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BBB 8: “Já fiquei com uma garota”, diz Thessa, amiga de Thati Bione

Nas últimas semanas o Brasil inteiro foi apresentado a esta estudante de psicologia que tem apenas 20 anos. Thessa Guimarães tornou-se protagonista de um dos principais assuntos relacionados ao Big Brother Brasil 8 após ser convidada pela participante Thatiana Bione para visitá-la no confinamento. A escolha da sister gerou especulações de que ambas estariam namorando e levantou dúvidas a respeito de sua orientação sexual.

A convite do Dykerama.com, Thessa demonstrou-se muito inteligente, informada, bem humorada e não hesitou em conceder esta entrevista exclusiva onde explica detalhadamente qual sua verdadeira relação com a participante do BBB, comenta sobre sexualidade, critica a postura do psiquiatra Marcelo Arantes, faz revelações surpreendentes e dá até um recado para a melhor amiga. Confira abaixo a conversa na íntegra!

Dykerama – O que você faz e quantos anos você tem?

Thessa – Eu sou estudande de psicologia na UnB, sou atriz de teatro e trabalho na gerência de marketing de um restaurante de Brasília. Nas horas vagas gosto muito de escrever, uso o fotolog pra publicar minhas crônicas, rebeldias, amores e poemas.

Dykerama – Há quanto tempo você e a Thati são amigas?

Thessa – Somos amigas há uns cinco ou seis anos.

Dykerama – Onde vocês se conheceram?

Thessa – Na Companhia da Ilusão, uma escola de teatro em Brasília.

Dykerama – O que você acha das pessoas estarem comentando que a Thati é dyke e que vocês são namoradas?

Thessa – Em primeiro lugar, acho antiquado e anacrônico a orientação sexual de uma pessoa ser tão polemizada. Depois da revolução sexual, das conquistas de direitos por parte de casais homossexuais em tantos países, depois da abertura democrática para os homossexuais e as diversas formas de expressão afetivas, isso ser tema de tamanho debate é um sinal de que a homossexualidade – ou homoafetividade – não é tão aceita como gostaríamos que fosse. Se não houvesse preconceito, o debate sobre Thati recairia sobre aspectos do seu caráter e do seu posicionamento no jogo.

Tenho muitas amigas lésbicas, amigos gays, conheço transexuais, tenho familiares homossexuais e tenho o maior respeito pela causa gay. Conheço gente da militância gay em Brasília e aplaudo quase todas as cláusulas dessa luta. Eu, pessoalmente, não sou gay. Ao contrário do que têm aventado todo tipo de gente pela internet, não estou escondendo a minha orientação sexual por medo de me assumir. Sou heterossexual, apesar de não acreditar que a orientação sexual seja algo estanque pro resto da vida, e namoro um cara por quem sou completamente apaixonada. Thati e eu não somos namoradas. Somos grandes amigas. Irmãs, como sempre digo.

É natural as pessoas acharem que Thati é lésbica. Primeiro porque, vivendo por meses entre modelos e futuras capas de Playboy, Thati foge completamente ao padrão dito “feminino”. É desbocada, usa bermudas e bonés e não está a fim de ficar mostrando sua “sensualidade feminina” toda hora. Entenda-se: na TV Globo, sensualidade feminina significa rebolar tresloucada e colocar os peitos pra fora! Thati é moleca, joga bola, tem um estilo físico naturalmente forte, características geralmente relacionadas ao masculino. Seu discurso é em favor da liberdade e contra o preconceito: seja racial, econômico ou de ordem da sexualidade. Acharem que Thati é lésbica é algo compreensível por todos esses motivos.

Dykerama – Você se incomoda com os comentários?

Thessa – Não. Meu namorado e eu, nas horas vagas, navegamos no meu orkut dando muita risada. Acho que tem muita gente projetando a sua sexualidade mal resolvida na Thati e em mim, entende? Gente que não assume seu lado gay, ou seu lado meramente curioso, e joga isso pra nós de forma muitas vezes agressivas e desrespeitosas. Mas tem coisa muito engraçada na internet. Alguém falou no meu orkut: “AaAAAaH, vai pro Big Brother dar tapa no capô de fusca!” “Vai lamber carpete!” Apesar do preconceito que essas mensageens trazem, fazem rir, né?!

