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Coluna desta semana debate livro sobre 10 anos de parada

Não tem nem o que discutir, o livro Parada – 10 anos do Orgulho GLBT em SP é incrível. Os textos são narrativas emocionantes e relatos de quem vivenciou e acompanhou de perto a evolução desses dez anos de manifestação.

Quem escreveu são pessoas de todas as áreas. O time é de primeira: João Silvério Trevisan, Vange Leonel, Sergio Gardenghi Suiama, Zezé Brandão, Anna Paula Vencato, Fernando Bonassi, Claudia Assef, Ferdinando Martins, Sérgio Mamberti e Sérgio Carrara.

Vale ressaltar que nem todos são gays. A edição é bilíngüe, com textos traduzidos para o inglês. Há também uma entrevista com Silvetty Montill, apresentadora oficial do trio da parada.

Tenho um carinho especial por este livro e pela importância que ele tem. Parabéns ao pessoal da Associação pela iniciativa em editá-lo.

Abaixo transcrevo pequenos trechos de alguns dos textos que mais gosto.

“Acompanhei a Parada GLBT de São Paulo antes mesmo dela nascer, quando participei da famosa passeata contra o delegado homofóbico Richetti, em 13 de junho de 1980 — que foi a primeira manifestação pública pelos direitos homossexuais neste país. Depois, estive presente desde a tentativa inicial de retomada dessas manifestações, em 1995, quando um caminhãozinho e uma caixa de som quase inaudível precisaram estacionar na Praça Roosevelt, fugindo da chuva que frustrou nosso ato de protesto.”
João Silvério Trevisan – A parada do nosso amor continua

“Era início da década de 80. Eu e minha namorada havíamos acabado de participar de uma reunião do LF (grupo Lésbico Feminista) para definir a pauta de um fanzine que iríamos publicar. Saímos da sede do grupo na rua Aurora e caminhamos até o Largo do Arouche, de mãos dadas. Assim que atravessamos o Largo, sem premeditar ou pensar nas conseqüências, nos beijamos na calçada.

Como surgisse do nada, de repente uma viatura da polícia estacionou bruscamente bem ali ao nosso lado. No susto, nos separamos. Dois policiais saltaram do carro, bravos, e nos pediram documentos. Enquanto procurávamos nossas carteiras eles nos ameaçavam, dizendo que iriam nos prender por atentado ao pudor. Não tínhamos por que não acreditar na ameaça. Poucas semanas antes, amigas nossas foram levadas do Ferro´s Bar para uma delegacia, onde passaram a noite detidas. Poderíamos ser as próximas.

Por sorte, os policiais se impressionaram com a carteira de funcionária do Fórum que minha namorada apresentou e nos deixaram ir embora. Incrível. O emblema da Justiça teve o efeito da estrela de xerife dos filmes de faroeste.”
Vange Leonel – O beijo conquistado

“Confesso que eu, particularmente, não gosto de trabalhar no dia da parada. O corre-corre é tão grande que perco o melhor da festa. Não dá para me jogar no meio da multidão e, nos últimos anos, vejo o muito que perdi da festa pelos meios de comunicação, quando chego em casa, com os pés latejando depois de ter andado a Paulista e a Consolação mais de vinte vezes em um único dia. Felizmente, material não falta para meu deleite e informação.”
Ferdinando Martins – Jornalismo sob a bandeira do arco-íris

“Somos todos esses veados acuados por partidos, por Igrejas e pelo Estado, escondidos em escritórios esquecidos, documentos ensebados e vestiários aquecidos e suados, proliferando a dupla identidade contida nos quereres mais profundos desta vida. Somos esse bando de veados escrachados, inescrupulosamente afetados ou luxuosamente paramentados para dar e para receber…
Somos pobres viciados nas virtudes do prazer!”
Fernando Bonassi – Somos todos veados

“E já se viu em São Paulo um momento de celebração de massa mais juntador de tribos? Ao longo destes anos, esta que se tornou a maior celebração do orgulho gay do mundo deixou mudanças profundas e marcantes no povo de Sampa. Nem os taxistas, classe tradicionalmente detentora de opiniões bastante “reaças”, ousam demonstrar preconceito mesmo quando assistem a belos bigodudos aos beijos nas cercanias da Praça da República. Afinal, eles sabem, hoje em dia pegaria muito mal ter preconceito.”
Claudia Assef – Um ode à liberdade de expressão, das velhinhas ao Depeche Mode

A publicação pode ser adquirida na APOGLBT, entre em contato através do email paradasp@paradasp.org.br

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