É muito bom ver o cinema nacional fazer frente aos infindáveis títulos estrangeiros atualmente em cartaz. Entre os filmes mais interessantes e que merecem ser vistos está "Bruna Surfistinha", sobre a mais famosa garota de programa do país.
"Bruna Surfistinha" não é o filme que vai mudar sua vida – muito menos apresentar uma nova visão sobre o mundo das mulheres que fazem do sexo seu trabalho diário. Quem leu "O Doce Veneno do Escorpião", um dos três best sellers escritos por Raquel Pacheco, verá muitos fatos ali narrados se repetirem no longa-metragem (a versão cinematográfica é baseada na obra). A sensação de déjà-vu é ainda maior quando vêm à mente filmes como "Uma Linda Mulher" ou minisséries como "Hilda Furacão".
O filme de Marcus Baldini é um desfile de clichês envolvendo o universo das prostitutas, e dosa o drama e a comédia de forma irregular. Quem salva as cenas é Deborah Secco, que encarna com naturalidade a difícil tarefa de se entregar a um papel de uma personagem viva. Nesse sentido, o mito Bruna é maior que seu próprio filme, que às vezes soa como uma mera transposição de sua vida à tela grande.
Ainda sobre a protagonista, seria no mínimo injusto dizer que o papel "cai como uma luva" para Deborah Secco. Nenhum trabalho de ator é fácil, mesmo quando há um roteiro e uma direção frágeis. Até mesmo para ela, que já interpretou uma prostituta em "Paraíso Tropical", viver Bruna Surfistinha nos cinemas é uma tarefa desafiadora. No filme, Secco, apesar de abusar de trejeitos e lugares-comuns, soube aproveitar a força do mito e, imbuída dele, convence em cenas complexas, como aquela onde ela é obrigada a fazer sexo oral num colega de escola.
Talvez por isso "Bruna Surfistinha" mereça ser classificado como um bom filme: sua força está não somente na excelente interpretação de Deborah Secco, mas também na existência de uma mulher que, através da internet, excitou a imaginação de muitos homens, ganhou fama e dinheiro e exerceu – e por que não ainda exerce – influência no imaginário (masculino) nacional.