Entenda o fenômeno dos bebês reborn e como ele pode representar cuidado, arte e também desafios psicológicos
Nos últimos meses, os bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos — conquistaram um espaço especial nas redes sociais e entre colecionadores. Com nomes, enxovais personalizados e até certidões de nascimento, esses bonecos podem custar até R$ 9,5 mil e despertam paixões intensas, inclusive entre famosos como Britney Spears e Gracyanne Barbosa, que viralizaram ao cuidar de seus “nenéns” virtuais.
Mas afinal, o que está por trás desse fenômeno? Para quem é apenas um hobby de colecionar e admirar a arte, ou para quem busca conforto emocional, ou ainda um espaço para cuidar e se conectar, a prática pode ser saudável e até terapêutica. Porém, especialistas alertam para os limites que diferenciam um passatempo do que pode se tornar um problema de saúde mental.
Entre arte, comunidade e escape emocional
Para Andrea Janaína Mariano, artesã e colecionadora de bebês reborn há mais de uma década, esses bonecos são muito mais do que simples brinquedos. Conhecida como “cegonha” no meio artístico, ela organiza encontros em São Paulo para compartilhar técnicas e experiências, valorizando a arte manual por trás de cada criação.
“As pessoas pensam que vamos brincar de boneca, mas somos colecionadoras e artistas que apreciam a beleza e o realismo desses bonecos”, explica Andrea, que também destaca que muitos vídeos nas redes são apenas encenações, criadas para mostrar a arte e gerar engajamento, não uma vida real com os bonecos.
Já para psicólogos como Marcelo Santos, o primeiro passo é evitar julgamentos e entender o contexto emocional individual. “Não dá para patologizar automaticamente. Precisamos analisar as motivações e o impacto desse comportamento na vida da pessoa”, orienta.
Quando o hobby vira sinal de alerta
A psicóloga Rita Calegari e o psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto apontam que o limite entre um hobby saudável e um possível transtorno está na frequência, intensidade e na interferência na rotina do indivíduo.
Alguns sinais que merecem atenção são o apego exagerado ao boneco em detrimento de relações humanas, abandono de responsabilidades como trabalho ou estudos, gastos exagerados com acessórios e a perda da noção de realidade, quando o cuidado com o boneco se torna constante e infantilizante.
Sentimentos intensos e reações exageradas a críticas também podem indicar que a pessoa está enfrentando dificuldades emocionais profundas, possivelmente usando o bebê reborn como um refúgio emocional.
A conexão afetiva por trás do cuidado
Mas por que tantos adultos desenvolvem essa ligação com um boneco? Segundo os especialistas, essa conexão pode refletir necessidades de cuidado, proteção, regulação emocional e até o desejo de experimentar a maternidade ou paternidade sem as responsabilidades reais.
Além disso, os bebês reborn podem servir como ferramentas terapêuticas, ajudando a lidar com o luto, solidão e ansiedade. “Para mães que perderam bebês natimortos, por exemplo, segurar um boneco pode ser um passo importante na elaboração do luto”, destaca Rita Calegari.
Assim, os bebês reborn podem ser muito mais do que uma moda passageira: representam arte, acolhimento e, para muitos, uma forma de amor que ultrapassa o tangível. No entanto, é fundamental que cada pessoa cuide de sua saúde emocional e mantenha o equilíbrio entre o prazer desse hobby e a vida real ao seu redor.