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“Casais com relação aberta têm mais chances de contrair HIV”, diz diretor da Unaids/Brasil

O médico sanitarista e epidemiologista Pedro Chequer é apontado como um dos principais articuladores da política brasileira de resposta à epidemia do HIV. Já foi por duas vezes coordenador do Programa Nacional de Aids, desde sua criação em 1987. Em 2000, foi chamado para ser representante da Unaids – programa de combate ao HIV da ONU -, atuando em países como Rússia e Moçambique. Atualmente, dirige o escritório da entidade em Brasília.

Em visita no último sábado ao grupo Arco-Íris, no Rio de Janeiro, onde esteve com o também diretor global da Unaids, Michel Sidibé, Pedro falou com exclusividade para o site A Capa sobre os projetos e perspectivas para 2009. Entre eles, a centralização no Brasil, do escritório da Unaids para todos os países de lingua portuguesa; a conscientização do uso de preservativo pelos jovens e os programas de testagem rápida. Sobre a questão da prevenção, ele não faz mistérios e ressalta que o principal meio ainda é a camisinha.

A Unaids reconheceu recentemente a fidelidade e o início tardio da vida sexual como meios de prevenção ao HIV. Casais com relacionamento aberto estão mais propensos a contrair o vírus?
Sim, porque a chance de contato com o HIV e outras infecções aumenta. Mas isso muda completamente quando há o uso do preservativo, seja num relacionamento aberto ou fechado. O nosso parâmetro não passa pela questão da fidelidade mútua. A questão da transmissão sexual do HIV deve estar centrada no uso de preservativo, que é o instrumento fundamental para prevenção. Com isso estaríamos garantindo a médio prazo seu uso consistente e generalizado pela população sexualmente ativa, além da perspectiva de redução da epidemia das DSTs; e a longo do prazo, garantindo o controle efetivo da epidemia.

Como você avalia o crescimento do contágio do HIV no Brasil entre jovens e idosos?
Isso é preocupante e está se passando em várias partes do mundo, não só no aqui. Isso denota efetivamente uma necessidade urgente de se conscientizar a população jovem – principalmente  homossexual. Mas eles de uma maneira geral têm aumentado a sua perspectiva de prevenção. No Brasil, por exemplo, o uso de presevativo na primeira relação sexual aumentou e muito. Mas entre a populacão gay tem sido um problema recente. O Programa Nacional mais recentemente está ampliando projetos e ações e, principalmente, a educação de pares.

Qual a sua opinião da parceria da UNAIDS com o governo brasileiro na troca de apoio técnico?
O ministro Celso Amorim esteve com o Michel e discutiu o fortalecimento dessa parceria, que é muito positiva. O ministro informou ainda que o escritório brasileiro da Unaids passou a ser o ponto focal dos países de lingua portuguesa. Nós vamos traduzir, inclusive, material do inglês e francês para esses países, favorecendo o acesso mais rápido.

Como vocês têm observado o crescimento da prática do bareback no Brasil?
Eu tenho só acompanhado pelos jornais, mas nao sei até que ponto tem sido má noticia a partir de alguns fatos isolados ou uma prática corrente. Realmente, eu preciso me aprofundar melhor para que possamos contruir projetos e programas educativos para essa população.

Acredita que a testagem rápida é um bom investimento do governo brasileiro no combate à Aids?
Iniciamos esse processo há bastante tempo, o novo algoritmo foi implementado em 2005, quando eu estava à frente do Programa Nacional com o objetivo de facilitar o diagnóstico à população que não tem acesso. Não podemos aguardar, por exemplo, que uma gestante da Amazônia tenha o seu filho para depois receber o resultado vindo de Manaus. É inútil, porque já perdemos boa parte da perspectiva de prevenção. Isso sera feito em regiões onde o acesso não existe ou onde a estrutura pública de saúde tem dificuldade em dar resposta rápida, e eu não excluiria o Rio de Janeiro dessa questão. Há regiões em que o teste demora um ou dois meses. Já o novo algoritmo permite o diagnóstico imediato e confirmado em 15 minutos. Com isso, é possível uma ação imediata no tratamento. Quanto mais cedo isso ocorrer, mais chance terá de sobrevida e de uma vida com qualidade.

O que pode ser eficaz, em termos de campanha, para convencer os jovens a usarem camisinha?
Eu diria que educação de pares e a educação na escola são fundamentais. O governo brasileiro tem um projeto bastante ambicioso. O MEC [Ministério da Educação] tem uma liderança nesse sentido, de educar os jovens para não somente o uso de camisinha, mas também para uma sexualidade saudável. Eu creio que a partir desse processo possamos de fato atingir, a médio prazo, essa meta tão desejada.

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