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Chupa, viado! Quando o preconceito entra em campo

"Amoooorrr!!! Tem sessão às 16h, 18h30 e 20h", gritava eu para o meu namorado que estava tomando banho. Ele e eu estávamos planejando ir ao cinema assistir aquele desenho – Rio -, em 3D, claro… Decidimos ir na sessão das 20h. O filme é divertidinho, super colorido, bonito visualmente. A história é o mesmo clichê de sempre: uma aventura mamão com açúcar e um romance que sempre termina bem. Aliás, quero falar deste discurso heteronormativo que é passado nos desenhos infantis… Enfim…
 
Estava eu, então, entre a busca da melhor sala e o melhor horário para o nosso programinha de final de domingo e a produção do meu texto para o blog, o que publiquei na segunda agora. Clicava entre uma janela e outra, tranquilamente, quando ouço um vizinho gritando "CHUUUUUUUUPA, VIADO!!". Eu já logo pensei que era atraque e confusão. Mas não, quando fui ver, era apenas o vizinho comemorando o gol por conta do jogo de futebol que estava passando na televisão.
 
Eu não sou muito ligada em televisão, principalmente quando estão transmitindo partidas de futebol. Aliás, sinceramente não entendo como uma pessoa pode ficar noventa minutos em frente à TV assistindo um bando de macho correndo pra lá e pra cá atrás de uma bola. Enfim, gosto não se discute… No máximo, se lamenta!
 
"CHUUUUUUUUUUUUUUUUUUPA, SÃO PAULINO!!!" Mona… O grito da louca vizinha foi tão alto, mas tão alto, que eu dei um pulo da cadeira e até nosso filho (o gato de estimação) assustou.
 
Por trás desta pequena frase, aparentemente debochada e inofensiva, existe uma ideologia de machismo e de homofobia que são terríveis. Este "chupa, viado" quer dizer, na verdade, "Tá vendo, eu fiz o gol, sou melhor que você, então vem aqui e me chupa, porque você é menos capaz, é menos homem… E seu castigo é me chupar!!!". Afinal, na cabecinha bastante oca dos machões, chupar um pau é uma coisa humilhante… Ai, mona… Se eles soubessem! As comemorações depois do gol iam ser bem diferentes daquelas dancinhas ridículas que eles fazem… 
 
Esta questão de o futebol ser um palco de machismo e homofobia não é de hoje. Juízes sempre são vítimas xingados de viado, Ronaldo, o "fenômeno", sentiu na pele o poder desta homofobia depois do caso com as travestis. Richarlyson já está calejado com o tratamento que as torcidas (inclusive do seu próprio clube) dispensam a ele. Outro dia eu fiquei perplexa com um torcedor do São Paulo dizendo que o clube deveria mandar Richarlyson embora, pois os filhos dele eram chamados de gays por conta de serem são paulinos e por conta de ter um jogador gay no time. Eu mesma, no tempo de colégio, os meninos nunca me chamavam pra jogar futebol… Acabava jogando vôlei com as meninas.
 
O que mais me espanta, bee, é  que este preconceito é passado de geração em geração, desde muito cedo. Afinal, eu tinha 10 anos e já era tachado de gay sem nem saber o que era isso. Já sofria com o preconceito, sem nem mesmo saber o significado desta palavra. Nossa, quer ver eu ficar passada e o sangue pingar no desequilíbrio é quando alguém vem com o discurso de que o esporte agrega as pessoas… Tá… Agrega… Desde que você se enquadre no padrão da maioria dos jogadores, né?
 
A televisão do vizinho está no último volume. Escuto quando o comentarista diz "Apita o árbitro". Acabou o jogo. Ufa… Ninguém mais gritou. Mas juro, da próxima vez que gritarem o tal do "CHUUUUUPA VIADO!!", eu juro que vou responder: "Eu chupo, desde que seja maior que o meu, limpinho e cheirosinho… Senão, você vai saber do que um viado é capaz!!!"

Ai… Momento cartão vermelho para a homofobia e o machismo em campo.
 
Tá dado o recado. Beijo, beijo, beijo… Fui…
 
Ah! O cinema com o namorado foi ótimo. Depois conto como perdi meio saco de pipoca e ganhei uma lagartixa e uma caneta gay!

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