Organizado por alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ato contra a carta do chanceler Nicodemus Augustus, que em texto publicado no site da instituição se dizia contra o PLC 122/2006, projeto de lei que visa criminalizar a homofobia em todo o território brasileiro, começou por volta das 16h30 com cerca de 40 pessoas. Às 17h30, mais de 300 pessoas já estavam na rua Itambé, principal acesso à universidade. Por conta disso, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) fechou a via para que não houvesse acidentes.
A manifestação foi composta predominantemente por alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e por alunos do Mackenzie. Luisa Penaux, estudante de arquitetura da universidade prebisteriana, segurava um cartaz contra a homofobia. Ela conta que uma amiga ligou para lhe falar da carta. "Quando eu entrei no site e vi aquilo, pensei, ‘meu, que absurdo’. A maioria dos alunos do Mackenzie não pensa dessa forma, aí vi a organização do ato e me juntei com o pessoal do DCE para protestar contra a postura do chanceler", falou.
Leandro Recife, professor e membro do coletivo LGBT da APEOESP, disse à reportagem que a carta do reverendo "legitima" ações homofóbicas dentro da universidade. Recife também criticou o silêncio do Ministério da Educação (MEC), que, para ele, "não faz sentido". Quem segue a mesma linha de crítica é o professor e deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP).
"O MEC tem que tomar providências, pois o Mackenzie recebe verbas públicas e o Governo Federal possui um programa voltado para a comunidade LGBT. Esse tipo de contradição não pode existir mais", disse Giannazi, que ainda tocou na questão da concessão pública. "É preciso lembrar que o Mackenzie é uma concessão pública e o mínimo que o MEC deveria fazer é abrir uma sindicância para investigar, mas o ministério não tem coragem de enfrentar os mercadores da educação e por isso fica de boca calada", protestou o deputado.
Luciano Lima é da Igreja Metodista e Artur Cavalcante, da Anglicana. Ambos estavam com suas vestes religiosas e foram apoiar a manifestação. Luciano disse que a postura do chanceler representa o "fundamentalismo que, infelizmente ainda é muito forte em todas as religiões". O anglicano Artur disse que a carta de Nicodemus atinge "pessoas que têm o direito de existir". Para ele, a manifestação é legítima, pois "vivemos um momento de grande violência homofóbica". Ambos disseram que estavam no ato como indivíduos, isso porque suas respectivas instituições religiosas ainda relutam quanto à questão da homossexualidade, mas que tanto na Igreja Anglicana quanto na Metodista há um trabalho interno para mudar esse cenário.
Quem causou grande alvoroço ao chegar à manifestação foi Tchaka Drag. Vestida com uma roupa que representava as cores do arco-íris, a drag invadiu a rua Itambé e parou o trânsito. Neste momento, todos foram para o meio da rua e fizeram um grande círculo em torno da performer, que tentou entrar na universidade, mas foi impedida. Os seguranças da universidade fecharam os portões, mas a drag não se intimidou. Empolgados, os presentes gritaram em coro: "Abaixo o chanceler, abaixo o chanceler".
Maria Antônia
Por volta das 18h, começaram os discursos em um carro de som da APEOESP. Ativistas e até mãe de alunos discursaram e pediram o afastamento de Augustus Nicodemus. Quando o ato parecia ter chegado ao fim, um dos manifestantes pegou o megafone e convocou os presentes a irem para a rua Maria Antônia. "Gente, vamos invadir a rua Maria Antônia, ela foi palco de lutas na época da ditadura, hoje é um dia histórico, portanto, vamos fazer valer a história da rua".
O horário era de rush e muitos carros passavam pelo local. Os manifestantes não se intimidaram e começaram a circular e protestar entre os carros. Novamente na intenção de evitar acidentes, a CET fechou a rua Maria Antônia, que foi tomada pelas pessoas. Daí para frente, o ato tomou vida própria e seguiu para a rua Augusta aos gritos de "contra a homofobia, a nossa luta é todo dia".
Muitos transeuntes voltavam de seus trabalhos, mas ao verem o movimento paravam para tirar fotos e saldar os manifestantes. Na medida em que subiam a rua Augusta, algumas pessoas foram contagiadas pela energia do ato e se juntaram ao protesto. Neste momento, mais de 600 pessoas participavam do ato. Escoltados pela Polícia Militar, os manifestantes seguiram para a avenida Paulista.
E a cena se repetiu. Estudantes e trabalhadores que faziam happy hour saíram de suas mesas e abandonaram as suas cervejas para aplaudir os estudantes que protestavam contra a postura homofóbica do chanceler do Mackenzie. O ato ocupou duas faixas da Paulista e terminou por volta das 21h em frente ao número 777, onde ocorreu a agressão homofóbica que chocou a cidade de São Paulo e teve repercussão nacional.
Veja fotos do ato a seguir.