Sucesso de Beyoncé em ‘Cowboy Carter’ provoca mudança e debate sobre diversidade no country music
Quando Beyoncé lançou seu álbum “Cowboy Carter”, em março de 2024, ela não só marcou um feito histórico como a primeira mulher negra a liderar a parada Top Country Album da Billboard desde 1964, como também abalou as estruturas de um gênero dominado há décadas por artistas brancos. Sua vitória no Grammy na categoria de Melhor Álbum Country reforçou ainda mais esse impacto, despertando discussões intensas sobre o que realmente define a autenticidade na música country.
O impacto de “Cowboy Carter” no universo country
Mais do que um álbum, “Cowboy Carter” foi um manifesto sonoro que trouxe à tona o papel crucial dos artistas negros na construção do country music, misturando elementos de hip hop, blues e outras influências que desafiam a rigidez dos estilos tradicionais. Porém, ao mesmo tempo em que conquistava o topo das paradas, o álbum enfrentava resistência dentro da própria indústria, que questionava sua “suficiência country” e o excluía de premiações importantes, como a Country Music Association.
Essa tensão evidencia um obstáculo histórico que artistas LGBTQIA+ e pessoas negras enfrentam ao tentar ocupar espaços em gêneros marcados por exclusão e conservadorismo. A trajetória de Beyoncé, uma estrela global que não precisou pedir permissão para brilhar, contrasta com o caminho árduo que a maioria dos artistas negros enfrenta para ter seu talento reconhecido no country.
Grammy responde e cria nova categoria: tradição x contemporaneidade
Em meio a esse cenário, a Academia do Grammy anunciou para 2026 a criação da categoria Melhor Álbum Country Tradicional, enquanto a categoria atual passará a se chamar Melhor Álbum Country Contemporâneo. A definição para o novo prêmio enfatiza a valorização de instrumentos e estilos clássicos do country, como violão acústico, banjo e steel guitar.
Essa mudança, celebrada oficialmente como uma ampliação de espaço para diferentes estilos, gerou controvérsia e questionamentos sobre se a decisão seria uma reação direta ao sucesso de Beyoncé e seu álbum inovador. Muitos fãs e críticos enxergam o risco de que essa divisão possa funcionar como uma barreira, reforçando o gatekeeping e a exclusão de vozes que fogem do padrão tradicional.
Desafios da representatividade e do acesso na música country
Para artistas LGBTQIA+ e negros, o country ainda é um território hostil, marcado por dados que revelam a baixa presença no rádio e nas premiações. Pesquisas indicam que em 2024, somente 2,8% do espaço nas rádios country foi ocupado por artistas negros e menos de 10% por mulheres, números que refletem a urgência de mudanças estruturais.
Iniciativas independentes e coletivos, como o Black Opry e selos focados em artistas negros, têm surgido como espaços de resistência e valorização, construindo uma nova narrativa que celebra a diversidade e a pluralidade dentro do country music.
O futuro do country e a luta por inclusão
A trajetória de “Cowboy Carter” é um marco, mas também um alerta. Enquanto Beyoncé abre portas com seu talento imenso e visibilidade global, a indústria precisa reconhecer e apoiar a multiplicidade de vozes que compõem a verdadeira essência do country. Para a comunidade LGBTQIA+ e negra, essa luta por representatividade e respeito é contínua e vital, desafiando os limites impostos por tradições excludentes.
O Grammy, ao criar essa nova categoria, pode estar sinalizando uma dualidade: ao mesmo tempo em que celebra o tradicional, corre o risco de marginalizar a inovação e a diversidade. O tempo dirá se essa mudança será um passo para a inclusão real ou mais um entrave na jornada daqueles que transformam a música country com suas histórias e identidades.