Carmem não queria casar-se com seu namorado Alberto. A vida de solteira sempre pareceu-lhe mais atrativa e livre. Achava o casamento um contrato desnecessário, já que todos sabiam do seu relacionamento com Alberto. Não planejou seu primeiro filho, que nasceu saudável e cheio de energia. Reclamava diariamente dos afazeres domésticos, como cozinhar, lavar e passar roupas, das manhas do filho, da bagunça da casa. Para Carmem a vida era um fardo a ser carregado.
Gabriela queria muito se casar. Nunca sonhou com vestidos de noivas ou uma linda cerimônia, mas o casamento tornou-se algo necessário em sua vida. Sua namorada Amanda adoeceu e Gabriela não tinha como justificar suas faltas no trabalho para acompanhá-la no hospital. Ninguém entendia esse relacionamento e lei alguma assegurava proteção a elas. Gabriela sempre desejou ser mãe e até hoje luta arduamente para adotar uma criança com HIV, que foi rejeitada por vários casais heterossexuais na longa fila de adoção.
Gabriela tinha esperança, enquanto Carmem não conseguia enxergar a grandiosidade da liberdade que tinha em mãos, apenas por ter nascido heterossexual. Carmem podia escolher casar-se ou não, ter filhos ou não, adotar uma criança ou não. Ela tinha todas as facilidades que uma maioria tem e, em troca, ditava regras. Não valorizava o casamento e nem a maternidade, mas não admitia que pessoas como Gabriela tivessem o mesmo direito, só porque achava estranho uma pessoa gostar de alguém do mesmo sexo.
Uma grande parcela da população ainda não consegue conquistar a própria vida, enxergar a felicidade nos detalhes e por isso não permitem que outros sejam felizes. Precisamos sentir mais amor próprio e praticar algo que faça o nosso coração vibrar. Só assim seremos capazes de amar e respeitar outras pessoas.