Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in

Classificar o Inclassificável

Eu te amo. Frase perfeita, que todas nós desejamos ouvir e dizer – e quantas vezes já não ouvimos e dissemos? Simples, aparentemente não mostra nenhuma ambiguidade. Será?

Todas vivemos em sociedade. Numa sociedade construída por homens, onde tudo deve ser racional, objetivo, classificado. E nesta sociedade simplesmente não aprendemos a (re)conhecer e falar sobre sensações, sentimentos, intuição. O que não é passível de ser explicado, posto em palavras claras, identificado é ignorado ou simplesmente não existe. Infelizmente. O lado emocional, fluido e feminino da humanidade foi reprimido e o racional, rígido e masculino é supervalorizado. Agora estamos vendo no que isso resultou.

Nesta sociedade, qualquer sensação ou sentimento deve ser analisado minuciosamente e classificado dentre as (poucas) opções possíveis. Ao dizermos “Eu te amo” a pergunta que se segue é imediata (mesmo que não expressa): “Que tipo de amor você me tem?”. Então, desesperadas, buscamos algum tipo de filtro para classificar o amor e, ainda mais, sua intensidade. Mas as respostas que damos são clichês, que aceitamos por serem os padrões classificatórios, esquecendo-nos de que existem tantas variedades de amor quanto as possíveis combinações entre seres humanos – infinitas.

Além de classificar sentimentos nossa sociedade exige que classifiquemos relações. Entretanto, nem sempre as relações que estabelecemos com as pessoas podem ser classificadas do jeito que a sociedade nomeia e exige. Namoro? Casamento? Amizade? Tesão? Quem fala o que é o que? Onde acaba um e termina o outro? É uma mania cartesiana racionalizar o que sentimos e isso nos traz muitos problemas. Muitas vezes não precisamos ENTENDER o que sentimos, mas sim aceitar e perceber os sentimentos e emoções, e saber que eles mudam e são fluidos. Quantas sessões de terapia não seriam poupadas se tivéssemos mais consciência disso…

Claro que nesta percepção temos que aprender que é válido ou não; o que nos faz bem ou não. Mas esta decisão deve ser tomada pelo impacto daquele sentimento ou relação em nós, e não porque racionalizamos ou classificamos aquilo segundo vontades e expectativas externas. “Ah, mas vocês estão namorando, ficando, transando, o que é?”. Que importa? Classificar e racionalizar ou sentir e viver, conversando com sinceridade com a outra quais as expectativas daquilo que está sendo vivido? Ajustes sempre são necessários, e então, caso a relação provoque dor e sofrimento, aí sim a razão deve entrar para dar um basta a aquilo que nos machuca.

Viver desta forma exige certa quantidade de coragem e de espírito revolucionário, já que muitas pessoas não ENTENDERÃO… Mas, utilizando uma frase da fantástica Clarice Lispector: “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

Sair da versão mobile