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Beijaço na Usp vira animada manifestação contra o preconceito

Ao som de Like a Virgin, aconteceu no Centro Acadêmico da Veterinária na Usp, na noite da última sexta-feira (31/10), o beijo entre Jarbas Rezende, 25, e José Eduardo Souza Goes, 18, expulsos de uma festa no mesmo local no início do mês.

O beijo entre os estudantes de letras foi parte de um beijaço convocado por alunos da universidade como resposta a discriminação sofrida pela dupla de amigos. Foram poucos os casais gays que se beijaram no evento, que acabou virando mesmo uma manifestação de carinho, amizade e apoio contra o preconceito.

Lenda

A concentração para o beijaço estava marcada para às 22h na entrada da FEA – Faculdade de Economia e Administração. No horário, em frente ao C.A da veterinária os alunos presentes na festa estranhavam a presença de alguns jornalistas. Uma garota dançava no palquinho de onde o casal foi expulso, e havia espaço na pista da festa.

No local, alguns repórteres e uma equipe de jornalismo da Globo. Alguns estudantes olhavam meio que desacreditados para os jornalistas e voltavam suas atenções para as rodinhas de conversa, com sorrisinhos no rosto.

Ali, às 22h20, o beijaço era quase uma lenda. "Dizem que a galera do beijaço vem aí", soltou um rapaz para um grupo de amigos. Enquanto isso, na frente da FEA, já havia um grupo formado por cerca de 80 e 100 pessoas, preparando balões e segurando algumas bandeiras do arco-íris. Apesar de uma fina garoa que caia, o clima era de muita expectativa.

Imprensa

Jarbas e Eduardo eram as grandes "estrelas" do evento. Ora eram assediados por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, ora eram abraçados por amigos em demonstração de apoio e afeto. Um repórter perguntou a José Eduardo se a intenção do beijaço era constranger os alunos da Veterinária. "De forma alguma", respondeu o rapaz.

Ao site A Capa, Jarbas Rezende afirmou ter visto a nota divulgada pelo Centro Acadêmico Moacyr Rossin Nilson e não ter gostado muito do divulgado pela diretoria do centro. "Não havia nada de novo lá. É a legitimação do que eles já haviam falado antes, de que nós estávamos exagerando. É a repetição dos mesmos argumentos fracos que eles já tinham apresentado", afirmou.

Amigos, conhecidos e colegas de todo tipo demonstraram apoio aos garotos. "Puxa, eu conheço esse cara", dizia um rapaz para outro, enquanto apontava para Jarbas. "Ele faz francês comigo. Tenho o maior orgulho dele".

Apitaço

Por volta das 23h os presentes na manifestação começaram o percurso até o C.A da veterinária. Segurando bexigas e bandeiras do arco-íris, passaram pela FEA fazendo um apitaço e entoando coros contra o preconceito. "Pra combater a homofobia, nossa luta é todo dia", gritavam.

Num dado momento, um amigo colocou Jarbas sobre seu ombro e assim o carregou. Outros manifestantes gritavam "Jarbas eu te amo". Um repórter da Rede TV! perguntava ao rapaz como ele se sentia ao ter virado "celebridade". "Não virei celebridade. Isso daqui é uma manifestação de apoio e afeto dos meus amigos", respondeu Jarbas.

Meninos e meninos, meninas e meninas

Quando o grupo chegou em frente ao local onde ocorria a festa da Veterinária, Jarbas recebeu mais abraços e beijos de seus amigos. Alguns fotógrafos, impacientes com o horário de fechamento das edições dos jornais, pressionaram para que o beijaço acontecesse logo.

Os envolvidos estavam indecisos quanto ao que fariam. A intenção era beijar dentro do C.A, que a esta hora já estava mais cheio. Nem todos os manifestantes conseguiriam entrar no local. Jarbas discutia com amigos como deveria ser o beijaço. "Primeiro só os rapazes beijam. Depois as mulheres." Uma amiga retrucava. "Não Jarbas, deixa todo mundo se beijar. Nós mulheres temos menos representatividade no movimento."

A resolução acabou não dando muito certo. No total, não mais de cinco casais homossexuais trocaram beijos, depois que Jarbas e José Eduardo se beijaram. Na festa, depois de Madonna, tocou "I Will Survive".

Do lado de fora, um grupo de três estudantes, aparentemente heterossexuais, conversavam sobre o beijaço. "Nossa, um dos meninos que foram expulsos estava lá dentro beijando uma menina", dizia um. Outro então comentou, "puxa, então ele virou a casaca". Um terceiro emendou, "não, ele desvirou". Todos riram.

Ao final da manifestação, sobrou até para um jornalista da rede globo que foi pressionado por um grupo de estudantes para que beijasse outro rapaz. Diante do "não-beijo", a equipe teve de ouvir um pequeno coro de "Globo homofóbica". Depois disso, estava terminada a manifestação em prol dos alunos expulsos de uma festa da Usp.

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Diego Cadavid