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Bullying: jovens gays contam sobre humilhações que sofreram nas escolas

Quando Tiago Alves,16, entrava na sala de aula de sua escola, já começava a zoação. Na época, tinha apenas 12 anos e não sentia mais vontade de se empenhar nos estudos. Os meninos de sua classe davam a ele apelidos taxativos como ‘chabiaguinho’ e ‘bichaninho’, que o faziam chorar quase todos os dias. Durante o intervalo, mexiam em sua mochila, pegavam seu estojo e passavam a jogar de um lado para o outro. 

Tiago não tinha a quem recorrer, já que diretores e professores fingiam não ver o que acontecia. "Uma vez pegaram uma régua na minha mala. Eram 6 meninos, eles me viraram de costas, riam muito, eles tentavam a todo custo colocar a régua na minha bunda", conta. Histórias como a de Tiago fazem parte do cotidiano escolar de gays. Ainda que negada pelos educadores, a prática existe e recebe o nome de bullying homofóbico.

O termo bullying é utilizado para caracterizar todas as formas de atitudes agressivas, repetidas e sem motivo aparente. O ato é um problema mundial praticado por um ou mais estudantes, e causa dor e sofrimento. Para o coordenador do CORSA (Cidadania, orgulho, respeito, solidariedade e amor), Lula Ramirez, o problema na escola acontece com quem não se comporta nos padrões heterossexuais. "Homem tem que ser macho e mulher sensível, se o menino tem trejeitos vai ser acusado mesmo que não seja gay", afirma.

Quando o preconceito é por parte dos professores a situação fica mais complicada. Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (UNESCO) de 2004, revelou que 60% dos professores brasileiros consideram inadmissível uma relação homossexual e 40% dos alunos não gostariam de ter colegas homossexuais em sala de aula. O estudante Heyder Alcantra, 17,  se assumiu aos 15 anos. Aluno da Escola Estadual Central de Belo Horizonte, ouvia de seus professores dizeres preconceituosos. "Eu tinha um professor que chegava à sala e dizia que todos os gays tinham que morrer, eu sentia medo", conta.

Enquanto alguns praticam o bullying, outros, tanto alunos quanto professores, se comportam como se nada acontecesse. "Eu tinha colegas na escola, mas quando os meninos começavam a me zuar, eles mudavam e também faziam o mesmo, talvez por medo de passar pela mesma situação, não sei", desabafa Tiago.

De acordo com Edith Modesto, pesquisadora, escritora, mãe de homossexual e fundadora do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), os professores não estão preparados para lidar com a diversidade sexual. "A maioria nem sabe o que é isso. Tenho ido à escolas fazer capacitação de professores, mas, até hoje, só consegui fazer em duas escolas particulares", diz.

O que fazer então para impedir a prática? "Em primeiro lugar, preparar quem educa: pais e professores. A partir de uma queixa, o professor poderia trabalhar com a classe, poderia criar trabalhos interessantes com pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, apresentação dos trabalhos em classe e diminuir assim a incidência da prática", explica Edith.

Tiago sofreu bullying na escola por 4 anos seguidos. Poderia ter crescido com sentimentos negativos, com baixa auto-estima e ter assumido um comportamento agressivo. Mas, assim como Heyder, encontrou apoio em grupos de juventude LGBT como o Projeto Purpurina idealizado por Edith Modesto e o E-jovem de Deco Ribeiro.

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