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Belém e a tristeza

Estive em Belém do Pará entre os dias 17e 21 de abril para cobrir o III Congresso da ABGLT. Desde que soube que iria cobrir o evento em um lugar tão longínquo como Belém, varias coisas começaram a passar pela minha cabeça: como é a cidade? E noite gay, existe? As pessoas, indígenas? Pensamento típico de uma mente arrogante e paulista e acredito que boa parte das pessoas dessa cidade pensem assim.

O primeiro choque aconteceu logo no primeiro dia do congresso, quando nos organizamos para ir à boate gay Boka Xica, localizada no centro de Belém. Ao chegar lá me deparei com um clube moderno, muito bem estruturado e com gente muito bonita. Depois fiquei passado com a beleza dos homens dessa cidade. Isso deve ser por conta da mistura do sangue indígena com o colonizador. O resultado são homens com uma beleza muito singular.

Por outro lado é ruim (ou não?) constatar que há um padrão para a noite gay. As músicas são as mesmas, as roupas também, só não tem tanto o carão como em SP e o staff é mais educado e eficiente. Isso vale para as duas casas que fui, a já citada acima e o Club Lux. Outro fato é a presença maciça de jovens e lésbicas. Assim, o público gay de Belém é mais misto e divertido de ser observar.

Outra experiência bem interessante foi a que vivi com os LGBTs do norte e nordeste. Descobrir que eles estão atualizados, que os grupos ativistas dessas regiões, pelo menos me pareceu, são mais coesos e combativos. E o que dizer sobre as idas ao bar de frente para o hotel acompanhado de Fernanda Benvenutty (Paraíba), Clovis Arantes (Mato Grosso), Ricardo (Bahia), JR (Niterói), Vinicius (Rio de Janeiro), mais um povo do Maranhão da cidade de Bacabal e um outro tanto de Minas Gerais.

Aparentemente há uma distancia que me separa dessas pessoas, mas só aparentemente. A troca de experiência foi de igual (mais uma derrocada da mente arrogante paulista). Inusitado também foi o bar em que estávamos. Pra te situar: estávamos alojados na boca da cidade universitária que fica na extrema periferia de Belém. Uma espécie de Heliópolis. Por um momento pensei, "vai sair merda", mais uma vez… As pessoas conviveram sem se importar com a nossa presença, continuaram intrigados com as suas conversas e jogatina.

E no mais, a cidade de Belém do Pará tem um clima super estranho, úmido demais e todos os dias chove e para isso tem hora: 15h e por volta das 19h. Incrível. Foi legal também poder ver a performance de Juan Iglesias (foto) que se apresenta na Festa da Chiquita, evento clássico de lá: uma espécie de Claudia Wonder de Belém. Enfim, a viagem foi demais e tenho vontade de voltar pra lá para conhecer melhor este lugar. Também houve outra constatação: como a gente se vicia em São Paulo e acredita estar na Meca do Brasil. Quando na verdade não estamos e para afirmar isso eu tive a experiência e o contato com essas pessoas tão longe de mim. A grande responsável por empossar essas pessoas de informação, filmes alternativos, bandas novas é a internet que, faz com que eles estejam tão "up to date" quanto nós. São Paulo é só mais uma cidade.

Triste

Todo dia para ir para o trabalho utilizo o ônibus 314V- Villa Ema/Liberdade e no meio desse caminho passamos por umas ruas bem estranhas da Liberdade, mas que em seus muros contém diversos desenhos do Osgêmeos, porém, pelo menos uns seis foram apagados: o muro onde estavam era de um terreno aparentemente abandonado e que pelo visto foi comprado ou alugado por alguém e, esse alguém meteu a tinta na obra de arte dos meninos.

Na hora lembrei da música Gentileza da Marisa Monte. Gentileza era uma espécie de pregador de ideias sobre o amor e pintou esses pensamentos em vários locais do Rio, quando alguém foi lá e apagou vários escritos. Na época muitas pessoas protestaram. Alguns desenhos sobraram, outros foram restaurados e muitos se perderam. Lembrei-me deste trecho da música de Marisa:

"Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza
só ficou no muro, tristeza e tinta fresca"

Tia Marisa é foda. Confira abaixo o vídeo da música onde você pode ver a história do senhor Gentileza:

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