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Claudia Wonder: Confira trajetória, vida e obra da diva do underground

Nesta sexta-feira 26 de novembro, partiu Claudia Wonder. Uma das figuras mais importantes da cena gay brasileira, ela deixa um legado artístico e social que fará escola.

Nascida Marco Antônio Abrão em 1955, já na infância e adolescência ela manifestava pendência para o lado da persona feminina. Após a entrada na vida adulta, transformou-se na travesti que, no início dos anos 70, ganharia a alcunha de Claudia Wonder.

Ao longo da década de 70, Claudia passou a fazer shows em casas noturnas gays paulistanas, em espetáculos típicos do chamado "transformismo" que vigorava na época. Ela foi também introduzindo as modificações em seu corpo, a caminho de criar a imagem feminina defintiva.

Também nesta década, começa a participação de Claudia no cinema nacional. Fez pontas em filmes como "O Marginal" (1974), de Carlos Manga, e passou a aparecer em pornochanchadas famosas do período, como "A Mulata que Queria Pecar" (1977), de Victor DiMello.

Já no início dos 80, a pornochanchada saía de cena, dando lugar a filmes "cabeça" com cenas de sexo explícito. Claudia fez sua contribuição ao gênero atuando em "Sexo dos Anormais" (1984) e "Sexo Livre" (1985), ambos dirigidos por Alfredo Sternheim.

Mas o grande tour-de-force de Claudia na década de 80 não seria no cinema, e sim na música. À frente da banda de rock Jardim das Delícias, ela transformou-se em algo inédito no Brasil: um travesti liderando um grupo de rock. Com o show "Vômito do Mito", a banda se apresentava na casa undergound Madame Satã, incluindo a performance histórica em que Claudia, nua e com uma cabeça de cavalo, entrava em uma banheira de groselha e atirava o líquido na plateia, simbolizando o sangue do HIV que explodia com a terrível Aids, no auge da epidemia.

Dali para frente, Claudia tornou-se diva do underground oitentista e passou a atuar em espetáculos teatrais de vanguarda, junto ao Teatro Oficina e outras companhias. Ficou famosa sua participação em "O Homem e o Cavalo" (1983), com direção de José Antônio Martinez Corrêa.

Nos anos 90, Claudia se exilou na Europa, e retornou ao Brasil no final da década, para reassumir seu posto de diva alternativa paulistana. Atuou no curta-metragem "A Cama do Tesão" (2000), de Lufe Steffen, e no longa "Carandiru" (2003), de Hector Babenco.

Na década de 2000, Claudia passou a produzir freneticamente, parecendo correr contra o tempo. Retomou sua carreira musical e lançou o CD "Funky Disco Fashion" em 2007, que trazia pérolas da noite, como "Atendimento", que virou hit e gíria.

Em meio aos shows de divulgação do álbum, ela ainda encontrou tempo para publicar o livro "Olhares de Claudia Wonder – Crônicas e Outras Histórias", lançado pelas Edições GLS, e também desenvolveu intenso trabalho como militante e ativista. Claudia trabalhou no Grupo de Estudos Identidade de Gênero Flor do Asfalto, participou da produção do Casarão Brasil e trabalhou no Centro de Referência da Diversidade.

Sempre lutando por maior visibilidade LGBT e pela destruição dos rótulos – ela própria se dizia travesti apenas porque lhe cobravam uma definição, mas afirmava ser "o homem e a mulher ao mesmo tempo" -, Claudia manteve-se perseverante e desafiadora, independente da mídia em que atuasse.

A coroação máxima de sua carreira foi o filme "Meu Amigo Claudia", documentário do cineasta Dácio Pinheiro. O filme, lançado em 2009, conta em imagens, trechos de filmes e shows, e depoimentos da própria Claudia, de amigos e personalidades, toda essa impressionante trajetória de Claudia.

Através de uma vertiginosa e fascinante colagem, o filme relaciona a obra de Claudia à vida político-social do Brasil, mostrando a força e a importância de sua presença. "Meu Amigo Claudia" recebeu diversos prêmios, inclusive fora do Brasil.

E o sucesso do documentário acabou sendo o grande fechamento de sua carreira. Inesperadamente, Claudia se despediu de cena aos 55 anos. Sua morte na manhã de 26 de novembro, em São Paulo – em decorrência da doença criptococose – chocou amigos, fãs e personalidades da cena LGBT brasileira.

Fica a lembrança e o respeito a uma personalidade, artista e pessoa que deu lições de coragem e persistência, e tinha muito ainda para oferecer ao seu público e à sociedade. Hoje o universo LGBT fica mais triste. Em tempos de obscurantismo e perseguição aos gays, que a estrela de Claudia Wonder possa brilhar e servir de luz e guia para as futuras gerações.

Confira a galeria de fotos a seguir, e o vídeo com uma das últimas aparições televisivas de Claudia, durante o programa "Bola Dentro", produzido pela TV A CAPA na Copa do Mundo 2010.

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