Uma das notícias da semana passada para quem mora em São Paulo foi a reabertura do Cine Marabá. Localizado no centro, depois de dois anos de portas fechadas o cinema teve sua inauguração para convidados na última sexta e, no sábado, as salas estavam abertas para o grande público.
O fato foi festejado pela imprensa, que ressaltou muito a grandiosidade do empreendimento – cerca de R$ 8 milhões na restauração, obra do Ruy Othake, transformação de uma sala em cinco com balcão da sala principal, que é tombado, preservado.
O Cine Marabá me traz boas lembranças da adolescência. Assisti a uns filmes de terror trash lá – tipo Olhos Famintos 2 (oi?) e Freddy Vs Jason – quando era mais moleque. O que eu gostava muito é que a entrada custava R$4 e a meia para estudante era R$2. Coisa de gente dura, hahaha.
Sobre a reabertura do Marabá, o que quase ninguém fala é do entorno do local. O centro da cidade e a região da República estão meio caídos.
Sem jogar para baixo do tapete, como é comum as autoridades fazerem, essa questão da violência e degradação urbana precisa ser estudada, tratada e resolvida. Não adianta espirrar os meninos de rua da região pra outro lugar da cidade como se o problema fosse desaparecer num passe de mágicas. O principal é tratar do porque eles estão ali e fazer um trabalho intersetorial no governo com organizações sociais. Afinal, na boa, ninguém quer ir ao cinema e ser assaltado depois da sessão. Ou antes…
Outra coisinha que todo mundo ignorou até agora é que na frente do Marabá, além do McDonald’s, tem o Cine República. Um cinema pornô onde rola pegação gay. Vamos combinar que a infraestrutura do primo pobre do Marabá não é das melhores. Conhecendo o nosso avançado progressista e nada conservador setor privado e a nossa super prefeitura, não será surpresa se logo menos a notícia de que a subprefeitura da Sé fechou o Cine República vir à tona…
A desculpa, claro, estado precário do local. O curioso, se isso acontecer, é só perceberem e "tomarem providência" depois da abertura do Marabá pela PlayArte, já que o cinemão está lá há um tempo, funcionando, mas meio caindo aos pedaços. Outra coisa curiosa nisso é que o República está em uma área que concentra os cinemões de pegação gay e agora começa a ser "invadida" pelas saunas. A Upgrade e a Thermas 484 inauguraram recentemente com pequena diferença de meses entre as duas aberturas.
A inda não fui conferir os locais. Aliás, pra ser franco, nunca fui a uma sauna. Já me aventurei, no entanto, nas profundezas escuras do Cine República e confesso que me diverti nas vezes que fui. Mas imagino que por serem novas e terem surgido num cenário pós-269, sejam ambientes mais limpos e mais bem cuidados, do que a imagem precária normalmente associada aos locais de sexo gay.
O que eu to querendo dizer com tudo isso? O seguinte: os empresários que administram cinemões precisam se atualizar, fazer parcerias, estratégias e melhorarem a infraestrutura dos estabelecimentos. Não é necessário fazer uma "The Week" do cinemão, mas aprimorar a qualidade e higiene desses lugares é essencial para se manter no mercado, ainda mais diante de uma onda moralista que anda assolando a povo todo por aí. A menos que não se importem mesmo com o futuro dos negócios e com o que representam essas espaços de interação dentro da lógica da cidade.