A capa da edição de março da revista "Época" chama atenção. A bandeira gay com a cor vermelha se derramando em referência ao sangue de milhares de homossexuais mortos por homofobia. A chamada, "Amor e Ódio aos gays", pega o gancho da atual festa que acontece no país. "No Carnaval, o Brasil aceita, imita e consagra os homossexuais. Por que, no resto do ano, há tanta violência?", questiona.
A reportagem, assinada por Katia Mello, Carlos Giffoni, Maurício Meireles, Martha Mendonça e Marcelo Rocha, faz um bom resumo dos recentes casos de homofobia ocorridos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre eles, o de Alexandre Ivo, de 14 anos, assassinado brutalmente no dia 21 de julho do ano passado, por ser homossexual. Até o momento, os três suspeitos pela morte de Alexandre, descritos como skinheads, respondem pelo crime em liberdade.
Quanto a liberdade que gays e lésbicas adquirem no Carnaval, a reportagem conversou com Carlos Tufvesson, coordenador especial de Diversidade Sexual do município do Rio, que acaba de lançar a campanha "Rio: Carnaval sem preconceito".
"Muitos dos homens que saem de vestido e maquiagem nos blocos de Carnaval vão agredir homossexuais no resto do ano ou mesmo quando tirarem a fantasia", afirmou Tufvesson. Na mesma linha de pensamento seguem declarações de Maria do Rosário, atual secretária dos Direitos Humanos. "Esses ataques são crimes de ódio e não podem se consolidar como uma prática cotidiana. Isso é inaceitável", disse.
O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) e a senadora Marta Suplicy (PT – SP) também são citados como fortes apoiadores no Congresso para a aprovação da lei que torna crime a discriminação por orientação sexual, o PLC 122.
Apesar da boa intenção, é justamente na criminalização da homofobia que a matéria peca. Com uma discussão rasa sobre o projeto de lei, a reportagem termina com declarações de Ives Grandra Martins, jurista paulistano, que afirma ser desnecessária a criminalização da homofobia alegando que até piadas contra gays se tornariam crime. Augusto Nicodemus Gomes Lopes, presidente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também é citado. "Ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia", declarou o presidente em um manifesto que se espalhou na internet.
De modo geral, a reportagem da "Época" deve ser vista como positiva à comunidade LGBT. Afinal, aborda um crime que é visto por milhares de brasileiros como mais um ato de violência e não como um crime de ódio. Angélica Ivo, mãe do adolescente gay de 14 anos morto no Rio, é a prova de que nossa sociedade não tem conhecimento do mal que a homofobia causa aos homossexuais.
"Nunca tinha ouvido falar em crime de ódio, não sabia que alguém era capaz disso. Dói muito imaginar meu filho, uma criança, lutando três horas pela própria vida", conta Angélica. É por isso que o PLC 122/06 – que criminaliza a homofobia em território nacional – deve ser discutido com seriedade. Não se trata de uma lei que proíbe "piada contra gays" ou que "incita a homossexualidade", e sim um direito, assim como os dos negros, de ir e vir sem ser discriminado, agredido ou morto, por sua cor ou orientação sexual.