Conceitos variam de pessoa para pessoa. Quando disse para minha vó que iria assistir ao novo filme do Zé do Caixão ela não segurou o comentário de que seria perda de tempo e jogar dinheiro fora.
Pelo visto, não é o que pensam os cinéfilos de plantão. O filme a Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, será exibido no festival de cinema de Veneza, na categoria hors concours e está com cinco estrelas, na avaliação da Folha. Só para comparação: Jogos Mortais teve uma bolinha, indicando que o filme era "ruim". Isso porque Jogos faz pular da cadeira em muitas cenas.
Conceitos, pré-conceitos e avaliações erradas à parte, uma coisa não se pode negar sobre Encarnação: ele não assusta. Como bom thriller que é, o filme conta com "sessões de tortura", uns fantasmas que atormentam o Zé do Caixão, umas mortes e até umas cenas de sexo, banhadas a muito sangue, diga-se. Mas nada disso é forte, pelo contrário. Qualquer visita a um site de body modifications causa mais aflição. E se você for um "freak", em nada vai se surpreender com a perfuração com anzóis de suspensão e com as imagens de lip sewing (técnica de costura labial).
Com seu tom de voz e sua maneira "diabólica" de falar, o personagem acaba se tornando muito caricato. Um boteco na periferia paulistana não combina com o clima de terror, mas dá ao personagem um status de cult, ainda mais com figurinos de Alexandre Herchcovitch. Embora, não dê para negar: às vezes Zé do Caixão, assim como seus seguidores, parece aqueles incompreendidos adolescentes jogadores de RPG, que acreditam, de verdade, viverem num mundo medieval, cercado de fadas, bruxas, magos e arqueiros.
História
Encarnação do Demônio fecha a trilogia de Zé do Caixão, iniciada com o longa À Meia-Noite Levarei sua Alma, de 1964 e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, de 1967. No filme, o coveiro do mal sai da prisão, após 40 anos. O personagem volta às ruas e continua sua missão – a busca da mulher ideal pra gerar seu filho perfeito – com a mesma obsessão que o fez ser preso. Matando todos que cruzarem seu caminho.