Mais uma série gay se junta ao boom de produções com a mesma temática que devem estrear no país nos próximos meses. Lançada em setembro, "Apenas Heróis" é transmitida exclusivamente pela internet e já conta com três episódios – o quarto entra no ar no próximo sábado (30).
Com roteiro e direção de Daniel Sena, a websérie tem locações em Salvador e aborda os encontros e desencontros de Caio (Gleison Richelle) e Eduardo (Luiz Antonio Jr), que, que apesar de viverem na mesma cidade, nunca se viram e acabam se apaixonando. Na trama, temas polêmicos como bissexualidade e Aids se transformam em repertório para outros 21 atores, alguns deles estreantes na carreira artística.
A previsão é de que "Apenas Heróis" tenha 14 episódios nesta primeira temporada – uma segunda parte da trama já está prevista pelos produtores, apesar de a série não contar com quase nenhum recurso, apenas com o apoio da Faculdade da Cidade do Salvador, que emprestou os equipamentos para a filmagem.
Em entrevista ao site A Capa, o diretor da websérie, Daniel Sena, explica que não há intenção de levar o projeto para a televisão. "A ideia é justamente democratizar o acesso à história", diz o diretor, ciente do poder arrebatador da internet.
Como surgiu a ideia da série?
Quando terminei o curso de jornalismo, junto com um amigo, criamos um projeto chamado "Baianada Cultural", que seria uma plataforma virtual para exibição de vídeos, curtas e webséries produzidos por nós e com a participação de atores baianos. Com a Faculdade da Cidade apoiando a iniciativa, garimpamos o elenco e começamos a discutir as primeiras produções e, entre elas, achamos justo um roteiro voltado para o público LGBT, que pudesse mostrar questões relacionadas ao tema. Dai surgiu "Apenas Heróis", que ganhou esse título pelo fato de o homossexual ter que enfrentar todos os dias o inimigo do preconceito e das adversidades, tornando-o um herói num sentido amplo da palavra.
Você diz que o projeto é independente e sem recursos, como então conseguiu viabilizá-lo? Quanto custou o projeto?
Até o presente momento temos o apoio da Faculdade da Cidade do Salvador que nos fornece o equipamento para as filmagens e a ilha de edição. De resto, figurino, locações, maquiagem e outras despesas saem do meu bolso e da boa vontade dos atores e de pessoas que se envolveram ao longo do processo, que buscam recursos emprestados e doações neste sentido. Algumas locações foram liberadas para as gravações, como é o caso da boate Off Club e do restaurante Novo Vilage, na Barra, onde se passa a trama. O projeto não tem um custo fechado porque a cada gravação surgem novas necessidades, mas normalmente usamos de muita criatividade para suprir a falta de recursos. E agora com a série no ar, esperamos contar com algum apoio mais afetivo, caso não role, continuaremos nosso trabalho.
A princípio não. "Apenas Heróis" foi concebida para a internet e vamos seguir com esse intuito pelo menos nas duas temporadas que temos em vista. A ideia é justamente democratizar o acesso à história. Sabemos que a chance maior de uma produção desse tipo ir para a televisão é em um canal fechado e, mesmo assim, a negociação é muito complicada. Quando tivemos a ideia não queríamos passar por essa expectativa de fechar com alguma emissora e depender disso para exibi-la. A linguagem dela é para a internet e qualquer pessoa pode vê-la sem custos. Vamos ter 14 capítulos na primeira temporada e mais uma leva na segunda. Nossa evolução será a criação de um site, mas continuaremos com o blog, que foi a nossa primeira casa.
Quem são os atores envolvidos no projeto? Como lidaram com a temática homossexual?
Contamos com 23 atores fixos no elenco. A maioria recebeu convites para personagens específicos e são oriundos do teatro baiano. Antes, enviamos o roteiro e mostramos os objetivos da trama para cada um deles, sabendo que esse tipo de temática sempre desperta polêmicas e desafios. Mas tivemos uma resposta bem positiva, todos encaram o trabalho profissionalmente e estão felizes em contribuir com a causa. Para o elenco principal onde existem cenas de beijos, carícias e demais mais fortes, o cuidado foi ainda maior. O elenco também conta com atores que estão trabalhando pela primeira vez em frente às câmeras, mas temos um conjunto muito bom, acho que a união faz a diferença.
Que importância tem a série para a discussão da homossexualidade na mídia em geral?
A primeira coisa que não queríamos era ser uma séria didática, que ensinasse as pessoas a respeitarem os gays ou que fosse uma cartilha sobre os temas relacionados a essa área. Acredito que a nossa importância é justamente de ser leve num mundo onde esse tema é tão pesado. Estamos tratando de Aids, sexo casual, personagens bi, travestis, gays afeminados, mas também falamos de amor e temos muito humor. É uma novelinha, um produto que não tem a pretensão de revolucionar, mas "causa" justamente por isso. É uma série direcionada a um público, mas que pode ser assistida por qualquer outro, pois ela é real. O espaço dela é em Salvador, mas as relações são parecidas em qualquer lugar do mundo, a nossa maneira de contar é essa. Os diálogos, as ações, são cotidianas, as palavras chocam, porque é engraçado ver na tela brasileira. "Apenas Heróis" pode contribuir para que a mídia deixe de tratá-la como a primeira série brasileira gay exibida na internet para começar a questionar os seus temas. Quem sabe, outras produções vão substitui-las, assim como acontece nas novelas. O homossexualismo discutido aqui precisa antes de mais nada ser mais brasileiro, deixando de copiar as tendências de outros países.
:: Para assistir aos episódios de "Apenas Heróis", acesse www.apenasherois.blogspot.com.