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Casamento: quando será a nossa vez?

Na manhã da última sexta-feira (29) saí correndo para a padoca mais próxima de casa para assistir ao casamento de Kate & William, o herdeiro do trono britânico. Estou sem TV e quando preciso assistir a algo que me interessa, corro para a padaria onde sou conhecida como “aquela dona do bairro que não tem TV em casa”.

Infelizmente perdi a hora, cheguei às 7h20 e o casal real já estava sentadinho ouvindo o larará dos vários sermões e recomendações e o lindo e multirracial coro de trinta meninos de vozes angelicais (tinha menino negro, oriental, latino e muito loirinho, claro).

A maioria dos países da Europa admite as uniões homossexuais. No dia 5 de setembro de 2001, em Londres, um cartório procedeu ao primeiro registro de parceria de um casal homossexual, que na época não concedia os mesmos direitos legais que o casamento.

A Dinamarca, Noruega e a Suécia, em 1989, 1993 e 1994, respectivamente, foram os países pioneiros na admissão das parcerias entre iguais. Esta inovação acabou influenciando os demais países europeus e a Inglaterra passou a admitir parcerias homossexuais em 2002. Em 2005, foi a vez de todo o Reino Unido.

Voltando à cerimônia real, observei algumas coisas bem interessantes na transmissão, como, por exemplo, que o casal Elton John e David Furnish estava lá com toda a pompa, e a câmara de TV, logo depois de mostrar os dois, enquadrou a rainha Elizabeth e seu marido, o príncipe Philip. As imagens dos casais, para mim como homossexual, foi muito significativa. Posso estar viajando na maionese, mas essa sutileza, intencional ou não, do camarada que estava dirigindo a transmissão me chamou a atenção. Aliás, pela internet dá para ouvir a locutora dizer, depois de apresentar vários casais héteros, “Elton John também estava lá com seu marido David Furnish”.

Elton oficializou a união com David em 2005, no primeiro dia em que as uniões homossexuais foram permitidas na Inglaterra (a lei entrou em vigor em 5 de dezembro daquele ano). O casal já vivia junto havia doze anos e recentemente teve um filho chamado Zachary, através de uma mãe de aluguel.

Os dois e o bebê foram vítimas de censura numa rede de supermercados do Arkansas que encobriu a capa da revista “Us Magazine”, com circulação de 1,8 milhões de revistas nos EUA, onde aparecia a foto da nova família, sob o pretexto de “proteger os jovens clientes”. Mas na Grã-Bretanha são comentados com a naturalidade dada a qualquer outro casal.

Existe um estudo que comprova que as sociedades que alcançam o mais alto nível sócio-econômico, além de cultural, acabam por promover com mais facilidade a integração de suas minorias. Aparentemente, no Reino Unido, há um respeito maior pela diversidade sexual, e a realeza britânica, considerada a monarquia mais importante do mundo, expressou esse valor ao convidar o casal Elton e David.

As uniões entre iguais no mundo representam um fato social cada vez mais constante.

Por razões religiosas, entre outras, no Brasil a nova família homoafetiva tem sido sistematicamente excluída não só do amparo legal, mas principalmente do religioso, inclusive se invoca a lei de Deus para nos excluir do laço social.

O casamento gay é sempre efeito de uma escolha afetiva, daí o termo homoafetividade, que tem a conotação de nomear aspectos emocionais e espirituais envolvidos na relação amorosa de gays e lésbicas.

O bispo de Londres, durante sua fala no enlace real, mencionou que onde está o amor Deus estará. Na minha opinião, Deus está entre nós acompanhando a luta dos homossexuais pela aprovação do casamento entre iguais, além de notar outros 78 direitos negados em decorrência da orientação sexual, constantemente denunciados e que merecem de pronto uma reforma.

Afinal, os homens não podem fechar os olhos para uma realidade que se apresenta cada dia mais real e pública na sociedade brasileira.

Cheguei a essa conclusão porque acredito que o amor esta entre nós. Será que estou errada?

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

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