A 75ª edição da Berlinale, sob a direção da americana Trisha Tuttle, ficará marcada pela predominância de filmes modestos, especialmente na primeira parte do festival. Tuttle, com astúcia, compensou a qualidade média das obras apresentadas ao dar centralidade à figura feminina em quase todos os longas-metragens. Todd Haynes, presidente do júri, comentou: ‘Nunca vi tantas mulheres na frente e atrás das câmeras’. Um exemplo notável é o vencedor do Urso de Ouro, Drømmer, Dreams (Sex Love), que encerra a Trilogia do Desejo de Dag Johan Haugerud, apresentando a história de uma jovem de 17 anos que se apaixona por sua professora. A narrativa erótica se revela através das palavras de um diário, encontrado pela mãe e pela avó da adolescente, misturando admiração e choque pelas descrições poéticas e ousadas. O filme destaca a credibilidade das atrizes em suas emoções, evocando memórias tanto contemporâneas quanto antigas.
Dentre os 19 filmes em competição, dez tinham como protagonistas meninas, adolescentes ou mulheres que desafiam os padrões sociais ou lidam com maternidades difíceis. A premiação, embora corajosa, refletiu um compromisso com a diversidade e a representação. O Urso de Prata para a direção foi concedido a Huo Meng por Living the Land, considerado um dos melhores filmes da edição, retratando a saga de uma família rural na China que luta para se adaptar à modernidade. O filme destaca a tirania do regime e a luta individual por liberdade em meio à pobreza e à corrupção, apresentando uma China que expressa ternura e independência de pensamento.
Por outro lado, If I Had Legs I’d Kick You, de Mary Bronstein, aborda as dificuldades de uma psicoanalista que enfrenta os desafios práticos da doença da filha pequena, equilibrando instinto protetor maternal e desejo de liberdade pessoal. O Gran Prêmio do Júri foi para The Blue Trail, de Gabriel Mascaro, que narra a história de uma mulher de quase 80 anos que se recusa a ser deportada para uma colônia de idosos no Brasil, contando com a ajuda de uma substância psicodélica para sobreviver.
O filme argentino El Mensaje, de Iván Fund, que segue uma jovem com poderes telepáticos enquanto viaja pela América do Sul, também recebeu reconhecimento, assim como o prêmio de melhor roteiro, que trouxe à tona a veia política do festival em um momento crítico para a Alemanha. O filme Kontinental ’25, de Radu Jude, explora as tensões entre romenos e húngaros na Transilvânia, oferecendo uma crítica amarga e surreal à desintegração social pós-socialismo.
Com um forte foco nas experiências femininas e LGBT, a Berlinale deste ano reafirmou sua relevância como uma plataforma para vozes sub-representadas e questões sociais pertinentes, mostrando que o cinema pode ser um poderoso veículo de mudança e conscientização.
Quer ficar por dentro de tudo que rola? Dá aquele follow no Insta do Acapa.com.br clicando aqui e cola com a gente nas notícias mais quentes