O Brasil registrou um total de 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no ano de 2023, uma estatística ligeiramente superior à do ano anterior, que contou com 256 casos. Esses dados alarmantes, fornecidos pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), destacam a persistência de atos homotransfóbicos no país, consolidando o Brasil como o mais perigoso para a comunidade LGBTQIA+ globalmente.
Segundo o GGB, a mais antiga ONG LGBT da América Latina, a coleta de informações foi realizada através de notícias, pesquisas online e correspondências diretas, em um esforço independente devido à falta de dados governamentais sobre crimes de ódio contra esta população. O levantamento indica também um grave problema de subnotificação, muitas vezes relacionado à omissão da orientação sexual ou identidade de gênero das vítimas nos registros oficiais.
A análise do estudo mostra que, das 257 vítimas, 127 eram travestis e transgêneros, 118 gays, 9 lésbicas e 3 bissexuais. Esta distribuição evidencia um risco desproporcionalmente alto de violência contra transgêneros, que, apesar de serem uma minoria numérica, enfrentam uma taxa de homicídios significativamente maior em comparação com outros membros da comunidade LGBTQIA+.
Luiz Mott, fundador do GGB e especialista na área, destaca o aumento de violência letal contra travestis e transexuais, um fenômeno que ele observa pela primeira vez em seus 44 anos de ativismo e pesquisa. Além dos homicídios, o estudo aponta um número alarmante de suicídios, influenciados pela intolerância e discriminação.
Sobre a dimensão étnica, o relatório mostra que apenas 34% das vítimas tiveram sua etnia ou cor registradas, com 14,39% identificados como brancos, 10,50% como pardos, e 10,89% como pretos. A maioria das informações, portanto, permanece não identificada, o que dificulta um entendimento completo do impacto racial na violência homotransfóbica.
As faixas etárias mais afetadas variam de 19 a 45 anos, representando 67% das vítimas. O caso mais jovem registrado foi de Otávio Henrique da Silva Nunes, de apenas 13 anos, brutalmente assassinado em Sinop, Mato Grosso.
O levantamento ainda revela que São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Ceará são os estados com o maior número de casos registrados. Especificamente em capitais, São Paulo lidera com a maior concentração de casos, seguida pelo Rio de Janeiro, Manaus, Salvador e Fortaleza.
Esses dados não apenas reiteram a necessidade urgente de políticas públicas eficazes para proteção da comunidade LGBTQIA+ no Brasil, mas também servem como um chamado à sociedade para combater a discriminação e violência que ainda assolam este grupo vulnerável.