O palco com microfones e cadeiras, copos com água e um auditório lotado lembravam as cenas do primeiro capítulo do livro de Fernando Figueiredo, ‘A Armadilha’. De acordo com o capítulo, os dois foram vítimas de uma emboscada criada por um programa de TV. Fernando e Laci, os primeiros soldados homossexuais a assumirem um romance publicamente, começariam a sofrer uma série de torturas, que ainda não acabaram.
Na noite de ontem (01/12), os soldados deram mais um passo na luta contra a homofobia nas Forças Armadas brasileiras com o lançamento do livro ‘Soldados não choram: A vida de um casal homossexual no Exército do Brasil’, que relata a vida do casal. O lançamento contou com a presença do senador Eduardo Suplicy.
Como previsto, por volta das 19h30 os participantes da mesa eram aplaudidos no andar superior da Fnac da Avenida Paulista. Entre eles, o jornalista da revista Época Rodrigo Rangel – autor da matéria sobre o casal que deu início a outros acontecimentos -, o senador Eduardo Suplicy, que mereceu um capítulo no livro por ter ajudado o casal quando Laci foi preso pela primeira vez; e o soldado e autor do depoimento, Fernando Figueiredo.
Atrasado, o escritor Roldão Arruda, que auxiliou Fernando na construção do livro, se juntaria a eles mais tarde. Na apresentação, cada um deles contou os detalhes que vivenciaram da história de superação e amor dos dois sargentos. "O engraçado é que a história começa quando a reportagem do Rodrigo termina", afirmou Roldão, antes que o debate fosse encerrado. Também estiveram presentes na noite de autógrafos, os advogados Ariel de Castro Alves e Francisco Lúcio França, membros do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), os primeiros a chegar na Rede TV! para ajudar o casal.
O primeiro a relatar um acontecimento marcante foi o jornalista Rangel. "Eu recebi um telefonema do Fernando contando sobre as ameaças que estava sofrendo, mas disse que só faria a matéria caso eles se assumissem". Depois foi a vez do senador Suplicy ter a palavra. "Não tenho idéia do que é tratado no livro, mas no que eu puder ajudar para garantir os direitos de vocês vou fazer", disse.
Durante todo o tempo, os olhos de Fernando estavam marejados. "Eu quero agradecer aos presentes na mesa, porque são pessoas como eles que fazem um Brasil melhor. Eles mostram a dignidade das pessoas", declarou emocionado. Laci, sentado em uma das cadeiras, parecia cansado. Em seguida, foi dada a abertura para que o público fizesse perguntas. A essa altura, centenas de curiosos se aglomeravam pelas portas.
Antes que a discussão chegasse ao fim, Fernando contou que seu companheiro, Laci, "ainda não podia dar declarações" e falou também sobre seus planos para o futuro. "Estou estudando com o Laci para fazermos uma ONG de apoio aos militares, são muitos casos de gays por lá", declarou.
Fernando e Laci, autografaram livro por livro. Em uma das vezes enquanto escrevia, Laci dissse que quem iria "escrever algo bonito para você é o Fernando, eu não sou muito bom com as palavras".
‘Soldados não choram: A vida de um casal homossexual no Exército do Brasil’
Editora Globo
Fernando Alcântara Figueiredo
Preço: R$ 26,90