Dykerama – Você já ficou com alguma mulher? Mesmo de brincadeira?

Thessa – Já fiquei com uma garota, e não foi de brincadeira, mas quimicamente não deu muito certo.

Dykerama – Você sabe se a Thati já ficou com mulheres?

Thessa – Não, mas acho que ela poderá responder a quaisquer perguntas sobre sua orientação sexual numa boa depois que sair da casa.

Dykerama – Se você fosse dyke, assumiria às pessoas?

Thessa – Acho que sim. Mas é fácil falar aqui do alto da minha heterossexualidade, certo? É como dizer que jamais faria um aborto sem nunca ter ficado grávida. Acho que assumiria, mas não recrimino quem não assuma. Tenho amigos e amigas gays, e sei de como é difícil para el@s lidarem com muitas situações sociais desconcertantes.

Dykerama – Por que você acha que a Thati escolheu você e não um membro da família para visitá-la no BBB?

Thessa – Por que ela me escolheu e NÃO um membro da família? Eu sou um membro da família! Muitas vezes escolhemos pessoas pra amarmos intensamente e que não têm sangue nosso nas veias. Já aconteceu com você? De ter um amigo ou uma amiga tão especial que você elege como parente de outra vida, de outra barriga? É meu caso com Thati. Às vezes sinto-me mais irmã dela do que do meu irmão biológico.

Dykerama – O que você sentiu ao visitar Thati no BBB após dias sem vê-la?

Thessa – Impotência e muita, muita vontade de dar um abraço nela. Senti raiva da produção da Globo por ter impedido que nós nos abraçássemos. Acho que se tinham tamanha preocupação com uma possível transmissão de informações, não poderiam ter dado a visita como presente a quem atendeu o Big Fone. Aquilo não foi uma visita. Foi uma experiência de laboratório! Senti-me o próprio ratinho de Skinner dentro da caixinha experimental! Mas valeu por simplemente vê-la. Acho que transmiti a ela o carinho que milhões de pessoas sentem.

Dykerama – Você está sabendo que o Marcelo escreve uma novela em seu blog baseada nos personagens da casa e que a personagem Martha Pras”sapa” está sendo apontada como sendo inspirada na Thati? O que você acha disso?

Thessa – Acho que o Marcelo é um cara inteligente, e está usando o seu blog pra atrair atenção para si. Foi uma boa estratégia. Mas, infelizmente, ele caiu num erro básico que cometem alguns aspirantes a psiquiatras e psicólogos: a prepotência de achar que seus estudos nos capacitaram pra adivinhar a mente das pessoas. Eu estudo psicologia. Estou cansada de ouvir colegas dizendo uns aos outros: “Você não sabe que é histérico, mas eu sei.” “Você não sabe que é bipolar, mas eu sei.” “Você não sabe que me odeia, mas eu sei.” “Você não sabe que é gay, mas eu sei.” É uma pena que um psiquiatra esteja representando a minha classe (dos profissionais das ciências Psi) de forma tão arrogante e despreparada. E ele alega que Thati não se conhece, que é imatura, como se ele soubesse mais que ela sobre ela mesma. O segredo pra conhecer o inconsciente humano não está nos livros… Talvez algum colega mais experiente dele possa lhe dizer isso olhando em seus olhos.
Já ouvi colegas gays dizerem também a outros heterossexuais que estes ainda não haviam se descoberto. Uma vez ouvi de uma garota que eu só não era gay porque não tinha transado com ela. Acontece muito de homossexuais acharem que suas “antenas intuitivas” são infalíveis, mas já vi muita gente cometendo erros por essa pretensão.

Dykerama – A mãe da Thati, dona Nair, disse a seguinte frase: “Conheço a minha filha e sei que ela não é lésbica. Ela é muito infantil, pura. Thati é tão feminina que não vai trabalhar sem estar maquiada”, você concorda com essa analogia de que infantilidade, pureza e feminilidade não combinam com lesbianismo?

