pomba]. Quando me dei conta de que eu era gay na adolescência, já tocava em bandas, sempre tive muita vontade de fazer alguma coisa com essa temática. Logo que eu soube do edital, perguntei pro Leo e pro Magoo [integrantes da banda] se eles topavam e eles curtiram a ideia. Esse EP é pra gente, uma união de pessoas se manifestando contra essa vergonha chamada homofobia. A ideia é mostrar que o convívio entre heterossexuais e outros tipos de sexualidade pode ser muito bacana e gerar bons frutos. Os caras do Twinpines são meus amigos e me respeitam como sou. E a gente se diverte pra caralho junto.

Além de "Love Hill", tem alguma outra canção que fale diretamente de personagens do mundo LGBT?
"Love Hill" é uma homenagem a Hillary Daniels, que infelizmente faleceu faz pouco mais de um ano, e a Michael Love. Pra mim são dois verdadeiros ícones e duas pessoas que me marcaram de alguma forma. Mas as outras quatro músicas falam sobre outras questões, como homofobia, família, romance e até simpatia pra Santo Antônio pra conseguir namorado. Teremos participações especialíssimas de pessoas que gostamos muito nesse projeto, e algumas delas são personagens importantes no universo LGBT. Mas vamos fazer um pouquinho de suspense por enquanto. A Claudia Wonder, com quem eu já toquei uns anos atrás, ia participar… Uma pena ela ter partido antes que pudéssemos gravar. Essa notícia foi um puta soco no estômago pra mim. Mas o EP será dedicado a ela. Não tem como não dedicar.

Como artista, você acredita na existência de uma cultura gay?
Essa é uma pergunta extremamente difícil. Eu acho que existe uma cultura gay e às vezes acho que ela é necessária para que haja um tipo de fortalecimento, como ocorre com outros grupos marginalizados pela sociedade. Mas às vezes acho que é algo que acaba perpetuando a marginalidade. Ainda não tirei nenhuma conclusão disso. De qualquer forma, não acredito que esse projeto do Twinpines possa ser descrito como cultura gay. É, como eu disse antes, uma manifestação contra a homofobia e estão fazendo parte dela pessoas de diferentes sexualidades. E isso é muito importante. Você não precisa ser gay pra dizer que a discriminação é uma parada extremamente escrota, não é?

Você teme que a banda fique tachada de "gay" por conta desse EP?
Não. No Twinpines somos dois heterossexuais e um gay. E eu, que sou a parcela gay, foi quem chegou por último. A banda já tinha toda uma história antes de mim. Nós fazemos músicas sobre uma porção de coisas. Na verdade, nós estávamos no meio de um processo de composição quando surgiu esse lance do EP. Paramos o que estávamos fazendo pra trampar nessas músicas. Eu fiquei encarregado de fazer as letras e deu um certo trabalho porque eu nunca tinha feito letras que falavam claramente sobre essa temática. O que eu quero dizer é que esse EP é um projeto especial. É o Twinpines fazendo o som que faz, mas com uma temática pré-definida, o que torna o EP de certa forma conceitual. Estou absurdamente feliz que estamos tendo a oportunidade de fazer isso. Estou me sentindo fazendo algo de útil por uma causa na qual acredito. Mas depois desse EP vamos voltar ao que estávamos fazendo antes desse projeto.

Aliás, vai ter um nome o EP?
O EP já tem nome. Não gosto de ficar divulgando muita coisa antes delas acontecerem de fato porque tenho medo que algo mude no meio do caminho. Mas vou dar uma dica: o título é um pedaço da letra de "Love Hill".

Quando pretendem lançar o EP?
Ainda esse semestre. Estamos correndo com ensaios e fechando as músicas pra entrar logo em estúdio pra gravar. Quem vai gravar a gente vai ser o Rafael (ex-Planet Hemp, Polara e Elroy), com quem gravamos a trilha do documentário "Dirty Money".

Vão disponibilizar as músicas na internet?
Preciso primeiro ver como funciona essa parada de disponibilizar música nesse edital. Acredito que não teremos nenhum problema e que iremos disponibilizar tudo. De qualquer maneira, nos shows de lançamento (ainda não estão marcados) faremos algum tipo de promoção e vai rolar distribuição gratuita de uma boa quantidade desse EP.

Por fim, você acredita na bicha roqueira?
Cara, eu sou gay, curto rock, toco rock. Se eu não acreditar, fodeu.

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