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Caso de suposto jogador gay expõe entranhas do machismo tupiniquim

Bastou ato falho de um cartola do Palmeiras para que o preconceito e o machismo dessem o ar da graça. Desde a última terça-feira, as declarações dadas por José Cyrillo Jr., diretor administrativo do Palmeiras, afirmando que o jogador Richarlyson é gay, têm servido de desculpa para que fanáticos pelo futebol denigram a imagem do atleta em particular, e a do gay em geral.

Conferindo uma suposta página de Richarlyson no site Orkut é possível deparar-se com comentários do tipo “seu boiola”, “viadinho” e “bambi” (o mais utilizado). Todas as declarações têm um mesmo fundamento: atacar a honra e a moral do atleta, como se ser gay fosse algo desabonador na vida de alguém.

Para localizar os leitores, o lance todo é que anteontem, no programa Debate Bola, da Record, Cyrillo foi indagado sobre quem seria o jogador gay no time do Palmeiras disposto a assumir publicamente sua sexualidade num programa da Globo. Ele respondeu: “Não, o Richarlyson quase foi do Palmeiras. O procurador dele assinou um pré-contato com o Palmeiras, mas no dia seguinte ele foi para o São Paulo” (para ver o vídeo, clique aqui).

A revelação do cartola rendeu pano para manga e, desde então, não se fala em outra coisa. Polêmicas à parte, o que surpreendeu foi a posição dos diferentes porta-vozes do rapaz na mídia. Sua mãe apressou-se para negar a homossexualidade do filho. “Eu sei que ele não é, precisa mostrar nada para ninguém”. E completou: “Ele é um menino muito amável”.

Julio Fressato, empresário de Richarlyson, também negou que o volante seja do babado: “Quem não deve não teme. Não existe a mínima possibilidade de esse jogador ser o Richarlyson. Conheço a família dele, sua índole e seu caráter há 11 anos, desde que ele começou a jogar.” Entendemos. Quer dizer, então, que os gays são todos sem-vergonhas e imorais?

Se já não bastasse a homofobia das pessoas próximas ao jogador, o advogado dele afirmou hoje à Folha Online que, no início da próxima semana, o são-paulino assinará uma procuração para iniciar as ações que achar cabíveis.

"Ele me autorizou a ver a fita e a defender os seus direitos caso haja necessidade, porque quem falou não tem competência para falar da intimidade dele. (…) Essas declarações infelizes podem dar motivo a uma ação cível e a outra criminal", disse Renato Prata Salge.

O caso de Richarlyson nos remete aos processos impetrados pelo ator Vitor Fasano há alguns anos. Ele processou duas famosas revistas semanais por causa de afirmações sobre sua sexualidade e levou uma bolada.

É fato que a privacidade do cidadão deve ser preservada. O que não pode é tentar usar o argumento de que ser homossexual é negativo e depreciador. Isso serve apenas para evidenciar o retrocesso e a ortodoxia da Justiça e das relações sociais no Brasil.

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