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Celebridades da noite gay contam o que fazem durante o dia

É mais que comum nos flagrarmos pensando em como é o dia-a-dia das pessoas que admiramos. Talvez por isso, revistas de fofocas vendem tão bem e atraem tantos anunciantes. Se isso se dá com uma parcela grande e imensurável da população, imagina com nós gays, naturalmente curiosos e ávidos por novidade.

Seguindo essa linha, tentamos descobrir o lado diurno de quem trabalha na noite: o que será que a drag faz de dia? E a performer, como é que ela descansa? E o gogo boy gostosão, será que ele só dança? E a hostess, faz o que durante a semana? Será que essas pessoas chegam atrasadas no serviço? Será que pegam metrô? Como é que elas dormem? Foi pensando nessas perguntas que selecionamos algumas figuras absurdinhas da noite gay para descobrir como essas "celebridades" batalham de sol-a-sol pelo pão de cada dia.
O cotidiano de quem tem que conciliar a vida diurna com a vida noturna não é mole, mas tem seus momentos prazerosos. "Já estou acostumada, eu sou bem elétrica pra essas coisas", conta Ioiô Vieira de Carvalho sobre sua agitada vida.

Bem versátil, Ioiô trabalha diariamente, de domingo a domingo, em clubes e festas e divide as horas do seu dia entre as faxinas que faz na casa de amigos com animação de festas de aniversários e shows carnavalescos em hotéis para recepcionar turistas estrangeiros. Entre as casas em que Ioiô faz faxina, está a da drag Silvetty Montilla. E uma vez na semana, Ioiô também deixa a redação do site e da revista A Capa mais limpinha.

Questionada se gosta da sua profissão, Ioiô diz: "Gosto sim, é natural em mim, às vezes quando vou à casa de uma amiga, pego uma cerveja na geladeira e já começo a fazer faxina. As pessoas falam que eu posso conseguir coisa melhor, mas parece que eu já nasci com a vassoura na mão", diz rindo. E completa, enfática, que "se um dia eu for rica, não vou ter empregada, eu mesma vou limpar minha própria casa".

Além do trabalho, Ioiô ainda encontra tempo para suas escapadas noturnas. Ela se diverte nos mais variados lugares, desde a Danger até a Bubu Lounge, passando pelo reduto lésbico Bar da Grá e pelo Queen, onde se apresenta às quartas-feiras.

O DJ Gustavo Vianna toca no club Bubu Lounge, Tunnel e festas gays e divide seu tempo trabalhando no site de relacionamentos Disponivel.com. De dia, atua na área comercial e administrativa da empresa. "Faço de tudo um pouco, desde cobranças a venda de publicidades". Gustavo começou como DJ meio por acaso, no bota-fora de um amigo.

Em dezembro de 95, tocou no bar de cima d’A Lôca, "nem tinha mesa de som lá, eu que levei meus equipamentos. O Nenê [promoter do clube na época] gostou e quando terminou a festa me chamou pra tocar lá na semana seguinte". Sobre a dificuldade de conciliação das duas vidas Gustavo afirma: "Gosto das duas atividades, hoje os dois trabalhos estão ligados, às vezes toco num clube e nossa marca está lá, as coisas se fundem bastante".

Questionado se já chegou atrasado no serviço por conta da noitada, Gustavo conta rindo. "Quando a festa é muito boa, a gente se anima um pouco mais e aí não tem jeito, de vez em quando chego atrasado sim". Outra que troca a noite pelo dia é a querida Renata Bastos. Sempre pontual, Renata se atrasou apenas uma vez no trabalho. "Sempre gostei de chegar mais cedo. Uma vez, não me lembro porque, cheguei duas horas atrasada, abri a loja onde trabalho ao meio-dia. Só atrasei esse dia, mas foi muito uó", conta envergonhada. Renata é vendedora da loja Theodora, da estilista Rita Wainer. Isso porque o atraso da fofa nem foi tão atraso assim. Seu horário de entrada oficial na época era mesmo meio-dia.

Atualmente Renata faz performances na noite Strip Poker, quinzenalmente no Vegas, mas confessa que não tem saído muito na noite. “Estou indo bastante para barzinhos com amigas, fazendo mais a linha Sex and the City. Para mim está faltando novidade na noite. Já sei quem vai estar nos lugares, que músicas vão tocar", reclama a experiente Renata.

Outra que está saindo pouco na noite é a hostess Kelly McQueen, que durante o dia, de segunda a sexta, das 9h às 18h, atende pelo nome de Kelly Okada e trabalha como secretária da redação do site Mix Brasil. Entre suas atividades, Kelly atende telefonemas, agenda entrevistas e compromissos dos meninos do site e tem até um programa na Rádio Mix Brasil, transmitido às terças-feiras via internet.

O motivo de Kelly diminuir suas saídas noturnas é que para ela "é difícil conciliar as duas atividades, ultimamente estou muito comprometida com o trabalho aqui, mas sempre vou pro Glória, na festa do Alê e do Johnny; gosto bastante d’ A Lôca de domingo também".

Apesar de o trabalho diurno consumir bastante o tempo de Kelly, ela diz que recebe apoio do chefe para não desistir nem de um, nem de outro. "O Marcelo [Cia, diretor de conteúdo do site] me incentiva bastante a não abrir mão da noite, a continuar saindo montada".

Em geral, as atividades que as pessoas exercem durante o dia não têm nada a ver com o que fazem a noite. Nesse sentido, uma das histórias mais inusitadas é a do gogo boy e stripper Alex Lorenzo. Quem vê o gostosão dançando de sunga na SoGo nem imagina que o bofe hétero, casado, 36 anos e pai de dois filhos, exerce durante o dia a função de assessor empresarial.

Como se já não suasse o suficiente, o bonitão ainda arruma tempo para dar aulas como personal trainer. Alex conta como encara uma rotina de serviços burocráticos com os fins de semana agitados que tem. "Dançar para mim é como um hobby, é uma atividade que me relaxa. É cansativo, mas ao mesmo tempo é bastante gratificante, me desliga um pouco do ambiente intelectualizado das atividades diurnas".

No dia-a-dia, Alex fala que tem total autonomia em relação ao horário em que trabalha. "O meu horário, eu que faço". Já que trabalha num ambiente um pouco mais, digamos, conservador, Alex fala um pouco de como é o seu relacionamento com as pessoas com as quais trabalha. "Todos sabem que eu danço na noite, e todos
me respeitam. São super curiosos, alguns querem saber como eu consigo dançar sem ter vergonha. Alguns casais de amigos heterossexuais já foram em baladas gays para me ver dançar e acabaram virando freqüentadores da casa".

Sobre os comentários no serviço, Alex revela: "Já comentaram que de terno não dá para perceber meus músculos. Algumas pessoas sabem que eu sou bem desencanado, tem gente que vem desabafar comigo, procurar conselhos, me dizer que é gay".

Depois de tudo isso, deu para perceber que a vida daquelas pessoas que fazem a nossa noite e nossa vida mais divertidas e especiais nem sempre é fácil. É como diz o velho ditado, o trabalho dignifica o homem, as bilus, os gays, as hostess, as performers…

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