Após um recesso no mês de maio, volta à ativa a coluna "Beeshas do Brasil". E em grande estilo, trazendo uma figura que marcou época no cenário brasileiro: Sylvinho, o chamado "cabeleireiro das estrelas".
Sylvio Alberto Justo da Silva começou a galgar os céus do estrelato ainda na década de 60, quando já trabalhava como cabeleireiro, principalmente de moda e beleza. Mas foi na década de 70 que ele ficou famoso de vez, tornando-se referência de luxo e bom gosto nos visuais que criava.
Seu trabalho foi tão influente no mundo pop brasileiro dos anos 60, 70 e 80, que ele passou a ser visto quase como uma estrela de TV. E virou uma delas: passou a fazer parte do corpo de jurados do programa de Chacrinha na televisão, na década de 70.
Fez trabalhos na área de moda, publicidade, cinema, televisão e até penteados para as atrizes que posavam nuas nas revistas masculinas da época. Com impressionante talento e inesgotável exuberância, mesclava elementos hippies com toques underground e passou por todas as fases e modas: o tropicalismo, o black power, o desbunde dos 70, a disco…
Nascido em São Paulo em 1945, na década de 60 já se destacava como um craque nos cortes de cabelos em um pequeno salão onde trabalhava. A atriz Renata Fronzi, que era dona de um salão de beleza chique na capital paulista, descobriu Sylvinho e o carregou para trabalhar com ela.
A partir dali, todas as celebridades e elegantes queriam ser "cortadas" e penteadas pelo moço. Incluindo a modelo estrangeira Veruska, um dos ícones dos anos 60, que atuou no filme "Blow Up" (66, de Michelangelo Antonioni), e veio ao Brasil ainda naquela década com o fotógrafo Franco Rubartelli. A top escolheu Sylvinho para produzir seu visual para um editorial de moda.
O passo seguinte foi se mudar para o Rio, onde trabalhou no famoso salão Jambert, do espanhol Jambert Garcia, situado em Ipanema. O salão foi o mais badalado no Rio dos anos 70, repleto de tapetes persas e lustres de cristal. Logo Sylvinho virou o preferido de mulheres famosas como Betty Faria, Sandra Bréa, Elke Maravilha, Yoná Magalhães, Zezé Motta, Marina Montini e até Elis Regina. Além de cuidar do estilo capilar dessas poderosas, ele ficou muito amigo de várias delas, principalmente Betty e Sandra. "As mulheres me contam tudo!", afirmou ele em entrevista nos anos 70.
Betty Faria conta que, às vésperas de iniciar as gravações da minissérie global "Anos Dourados" (1986), que se passava na década de 50, estava em casa acompanhada do amigo e folheavam revistas antigas. Ao se depararem com uma foto da atriz italiana Gina Lollobrigida na década de 50, gritaram: "É esse cabelo!". Sylvinho então fez o corte que imortalizou Betty no papel da desquitada Glória.
Sandra Bréa, por sua vez, só fazia cabelo com ele, inclusive nas inúmeras vezes em que posou nua para a revista "Playboy". Uma delas, com os cabelos cacheados – obra de Sylvinho. Segundo fonte, pouco antes de morrer, Sandra – que tinha os cabelos extremamente lisos – comentou: "Enrolar meus cabelos? Só Sylvinho conseguia!"
Além de trabalhar como louco fazendo visuais para produção de revistas e TV – e não somente o cabelo, mas também a maquiagem e a produção das roupas, criando o visual completo das panteras -, ele ainda encontrava tempo para ferver. Vivendo o auge dos 70, era inevitável que Sylvinho se jogasse na noite. Saía para a vida noturna acompanhado de mulheres badaladas e famosas, montadas por ele. Virou figurinha fácil em colunas sociais e também costumava desfilar no carnaval carioca, como em 1973, quando saiu pela Portela.
Também chegou a posar, ele mesmo, como modelo em editoriais de moda criados por ele, fazendo a linha latin lover, ao lado de pin-ups como Marlene Silva, Marina Montini e as próprias Elke e Sandra. Em festas e badalações, surgia com visuais incríveis, explosivos e com toques de "Dzi Croquettes", o famoso grupo performático que também marcou os 70. De tão representativo, Sylvinho foi uma das celebridades que fez uma ponta na novela global "Dancin’ Days" (1978-79), como ele mesmo, surgindo na inauguração da discoteca que dava título à novela.
O filme norte-americano "Shampoo" (1975), por sinal, trazia como protagonista um esfuziante cabeleireiro (interpretado por Warren Beatty), que tinha casos com as inúmeras mulheres que penteava. Sylvinho pode ser considerado uma versão verdadeira de tal personagem, já que, embora visivelmente andrógino e com uma sexualidade ambígua, teria tido flertes com algumas de suas estrelas – como Sandra Bréa (1953-2000).
O suposto romance entre Sylvinho e Sandra foi novamente comentado em 1993, quando a atriz anunciou publicamente que era soropositiva. Mas o cabeleireiro já não podia comentar o assunto, pois havia falecido em 6 de outubro de 1989, aos 44 anos, no Rio.
Ele descobriu ser portador do HIV em 1987, quando diagnosticou um câncer no estômago. Na época, ser soropositivo era uma sentença de morte. De fato, dois anos depois ele morria, e a causa da morte divulgada foi um linfoma no estômago e no esôfago.
Mais de vinte anos após sua morte, vale lembrar a importância de Sylvinho, que acreditava fazer arte com sua profissão e ficou imortalizado como o mais importante hair stylist brasileiro dos anos 70.
Agradecimentos: The BlitzKids