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Bom dia é o primeiro conto da nova colunista do Dykerama. Confira!

A claridade adentrou o quarto, vagarosa. Raios de sol, pela cortina, lambendo os pés das meninas na cama.

Primeiro beijou os pés de Jana, porque o lado dela, na cama, é o direito, sempre. Jana abriu os olhos e fechou, colocou o travesseiro sobre o rosto pra se esconder do dia e deixou os pés a mercê dos beijos quentes.

Não demorou muito, jogou o travesseiro de lado, com ar de quem teve uma ótima idéia e foi brincar nos longos cabelos de Alice, que encolheu as pernas, cobriu a cabeça com o edredom e choramingou:

– Ah, não… me deixa dormir!

Jana riu, puxou o edredom, beijou delicadamente os lábios de Alice e deitou novamente. Perdeu-se no que parecia ser um ponto fixo do teto, cheio de lembranças.

– Mas você não se aguenta, né, Jan? Quando será que vai me deixar acordar por livre e espontânea vontade?

– Hum… quando não dormirmos juntas, ué! Uma noite dessas… – Jana falou, com pouco caso, mas depois fez “bico”, igual criança. Arrancou uma gargalhada de Alice, que em seguida se derreteu:

– Então, meu amor, vou continuar acordando todas as manhãs, com suas mãozinhas mexendo nos meus cabelos! Não durmo uma só noite longe de você, viu?

Sentou na cama, enrolou os cabelos num coque e pulou sobre Jana, beijando e mordendo seu pescoço e lhe fazendo cócegas. E as duas começaram, como filhotes felinos, uma luta de beijinhos, cócegas e gargalhadas, até ficarem exaustas.

Ainda sobre o corpo de Jana, Alice se aninhou e repousou a cabeça em seu peito, ouvindo o som das batidas disparadas do coração e restos de riso e respiração ofegante. Foram se acalmando e ficaram naquela posição, quietas, olhares perdidos:

– Li, deixa eu te perguntar uma coisa? – Era a forma carinhosa como Jana chamava Alice: “Li”.

– Pelo tom, sei que vem bomba!

– Não, boba! Curiosidades matinais…

– Hum.

– Pense nas nossas amigas. As solteiras e mesmo os casais de amigas..

– Sim, o que tem?

– Pensa?

– Estou pensando, Jan! – Alice inquietou-se, pegou uma lixa que estava sobre o criado mudo e começou a lixar as unhas da mão.

– Bem, se não tivéssemos nos conhecido e apaixonado, com qual delas você ficaria?

– Nossa, que pergunta, hein? Com nenhuma!

– Você não pensou!

– Sim, porque não ficaria com nenhuma. Não me interessam.

– Nossa, mas temos tantas amigas interessantes, poxa…

Alice levantou os olhos da tarefa e a voz também:

– Hei, mocinha, por que? Você ficaria com qual? Qual acha tão interessante assim?

Jana levantou-se da cama e correu para cozinha, pés descalços, só de calcinha, estava frio. Voltou com uma maçã mordida em uma mão, um pacote de biscoitos na outra e pulou na cama, de volta para debaixo das cobertas.

Alice continuou lixando as unhas.

– Você não respondeu minha pergunta! Está fugindo! Nem olha pra mim quando fala, né?

– Eu já respondi: com nenhuma. E Continuou lixando as unhas.

– E com a Ângela? Nem com a Ângela?

Alice parou de lixar as unhas. Respirou fundo, olhou com revolta nos olhos de Jana, que dessa vez, desviou o olhar.

– Esse assunto de novo, meu amor? O que é isso, hein? Nós combinamos de não falar mais…

– É que sonhei… sonhei, não! Foi um pesadelo! Você com ela, outra vez.

– Eu com ela, outra vez? Ahahaha!! E quando foi a primeira vez que estive com ela?

– No outro sonho que tive, lembra?

– Sim! Como esquecer? Você me acordou de madrugada pra brigar…

– Eu percebo a forma como ela te olha. Pensa que eu não reparei, ontem? Durante o jantar inteiro, ela só falava olhando pra você. – Jana falou com voz de choro, fez bico outra vez. Isso desmontava Alice.

Alice tirou a maçã da mão de Jana, deu uma mordida e ofereceu com a boca o pedaço. Isso atordoava Jana.

Beijo de maçã.

– Jan, sabe por que ela não fala olhando pra você, meu amor? Porque tem medo da sua cara de brava e ciumenta. Pensa que não da pra perceber? Você não consegue disfarçar! Todo mundo comenta… estou cansada disso!

Alice levantou pisando duro no chão, brava. Foi para cozinha e voltou: copo de suco em uma mão, cigarro aceso em outra.

Jana esbravejou:

– Mas já vai fumar? A essa hora? Então fuma na janela, bem longe de mim. Eu já não suporto o cheiro… e a essa hora da manhã, piorou! E quer dizer que todo mundo comenta da minha cara de brava? Todo mundo quem?

Alice não respondeu. Abriu as cortinas e o sol se derramou no quarto. Sentou-se no parapeito da janela e ficou quieta, observando o desenho que a fumaça fazia no ar.
Jana pegou o livro que havia começado a ler na noite anterior e deu sequência a leitura, deitada na cama.

Irredutíveis, clima denso. Seguiram quietas até que, sem mais conseguir sustentar aquilo, Jana sentou-se, endireitou a postura, fez a expressão mais séria que podia e quebrou o silêncio:

– Li, ouça esse trecho do livro, que lindo: “Perdoa a sua amada! Mulher enciumada, brava, coitada… é doente de amor!”

Jana, que tentou conter o riso, não aguentou: explodiu numa gostosa gargalhada e correu para abraçá-la. Abraçaram-se forte e demoradamente. Cobriram-se de afagos e carinhos.

– Jan, você não existe, minha linda! Minha amada brava, enciumada, coitada… Tome um banho bem gostoso agora, vamos almoçar fora?

Jana saiu pulando, feito criança que acaba de ser liberta do castigo, pegou sua toalha e entrou no banheiro.

Alice ficou prestando atenção nos sons: o barulho da torneira se abrindo, a água caindo do chuveiro, Jana cantando. Certa de tudo isso, pegou seu celular e fez uma ligação…

– Ângela, amor… precisamos conversar. Ela já está muito desconfiada. Sim, eu prometo, vou acabar logo com isso, é só uma questão de tempo, entende?

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