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Casal sorodiscordante é exemplo de companheirismo e amor

Édison Luiz Costa criou no orkut a comunidade “Negativos que amam positivos”. Toni Correa é moderador da comunidade “HIV – Mereço ser feliz”. Além das comunidades, o que ambos têm em comum? Toni e Édison namoram há nove anos e juntos eles formam um casal sorodiscordante – nome que se dá quando um parceiro é soropositivo e o outro soronegativo. Toni é portador do vírus HIV há dezessete anos; se aposentou por causa de problemas neurológicos causados pelos remédios do Coquetel anti-HIV (efeitos colaterais) e também é pensionista (é o primeiro homossexual no Paraná a ter o direito de receber o benefício). Édison por ora está desempregado, mas agora conta que “está correndo atrás do prejuízo” e procurando emprego. Desde o início do namoro, Toni foi sincero em relação a ser portador do vírus, “No primeiro dia do nosso relacionamento, ele me contou mesmo eu já sabendo”, conta Édison. Quando ambos se conheceram, Toni já era portador do vírus havia sete anos. O casal se conheceu por meio de Angel*, ex-namorado de Toni que na época estava “ficando” com Édison. De início um não foi com a cara do outro, mas depois de muita conversa, eles acabaram por ficarem juntos. Antes de se conhecerem, Toni teve um companheiro por dez anos e descobriu que era portador nesse período através dos resultados dos exames do seu companheiro anterior. “Tive um relacionamento de dez anos com o meu primeiro companheiro. Foram altos e baixos, brigas, lutas, amor e também desamor da parte dele. Sempre tive esperança de vencer todos os obstáculos até que quando prestes a completar quatro anos, entrou este ‘bichinho’ nas nossas vidas. Foi através de uma internação do meu companheiro que tive o primeiro contato com o Vírus. Foi a noite mais horrível de minha vida”, conta. “Pedi a Deus para que me concedesse a graça de eu também estar com o vírus; já que pedir a ele que o livrasse do vírus seria tarde e não tinha mais volta. A doença já havia se manifestado e os remédios e o tratamento na época eram difícil e totalmente precários. Dois dias depois fiz os exames e foi confirmado que eu também era portador. A diferença era que eu não era um doente de AIDS.” “Na época a família de Toni ficou apreensiva, pois a AIDS era algo novo e o pouco que se sabia era assustador” conta Édison. “Não existia perspectiva de vida longa. Foi na época da morte do Cazuza, Fred Mercury.” Passaram-se seis anos da descoberta até que o primeiro companheiro de Toni faleceu. Toni diz que quando descobriu ser portador, ficou triste e chateado e perguntou para Deus “Porque nós, Porque eu?, Porque meu companheiro?”. Com muita fé, Toni disse ter achado algumas respostas para essas perguntas. “Neste período, não deixei de ter fé por nenhum minuto e à medida que o tempo passava, Deus ia me respondendo aquelas perguntas que fiz lá atrás… Foi para me mostrar um outro lado da vida; me fazer ser mais humilde perante as pessoas e os obstáculos; me fazer prestar mais atenção aos problemas dos outros antes de me queixar dos meus; reclamar menos, sorrir mais; pedir só aquilo que eu posso carregar; olhar a natureza ao meu redor, sentir a brisa, o vendo a chuva o sol e dizer em alto e bom som… Deus está presente”. Depois de um ano do falecimento do primeiro companheiro, Toni conheceu Édison que diz viver num “relacionamento tranqüilo, sem neuras com o HIV”. “Sempre acompanho o Toni a sua médica. Estou totalmente a par do seu tratamento. Ele faz os exames de controle periodicamente.” A família de Édison reagiu com certa indiferença ao fato dele namorar um soropositivo, mas questionou-o sobre os cuidados. Toni afirma ainda estar aprendendo, sendo mais flexível no relacionamento e se vigiando, “antes de dizer algo, procuro ser feliz hoje” Toni reconhece e agradece a importância que Édison tem em sua vida. “Ele faz por mim o que eu fiz pelo meu primeiro companheiro. Felizmente não estamos no mesmo barco, ou seja, ele não é portador. Espero e peço a Deus que ele nunca tenha a mesma intimidade com o HIV. Ele já abriu mão de muitas coisas boas na vida dele para ficar ao meu lado. Vai comigo em minha médica e com paciência presta atenção na consulta como se ele fosse o paciente. Não tem vergonha de buscar os meus remédios na Saúde; acompanha-me de cabeça erguida nos meus exames e quando digo a alguém que sou portador, ele me apóia e compra qualquer briga para me apoiar. Ele sabe mais sobre os meus remédios do que eu. Lê atentamente as bulas para saber sobre os efeitos colaterais, controla meu colesterol, meu CD4, minha carga viral e vibra quando os exames apresentam bons resultados, pois para ele é uma grande vitória” Numa atitude de muito positivismo, Toni resume bem como é ser portador de HIV. “Como sou portador a dezessete anos, hoje para mim já é normal. Felizmente sou assintomático, não tive nenhuma doença oportunista e com isto, fora o coquetel tenho uma vida normal e sem neuras”. “Percebi que a melhor maneira de lutar seria me aliando ao vírus, ou seja, conversei muito com ele, o chamo de amigo invisível. Coloquei medo nele. Disse que não seria nenhuma vantagem para ele que eu morresse: Se eu morrer, ele também morreria. Combinamos de que eu tomaria alguns remédios só para fortalecer ‘o nosso corpo’. Longe de mim querer elimina-lo, pois com ele eu aprendi muitas coisas boas. Aprendi a dar mais valor a natureza. Reclamar menos, agradecer mais. Não ter pressa. Viver cada dia como se fosse o último e acordar no outro, feliz por não ter sido. Como eu poderia ter coragem de exterminar uma coisa tão ‘insignificante’, monstruosa e ao mesmo boa por ter me dado esta nova chance de rever meus conceitos?” “Acho que é isto, ser HIV positivo é como diz a palavra: Hoje Irei Viver Positivamente”, termina dizendo finaliza. *nome fictício

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