A escritora e intelectual lésbica norte-americana Camille Paglia, 60, considerada uma das principais vozes do pós-feminismo, deu uma entrevista à IstoÉ desta semana (Ed. nº 2001), onde falou sobre o papel da mulher nos dias atuais, homossexualidade na adolescência e direitos gays.
Eleita em 2005 pela revista inglesa Prospect a número 20 da lista dos 100 intelectuais vivos mais respeitados do mundo, a escritora reconhece que, desde a Revolução Industrial, as mulheres vêm conquistando espaço na vida pública e na política. “Graças ao acesso à educação, elas têm conseguido cargos até então improváveis de ser alcançados, em profissões como direito, medicina e na pesquisa científica, por exemplo. A maior dificuldade, tanto para as mulheres quanto para os homens, ainda é, porém, a aceitação do sexo feminino em cargos de chefia, tanto nas empresas quanto na política”, observa.
Camille Paglia defende ainda os casos de mulheres que abrem mão de sua profissão para cuidar dos filhos. “É preciso que encorajemos as jovens a desenvolver seus talentos e seu lado profissional, para que tenham independência financeira. No passado, era a dependência da mulher por seu pai ou marido que criava tantas e severas injustiças sociais”, reconhece.
Uma das principais responsáveis pelas mudanças no feminismo, acredita a escritora, é a cantora Madonna. Para Camille Paglia, o casamento da cantora com o cineasta Guy Ritchie fez com que ela controlasse seus excessos e se tornasse uma pessoa mais “família”. “A Madonna tinha uma dificuldade enorme em manter relações românticas. Ela é muito forte, decidida e workaholic e sua personalidade apaga a de seus pares”, diz Paglia. “Mas tanto Madonna quanto Guy devem ter optado por colocar as necessidades das crianças em primeiro plano. Por isso o casamento deles parece ser uma relação sólida.”
Sobre o fato de os jovens norte-americanos se assumirem cada vez mais cedo, Paglia comenta: “Estou chocada com a força do ativismo gay nas high schools (escolas que, no Brasil, correspondem aos ensinos fundamental e médio) nos EUA. Isso tem pressionado os jovens a ‘sair do armário’ o quanto antes. Para eles, crianças e jovens de 12, 14 ou 16 anos devem fazer declarações públicas sobre sua homossexualidade.”
Mas para a escritora, “sair do armário” de forma precoce nem sempre é positivo. “Essa clara polarização entre gays e héteros é simplista e nada produtiva. A experiência homossexual, ou até mesmo uma fase homossexual na vida de alguém, não torna necessariamente uma pessoa permanentemente gay. Essas regras rígidas são tiranas e devem ser descartadas. A vida é mais complexa do que isso”, pondera.
Casada com a artista plástica Allison Maddex, Camille se considera a “segunda mãe” de Lucien, filho de cinco anos de sua companheira. “Eu estava profundamente envolvida com todo o processo de gravidez da Alison e tenho agido como uma segunda mãe desde que ele nasceu”, conta. Para a escritora, os homossexuais deveriam ser contemplados com os mesmos direitos dos heterossexuais, incluindo pensão e adoção de crianças. “Sou privilegiada por viver em um Estado americano (Pensilvânia) que reconhece a adoção gay, isso não acontece em todos os EUA”, lembra.
Para ler a entrevista na íntegra acesse o site da revista IstoÉ.
Algumas frases de Camille Paglia:
“Essa é a segunda razão pela qual o neoconservadorismo aumentou seu poder. O humanismo secular, com o qual estou comprometida, tornou-se vazio. Eu sou atéia, mas reverencio as grandes religiões como formas espirituais de relacionar a humanidade e o cosmos. Os neoconservadores oferecem a sensação de tradição, estabilidade e propósito para quem repele o individualismo narcisista e hedonista do nosso tempo. Minha estratégia como escritora é oferecer a arte como uma alternativa à religião.”
“Eu acredito em igualdade de oportunidade(entre homem e mulher): os obstáculos para o avanço devem ser removidos, mas sem proteções especiais.”
“A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito. Pais que pagam mais de US$ 40 mil ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades.”