Thessa – Definitivamente não. Acho que quando ela se referiu ao infantil e pura quis defender Thati de toda e qualquer sexualidade que possa ser atribuída a ela. Pensem: a Thati é a menina dos olhos da mãe! Se tivessem perguntado a Nair se ela achava que a Thati já houvesse transado com Marcos debaixo das cobertas, provavelmente ela daria a mesma resposta. O ideal de infantilidade afasta do ideal de sexualidade, seja ela qual for. É difícil imaginarmos que crianças têm prazer sexual, certo? Por outro lado, todos nos lembramos de alguma cena, quando crianças, em que ficamos excitados. Essa cultura cristã é mesmo difícil sob alguns aspectos…

Em relação à feminilidade, tampouco acho que seja contrária ao lesbianismo. Tenho amigas lésbicas que são extremamente femininas e vaidosas. Outras, heterossexuais, são mais yang, agressivas, “masculinizadas”, digamos. O gênero da pessoa com quem deitamos e quem beijamos na boca não tem relação direta com o papel identitário que vamos desempenhar na vida! Isso é um preconceito muito comum, muito aceito e muito ruim. Quantos gays existem extremamente fálicos? Quantas lésbicas hollywoodianas, lânguidas e delicadas? É porque nossa sociedade ainda atribui papéis muito específicos para os dois gêneros, desconsiderando a pluralidade inerente a cada ser-humano, seja ele homem ou mulher, seja ele homossexual, heterossexual, pansexual, transexual, enfim!

Por outro lado, é preciso fazer uma ressalva séria: a dona Nair, a quem chamo carinhosamente de tia, está sendo extremamente pressionada. Essas entrevistas a que ela anda respondendo visam quase sempre à polêmica, e não à informação. Pequenos trechos de sua entrevista podem ser usados como se bem quiser, para aludir ao preconceito. Espero que todos esses descontos sejam feitos a uma pessoa que dedicou sua vida à formação e ao amor dessa Thati Bione, e cujas opiniões pessoais devem ser minimamente respeitadas nessa hora de tamanha exposição e desgaste.

Dykerama – Você acha que o namoro da Thati e do Marcão vai durar? Por quê?

Thessa – Não sei. Espero que sim! Acho ele um amor e pretendo recebê-los, ambos, na minha casa para comemorar o milhão que algum dos dois vai receber!

Dykerama – Se você pudesse falar com a Thati nessa reta final do programa, o que você falaria?

Thessa – Amiga, eu te amo! Amo você do jeito que você é: chorona, moleca, linda, ingênua, teatral, explosiva, humana! Confiei nas suas escolhas desde o início e continuo confiando, porque elas são suas. Vá com fé! Ser você mesma sempre foi a melhor receita para fazer esse Brasil te amar. Ah, e você não sabe: fomos promovidas a maridas! HAuahUAHAH! Vamos casar de véu e grinalda e posar pra Caras, quem sabe a gente ganha muito dinheiro. Um beijo na alma, tchura amada!

Dykerama – Se quiser dizer mais alguma coisa ou dar um recado às leitoras fique à vontade tá? A equipe do site está torcendo muito pela Thati. Ela se interessando ou não por mulheres, pelo menos fez as pessoas falarem a respeito do assunto.

Thessa – Eu também fico feliz pelo assunto vir à tona. É sempre bom que assuntos como esse ganhem expressão em cenário nacional. As questões sobre homoafetividade precisam ser ainda muuuuuito discutidas nos meios mais abrangentes, e há muito o que vencer sobre toda sorte e preconceitos que carregamos. Infelizmente, às vezes verificamos os grandes meios de reprodução reforçando esses preconceitos em função de sua lucratividade… é um sinal de que ainda se tem um longo caminho pela frente. Boa sorte na luta! E a todos que torcem pela Thati, homossexuais, heterossexuais, gordos, magros, pretos, amarelos, homens, mulheres: algo muito forte TODOS temos em comum!

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