Poucos clubes e bares gays paulistanos dedicam uma programação exclusiva para quem gosta de samba. Talvez você já tenha ouvido falar, mas no centro de São Paulo há um lugar que já se tornou obrigatório para os amantes desse ritmo musical tão brasileiro. Pertinho do Largo do Arouche, o Boteco do Caê vem atraindo, todos os domingos, uma multidão de gays e lésbicas que se reúnem para celebrar o prazer de gingar de forma livre e descontraída.
O Boteco do Caê existe há dois anos. Começou num bar na rua Haddock Lobo, mudou-se para o centro, na rua General Jardim, e agora está rua Bento Freitas, num espaço bem maior. O organizador desse verdadeiro “pagode de mesa GLS” é Caê Bianchin, de 35 anos. Em entrevista ao Dykerama.com, Caê conta, entre outras coisas, como surgiu o boteco, que já se tornou reduto preferido dos gays apaixonados pelo samba.
Dykerama.com – Como surgiu a idéia de abrir o Boteco? Desde quando ele existe?
Caê Bianchin – Moro no centro, era muito comum eu e meus amigos nos reunirmos no meu apartamento antes de ir para balada. Como sempre gostei de preparar uns drinques, começaram a chamar minha casa de “Boteco do Caê”, foi daí que surgiu o nome.
Uma outra coisa que ajudou a amadurecer a idéia foi que sempre curti muito samba e costumava freqüentar vários locais com meus amigos, gays e héteros. Era bem legal, mas a parte gay da turma sempre precisava “fazer a linha” para não ter problema. Mas a origem mesmo foi o meu aniversário, foi assim: todo ano reunia os amigos e convidava um grupo de pagode pra animar a festa. Um dia notei que não conhecia todos que estavam na festa e descobri que esse pessoal aparecia por lá porque podia curtir o samba sem se preocupar se estavam ou não “dando pinta”. Lembrei que eu e meus amigos sentíamos a mesma coisa e resolvi testar a idéia de fazer um samba de mesa voltado ao público GLS. Não queria nada pretensioso, sempre quis um samba de mesa, com clima de boteco mesmo.
Começamos há dois anos num bar da rua Haddock Lobo, no mesmo local onde tinha feito a minha festa de aniversário daquele ano. Ficamos lá menos de 2 meses, mudamos então para a rua General Jardim, que foi onde o Boteco começou a tomar a forma de hoje.
Sempre demos muita atenção à opinião dos clientes e como o público começou a aumentar vieram as queixas de que o local estava pequeno, além de alguns acharem longe dos outros points. Resolvemos então mudar mais uma vez. Hoje estamos num local bem maior, na rua Bento Freitas, que o nosso público aprovou e tem comparecido em peso. Aqui tem um espaço muito bom para dançar e está perto de tudo, ou seja, quem quiser pode curtir o Boteco e depois esticar pra outros locais.
Dykerama.com – Qual é o público predominante do local? Vão muitas meninas também?
Caê – O público predominante são os meninos, mas as meninas também aparecem, em menor número é verdade, mas sempre estão por lá e, claro, são bem-vindas. Apesar de ser uma casa GLS, vez ou outra temos héteros, amigos ou familiares dos freqüentadores. Aliás, até nos surpreendeu quando começaram a aparecer alguns pais, mães, tias… O pessoal costuma dizer que como o ambiente é bem tranqüilo, dá pra freqüentar e curtir o samba numa boa.
Dykerama.com – Como é a programação?
Caê – Acontece todos os domingos, das 19h30 às 23h30. É sempre samba de mesa, temos uma banda fixa que é o “Grupo Samba entre Amigos”, que está com a gente desde quando era apenas uma festa de aniversário. Eventualmente trazemos uma outra banda para variar um pouco. Mesmo tendo o samba como a base da casa, no intervalo tocamos um pouco de black, funk e samba-rock. Atualmente estamos criando algumas edições extras quando há feriados, fizemos isso no Dia da Consciência Negra e vamos repetir agora no aniversário de São Paulo. A freqüência destas edições vai depender da aceitação do público.
Dykerama.com – Atualmente, o Boteco pode ser considerado o único reduto gay do samba em SP?
Caê – Não somos exatamente os únicos, existem outras casas gays que oferecem samba em algum dia da semana, mas como parte da programação normal não são voltadas apenas para este segmento como nós somos.
Nossa proposta é diferente: somos uma casa gay que oferece samba de mesa, no estilo boteco mesmo, sem palco ou grandes produções. Queremos que nosso público fique à vontade, possa dançar, bater papo, enfim, se sentir com uma turma de amigos curtindo um samba no fim de semana.
Dykerama.com – Qual é a relação dos freqüentadores do Boteco com o samba?
Caê – Bem variada, temos desde pessoas que gostam apenas de ficar ouvindo a música, tomando uma cerveja no balcão e pouco entram no salão, até outros que dançam a noite toda e não arredam o pé nem no intervalo. Muitos de nossos freqüentadores participam ativamente das escolas de samba de São Paulo, aí também a variedade é grande, desde passistas até mestre-sala premiado, passando por diretor de ala, coreógrafos, comissão de frente… Mas o grande ponto em comum mesmo é gostar de samba.
Dykerama.com – Na sua opinião, quem tem mais samba no pé? O gay ou o heterossexual?
Caê – Pelo que temos visto no Boteco os gays arrasam mais, eles parecem ter um gingado melhor, são mais soltos e dançam sem se preocupar se estão dando pinta. Isso dá mais liberdade aos movimentos. Alguns costumam levar amigas que gostam de dançar e acham os parceiros gays mais criativos e ousados…
Dykerama.com – O que o Boteco do Caê promete para este Carnaval?
Caê – Na verdade não vamos abrir no Carnaval, isso tem uma razão de ser: sabemos que nosso público gosta muito de curtir o Carnaval, muitos diretamente nas escolas de samba. Muita gente também sai da cidade e só volta na semana seguinte, além do que Carnaval dá sempre a vontade de estar mesmo é na avenida que, aliás, é onde estarei curtindo este ano.
Serviço:
Boteco do Caê
Rua Bento Freitas, 66 – Próximo ao Largo do Arouche
Telefone: (11) 9748-9919
Preço: R$ 6 (couvert artístico)
Domingos a partir das 19h30
Mais informações: www.botecodocae.com.br ou cae@botecodocae.com.br.