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“Com peruca ou sem, estar lá é o que importa”, diz Kaká Di Polly candidata a vereadora de SP

A drag Kaká Di Polly já é figura da noite paulistana há mais de 30 anos. Seus shows são um ato político, sempre com uma mensagem diferente. Durante o dia, Kaká trabalha como psicólogo e já atendeu pessoas que se descobriram portadores de HIV, como voluntário em ONGs durante 5 anos.

Quando tinha uma loja, fazia dela abrigo para gays que precisassem de apoio. Polêmico, decidiu se candidatar a vereador por São Paulo. Em entrevista ao A Capa,  Kaká (PTN) falou sobre a comunidade gay, o fato de se considerar a madrinha de honra da Parada Gay e sobre suas propostas.

Por que você decidiu se candidatar?
É minha primeira eleição. Eu nunca gostei de política, mas a Kaká é há muitos anos um ato político. Não tenho esperança de ganhar, mas vale pela atitude.

Como você vê a comunidade gay?
Acho que o público LGBT não tem cabeça, não tem união e não dá apoio em nada disso. Eles estão preocupados com qual é a festa ou o fervo da semana. Agora, quando vai ter um ato político, que precise da participação deles, não aparecem. Se fôssemos unidos, poderíamos colocar lá dentro da Câmara 6 ou 7 vereadores e teríamos que ser muito respeitados, muito bajulados. É o que acontece com os evangélicos, porque eles são unidos. Nós não sabemos o poder que temos. O gay faz piada de tudo, até da própria discriminação. Eu gosto da Silvetty Montilla, eu não gosto da atitude discriminatória que surge dos palcos. Depois do show vira tudo "Nhaí", vira tudo "Meu cu". Dos 3 milhões que participam da Parada, 2,5 milhões são gays ou simpatizantes. Com todos esses votos daria para eleger um presidente da república.

Você concorda com o Léo Áquila quando diz que drag é um palhaço feminino?
Nós somos palhaços. Mas, por trás desse personagem, existe um ser humano e atuante, um cidadão. E, apesar de estarmos usando a personagem para conseguir votos, é isso que a gente está tentando mostrar. É isso que a gente quer que seja votado.

Você já sofreu preconceito por ser drag?
Já, mas sempre venci tudo no grito, sempre dei a cara à tapa. Como o Léo Aquila, como todas as drags fazem. Não nos deixamos abater por isso.

Você se considera a madrinha de honra da Parada gay de São Paulo?
Na primeira Parada, Roberto de Jesus começou a chorar e me disse: "Kaká, não vão deixar a Parada sair, vai ficar aqui só como manifestação" e eu disse: "vai sair sim". Fingi que tive um ataque cardíaco, fiquei caída na Paulista e os carros tiveram que parar, porque a polícia não tinha parado o trânsito. Quando Roberto viu, mandou o carro invadir a avenida e aí ela aconteceu. Eu mesmo me elejo a madrinha de honra da Parada Gay. Sou sim a madrinha de honra da Parada, porque naquele momento eu podia ter sido atropelada e podia ter sido presa quando me levantei para seguir o carro. Essas coisas não são respeitadas, não são lembradas. Só lembraram-se de mim este ano.

Quem lembrou?
A CADS, eles fizeram aquela homenagem linda para mim na Parada, pelos meus 30 anos de carreira, me deixando levar alguns convidados. Quando atitudes como essa forem tomadas, a gente vai conseguir fazer história. No nosso meio, nada vira história. Em 1964, os gays não podiam sair às ruas com a cara pintada que era espancado e ninguém se lembra deles.

O que vai fazer caso seja eleita?
Um vereador não pode dizer que vai fazer ou não. Se eu for eleita, existe um documento público criado em cartório, onde eu dôo 50% do meu salário para que seja direcionado a uma instituição que vai ser criada, uma espécie de casa apoiadora. Essa casa ainda não existe, vai ser alugado um espaço e ali vão ser realizados cursos, terá um psicólogo, um assistente social e um médico. Essa casa vai receber o nome da minha mãe e vai se tornar aos poucos um espaço de convivência para todos os tipos de LGBTs, pessoas com AIDS ou até gays com mais de 60 anos.

Você acha que metade do salário de vereador daria conta disso?
Eu não sei nem quanto ganha um vereador e não sei nem quanto é para alugar esse lugar.

Fale mais de seus projetos…
Também vou montar um sindicato para os artistas da noite, pra que essas pessoas possam ter uma aposentadoria no futuro. Porque ninguém faz sucesso para sempre. Um dia ninguém vai querer ouvir o "Nhaí" da Silvetty, porque os shows estão acabando dentro das boates mais modernas. Quero legalizar a profissão de drag, para que elas tenham carteira assinada. Hoje em dia os funcionários não têm vínculo empregatício com a casa. Antigamente era assim, todos eram registrados.  Tenho um outro projeto que é para que os donos de boate não fiquem com tanta raiva de mim. Que é criar um incentivo para que as boates cedam seu espaço durante o dia e eles sejam usados para manter cursos de formação como curso de DJ, de bailarino, de maquiagem. Quero também fazer o museu da memória gay e uma semana cultural. Eu quero tirar as pessoas da rua. Não é difícil, já fiz isso sozinho, imagine se eu estiver lá dentro?

Por que você não vai disputar a eleição montado?
Por que independe se é o Kaká ou a Kaká. Com, ou sem peruca, o fato de eu estar ali é o que importa. Na propaganda, estou desmontado. Mas estou com uma sobrancelha que está na esquina, estou de brinco, o corpo é sempre o mesmo, não muda, a cara toda feita na base e o gloss na boca. Então estou como ando à noite.

O que você acha da Salette Campari se candidatar montada?
Eu acho corajosa a atitude da Salette de sair montada. É uma atitude e a gente tem que entender.

Você apóia algum candidato à prefeitura?
Meu partido apóia a Marta, que eu adoro, acho uma pessoa maravilhosa. Ela tem um ouvido de mãe para a nossa comunidade. Eu lembro dela numa situação muito política. Quando assassinaram um jovem na Praça da República, ela estava lá, muito emocionada. Estava num papel de mulher que via um filho assassinado.

Os candidatos LGBTs estão unidos?
Eu estou. Acho que todos nós podemos ser eleitos. Se eu tivesse cinco votos, eu votaria cinco vezes. Votaria em mim, na Salette, na Léo, na Jacque Chanel e no Marcos Fernandes.

Por que você deve ser eleito?
Porque vou estar lá. Vou colocar mais uma vez minha cara à tapa. Eu vou estar lá com coragem para brigar. Vou estar lá com interesse de fazer com que a minha comunidade seja mais respeitada. Vou estar lá por você que está lendo. Por você que me apóia e também por você que não acredita em mim. Vou brigar pela condição de sermos livremente homossexuais.

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