Ser LGBT em uma família religiosa não é algo fácil. Por conta disso, muitos jovens crescem e vivem suas vidas dentro do armário. Encarar o preconceito e a rejeição não é fácil, principalmente sozinho… contudo, quando há uma motivação, um suporte, tais barreiras são mais fáceis de serem suplantadas.
Para o jornalista católico Jeferson Batista, de 23 anos, se assumir homossexual não foi apenas uma "saída do armário", mas, também, uma declaração de amor ao geógrafo Luis Rabello, de 29, com quem mantém um relacionamento desde 2016. O casal se conheceu em dezembro e desde então estão juntos.
Em junho, mês dos namorados, e do orgulho LGBT, eles resolveram tornar pública a união. Em uma publicação no Facebook, Jeferson postou uma foto ao lado do namorado, seguido por um desabafo:
Hoje é o primeiro Dia dos Namorados que eu e Luis passamos juntos, namorando. Luis é um menino e eu também. Tudo normal? Para mim, sim, para o Luis, também. Para as pessoas que nos amam de verdade, também, tudo certo. Mas, para muitas pessoas, nosso namoro é errado. Essas pessoas nos condenam e nos agridem, nos olham no shopping, na rua, na universidade ou nos encontros de família com reprovação. Às vezes, temos medo que essas pessoas usem da violência física para nos atingir. Tais pessoas causam sofrimento a mim, ao Luis e a milhões de LGBT pelo mundo, mas nós também somos pessoas e só queremos ser quem realmente somos, só queremos viver.
Nós, LGBT, não somos diferentes de ninguém. Meu caso e do Luis, por exemplo: estudamos, trabalhamos, choramos e rimos, fazemos compras e pagamos contas, viajamos e assistimos séries, sentimos frio e calor, dor de cabeça e fome (Luis sempre está com fome), fazemos voluntariado e vamos à missa (eu vou mais que o Luis), gostamos de postar foto no Facebook, como essa. Ah, gostamos de pessoas do mesmo sexo. Isso nos faz ser doentes ou pecadores?
(…) Sei que, a partir de agora, fora do armário, muita coisa boa vai acontecer, mas coisas ruins também podem acontecer. Eu tenho ao meu lado o amor do Luis, que não é diferente de qualquer outro amor, é verdadeiro e não precisa ficar escondido. Tenho minha família também, que me ama e me respeita, e tenho o amor de Deus, que abençoa o meu namoro, desde quando começou.
Obrigado, Luis, por me ajudar a ser quem eu sou de verdade. Enfim, precisava todo esse textão para postar uma foto com o namorado? Qualquer ato meu, do Luis e de qualquer LGBT é um ato de resistência! No Dias dos Namord@s e no mês do Orgulho LGBT, eu luto por namoros homoafetivos, por direitos para a comunidade LGBT, luto por inclusão na sociedade e na Igreja, luto pelo fim de toda e qualquer LGBTfobia.
À Folha de S. Paulo, o jornalista contou que "durante muito tempo tive relacionamentos heterossexuais e, mesmo quando me descobri homoafetivo, não contei para minha família. Só fui contar quando já estava namorando o Luiz. Não esperava, mas eles me apoiaram e mostram muito respeito por mim".
Venho de uma família muito religiosa. Fui criado na zona rural, cheguei a trabalhar na roça com meus pais e avós. Então, além de no começo ter que lidar com a questão de ser católico e LGBT, tinha o medo da reação da minha família, que sempre foi tradicional", completou.