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“Chávez não acredita na união entre pessoas do mesmo sexo”, diz transexual venezuelana

“Os três maiores meios de comunicação do governo não deram nenhuma noticia sobre a marcha do orgulho gay do ano passado, que reuniu cem mil pessoas em Caracas. A Agência Bolivariana de Noticias também não mencionou”. A fala acima é parte da explicação da ativista venezuelana Tamara Adrian, do grupo Diverlex, sobre o motivo de as mobilizações da militância gay daquele país não chegar ao conhecimento de outras nações.

Transexual e lésbica assumida, Tamara diz que não há relações do governo Chávez com a população gay local. A imprensa, que é 90% estatal, quase não debate a questão e o governo não atua na constituição de direitos gays. Na vida social, a ativista relata que ainda há perseguição e agressão policial.  Apesar disso, a militante diz que o governo Chávez tem ajudado no trabalho pela recuperação de gays e trans que vivem nas ruas e sofrem de vício com drogas.

A Parada Gay também foi assunto da entrevista. No ano passado, ativistas contaram com a ajuda dos governos locais, que são todos chavistas, na realização de suas manifestações. Este ano, segundo Tamara, o movimento LGBT da Venezuela irá realizar a décima edição da Marcha Gay. A transexual também festejou o número da Parada Gay de São Paulo, disse que gostaria de levar 3 milhões de pessoas para as ruas de Caracas, mas acredita "que no dia seguinte somos muito mais no armário”.

Como é a relação do governo Chávez com a população LGBT?
Do ponto de vista da relação social, houve algumas melhoras. No sentido de que hoje há apoio para a Marcha do orgulho LGBT pelos governos locais (todos os governos são chavistas, visto que a oposição se retirou das eleições dando a totalidade de poder ao partido de Chávez).  Há também uma ajuda do governo com pessoas gays em situação de rua, principalmente com as pessoas trans que tem problemas com drogas. Mas ainda há uma situação grave de agressão por parte da polícia local e da nacional contra as pessoas gays.

Há uma diferença entre uma e outra?
Sim. Há uma melhora gradativa (com a polícia). Há 15 anos havia uma agressão constante, havia uma supressão completa da cidadania. Mas, no ponto de vista a partir da garantia de direitos, não temos nada. Recentemente Hugo Chávez disse não acreditar na união entre pessoas do mesmo sexo, que não deve haver igualdade de direitos. Recentemente ele deu uma entrevista para uma televisão italiana onde defendeu a criminalização da homofobia, mas há uma distância entre o seu discurso e a ação. O congresso, que é 100% chavista, tem feito várias reformas, mas nenhuma para a comunidade gay: nada sobre discriminação, nada sobre o direito do nome social para pessoas transexuais, nada sobre os direitos para os casais homossexuais.

Na nova constituição venezuelana havia um artigo que criminalizava a homofobia. Ele é verdadeiro?
Esse artigo não foi aprovado. Havia outro artigo, que era o 77, que reconhecia os direitos dos casais gays, esse artigo nunca foi discutido, nunca se conseguiu uma aprovação por referendo. A nova constituição que Chávez tentou aprovar por meio de referendo e perdeu, não tinha nada sobre direitos LGBT. É frustrante.

Não se fala sobre homossexualidade no governo?
Não. Há uma pequena discussão na imprensa.

E no partido de Chávez (PSUV – Partido Socialista Único da Venezuela), há essa discussão?
Teoricamente. Há alguns grupos. Há um que se chama "Grupo dos direitos revolucionários" que supostamente tem tratado de levar essa discussão ao centro do partido. Mas no sentido de fazer, não há nada. Esse grupo é periférico e não tem nada a ver com a estrutura do partido que é impermeável. Há também uma presença muito grande dos evangélicos no partido e esse grupo torna difícil qualquer luta progressista.

Existe liberdade social para as homossexuais da Venezuela?
Desde os anos 90 há a existência de grandes clubes , mas hoje em dia, fora de Caracas, a vida dessa população continua muito difícil. Mas, mesmo em Caracas, vivemos num gueto.

Você é otimista com o futuro político LGBT na Venezuela?
Eu acredito que com o passar dos anos as coisas tendem a melhorar, assim como acontece em outros países. Apesar da grande deficiência que há no congresso. Não podemos esquecer que esses anos têm eleições no congresso e vamos reclamar candidatos e vamos cobrar desses candidatos que se posicionem favoravelmente aos nossos direitos. Isso provavelmente será muito difícil, pois a minha experiência mostra que os políticos da Venezuela têm muito temor de apoiar a agenda LGBT, pois eles temem que sejam tachados de gays e também não querem perder votos.

Há algum número sobre a quantidade de pessoas homossexuais na Venezuela?
Não, nunca foi feito um levantamento sobre isso. Mas, é estimado que 12% da população seja homossexual.

Chávez tem uma boa relação com Lula e o governo deste fez algumas ações favoráveis a comunidade LGBT. Acredita que essa relação possa ajudar?
Poderia ajudar se Lula dissesse ao Chávez para fazer algo. Essa relação entre eles poderia ajudar em muita coisa, mas até agora não ajudou em nada.

Qual é a relação do seu grupo (Diverlex) com o governo Chávez?
Há gente do grupo que é a favor e outros que são contra. Quando se trabalha com direitos humanos você não pode esperar um espectro político muito favorável, sobretudo na situação venezuelana.

Há alguma censura por parte do governo às ONGs que trabalham em prol dos direitos LGBT?
A censura é sutil. É sutil porque não aparecemos nos meios de comunicação oficiais do governo. Por exemplo: a marcha do orgulho gay do ano passado que reuniu cem mil pessoas em Caracas. Os três maiores meio de comunicação do governo não deram nenhuma notícia. A Agência Bolivariana de Noticias também não mencionou.

Quantas paradas gays já foram realizadas em Caracas? E a organização, é independente?
Estamos na nona edição, a primeira foi realizada em 2000. Sim, a organização é independe. Mas esse ano houve um choque. Uma organização  muito próxima de Chávez entrou na Marcha e colocaram inúmeras fotos dele. Diziam que "só a revolução é possível". Isso causou um grande mal estar, pois a maioria dos participantes são apolíticos, ou não estavam lá para falar de política e sim de direitos humanos.

A população gay da Venezuela gosta de Chávez?
Está completamente dividida. Não só os homossexuais, a população venezuelana está totalmente dividida. Há uns 23% que estão com Chávez, há uns 30% que estão contra ele e o resto que não sabe.

O que você acha da Parada Gay de São Paulo?
Três milhões de pessoas! Acredito que somos muitos no dia da Parada, mas somos mais no armário no dia seguinte.

Gostaria de ter 3 milhões de homossexuais nas ruas de Caracas?
Com certeza.

Há muita gente que critica a Parada Gay. Dizem que ela perdeu o sentido e que é apenas festa. O que você acha?
É uma questão de visibilidade, de força política, é mostrar que se está e que se requerem direitos. Sem essa visibilidade não se consegue praticamente nada.

Você considera o governo Chávez de esquerda?
Ele pensa que é, mas não é.

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