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“Chega de implorar atenção dos vereadores”, diz Deco Ribeiro, candidato gay em Campinas

Fundador de um dos grupos mais atuante no que diz respeito à juventude LGBT, o E-Jovem, Deco Ribeiro depois de muitos anos de militância ativista e partidária resolveu sair candidato a vererador. Entre os motivos para tal decisão, ele diz que cansou de "ficar implorando atenção dos vereadores" que em época de eleição prometiam apoio e depois diziam "vou ver o que posso fazer".

O tema de sua campanha é "Uma cidade mais humana". Para isso, Deco acredita que pessoas não podem ficar mais de 26 horas em uma fila de hospital, não pode mais haver pessoas andando 20 km a pé e também não pode haver mais jovens gays que abandonam as escolas por conta de preconceito. Confira a entrevista na íntegra a seguir.

Gostaria que você falasse do seu trabalho com o E-jovem em Campinas.
O E-Jovem surgiu em 2001, como um site de apoio a adolescentes e jovens gays. Por acaso começou em Campinas, mas logo foi acessado por meninos e meninas de todo o país. Quando resolvemos sair da internet e virar uma ONG, foi natural que surgisse uma rede nacional de juventude LGBT. Nesses sete anos, eu me preocupei em estabelecer as fundações desse grupo, de forma que a idéia não se perdesse e, principalmente, os próprios jovens pudessem levar o projeto adiante. É isso que está acontecendo agora, com uma nova diretoria eleita somente entre os jovens do grupo. Pra mim, já é uma vitória. Outra vitória são os acessos ao site: mais de 30 mil jovens procuram o site todo mês.

Por que decidiu sair candidato a vereador? E por qual partido?
Decidi me candidatar porque chega de ficar implorando atenção aos vereadores. Chega de vereador que nos recebe pra ganhar voto e depois diz que "vai ver o que pode fazer". Eu tenho idéias específicas para combater o preconceito e a discriminação em Campinas e quero um vereador que se dedique a elas, resolvi enfrentar o desafio. Escolhi o PCdoB porque foi um partido que entendeu ser impossível falar do fim da opressão sem falar também da libertação dos gays. O PCdoB, como muitos militantes gays, é um partido que luta por uma utopia, por uma sociedade nova, sem os vícios desta em que vivemos. A forma como a sociedade existe e funciona hoje está errada. Os gays sabem disso há muito tempo. O PCdoB também. E juntos vamos construir essa nova sociedade. 

Quais as suas propostas? 
O tema da minha campanha é "Uma cidade mais humana". Uma cidade mais humana não pode ter gente esperando 26 horas numa fila de pronto-socorro; não pode ter meninos largando a escola porque sofrem discriminação lá dentro; não pode aceitar gente andando 20km a pé, do bairro até o centro, porque não tem 2 reais pra pagar o ônibus. Então a idéia não é sair fazendo coisas, mas humanizar o que já existe.
– Melhorar o atendimento nos postos de saúde – e isso inclui atender bem a população GLBT, especialmente adolescentes e travestis, os mais discriminados.
– Discutir a diversidade sexual na escola e lutar por um ensino sem preconceitos e sem machismo.
– Lutar pela ampliação da gratuidade no transporte – não só para estudantes, mas também à população de baixa renda.
Essas são algumas das nossas propostas. 

A sua plataforma política será essencialmente LGBT? 
Terá uma visão essencialmente LGBT. Eu vou lutar pelos interesses dos gays dentro da Câmara e, quando se tratar de interesses mais amplos, vou fazer questão de levar o olhar gay à discussão. E o que é o olhar gay? É o olhar de quem é oprimido, de quem sabe o que é ser uma minoria, de quem tem consciência de que vivemos num mundo dominado por elites poderosas e influentes. E que toda a população, não só os gays, têm que lutar contra essa dominação.

Você esteve nas Conferências Estadual e Nacional LGBT. O que você tirou de lá que poderá aplicar em um eventual mandato? 
Ah, muita coisa. Todo o trabalho de preparação dessas conferências envolveu muita discussão sobre os problemas locais. Isso tudo agora me permite sair na frente, por já conhecer profundamente os interesses do meu eleitorado. Não esquecendo que as conferências existem justamente para criar e discutir políticas públicas – exatamente o trabalho do vereador.

Como o seu mandato pode trabalhar no combate a homofobia? 
Com relação à homofobia, vou focar meu trabalho nas escolas, no combate à violência e na melhoria do trabalho que o município já faz pelos LGBTs. Vou trabalhar por uma escola menos homofóbica, por um mapeamento e melhor policiamento dos espaços gays  – com policiais capacitados para a diversidade sexual (essas duas demandas surgiram na Conferência Nacional da Juventude LGBT, organizada em março pelo E-JOVEM). Vou lutar por mais recursos para o nosso Centro de Referência, para a Parada e para os outros eventos LGBTs ao longo do ano.

Além das questões LGBTs, em quais áreas você pretende atuar enquanto vereador?
Pretendo trabalhar na defesa dos direitos das crianças e adolescentes em geral, na saúde e na educação, principalmente. Mas tenho um projeto muito interessante, que já citei, na área de transportes: acesso gratuito aos ônibus, não só para estudantes (além de idosos), mas também para a população de baixa renda. Já estou elaborando um projeto que prevê recursos do IPVA para isso.

O seu trabalho está fortemente ligado a juventude. De que maneira pensa em construir um mandato que possa atuar de maneira efetiva com este seguimento?
Indo onde a juventude está. Na escola, nas ruas, dentro de casa… Já falei sobre meu trabalho nas escolas e, nas ruas – onde o jovem fica mais vulnerável e sofre mais violência (segundo dados do Centro de Referência LGBT) -, a idéia é ampliar a segurança, além de lutar por espaços mais saudáveis de convivência. Dentro de casa é onde a coisa pega, mas a idéia é trabalharmos junto a programas já existentes – como os Centros de Referência de Assistência Social, o Conselho Tutelar e o Programa Saúde da Família – para formar esses profissionais para o trabalho com a diversidade. Um trabalho de humanização, como já disse.

Você está apoiando algum candidato à prefeitura de Campinas?
Estou apoiando o atual prefeito, Dr. Hélio, que não só é de um partido aliado como sempre deu muito apoio não só a causa LGBT mas a todos os que mais precisam. É só andar na periferia e ver que só dá Hélio – ele fez em 4 anos o que prometiam e não faziam a mais de 40. E eu nunca vi um prefeito hasteando a bandeira gay ao som do hino nacional, você já viu? O Hélio já fez isso em eventos nossos, nem era ano eleitoral. Ganhou meu voto ali. 

Pra finalizar, gostaria que você deixasse uma mensagem para o leitor e dissesse por que votar em Deco.
Você já viu um veredor gay? Só vejo que gay não pode casar, não pode falar que é gay em entrevista de emprego, gay não pode nem beijar em novela. E enquanto a sociedade não nos enxergar em TODOS os cantos, ela nunca vai nos respeitar. Eu sou gay e quero mudar isso. Mostrar que a gente pode sim.

Ralph Rosario na The Week

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