Uma aluna defende, diante da banca de avaliação, que a escritora brasileira Cassandra Rios é mais ousada que Virginia Woolf e suas personagens frígidas. A cena, presente em “Como Esquecer”, da cineasta Malu de Martinho, é uma das que abre o longa dando o tom da obra. Um filme denso com alguma graça no subtexto geral da trama e comportamento dos personagens.
Nesta parte, Julia, a professora de literatura inglesa vivida por Ana Paula Arósio, desmaia. Acorda em seguida. O apagão é sintoma de seu drama pessoal. Esquecer uma pessoa e um relacionamento que acabou. A atriz aparece muitas vezes sem maquiagem na pele da personagem. Essa ausência de vaidade tem uma função muito clara na narrativa da obra. Torna palpável a dor da protagonista.
Julia mergulha fundo numa depressão com direito a sofá e guloseimas. Quem procura tirar a personagem deste estado é Hugo, interpretado por um impecável Murilo Rosa. Ao recusar a ajuda do amigo e mostrar-se sempre distante e fria, Julia aposta no drama para superar o pé na bunda. Quando ele sugere para a amiga deixar o apartamento em que viveu durante o relacionamento, a dupla encontra ao lado de Lisa (Natália Lage) um refúgio em Pedra de Mangaratiba, onde passam a morar.
Esta mudança é a grande catalisadora das melhoras – e pioras – de Julia. Ela flerta com a possibilidade da morte e toma atitudes extremas, mas, apesar disso, decide tocar a vida. É a partir deste momento que o filme ganha cenário e cenas mais coloridos e diálogos um pouco menos densos. Os personagens dividem o peso de cada uma de suas perdas, tornando mais palatável todo o sofrimento.
Quem está na pior situação é mesmo Julia. Que tem mais dificuldade de superar o fim do casamento. A chegada de Helena, prima de Lisa, artista plástica que mora na França, atenua um pouco esse quadro. Julia passa a se soltar mais, mesmo sendo ríspida em suas respostas e comentários.
Tirando a narrativa, destaca-se a atuação de todo o elenco. O filme vale pelo show de interpretação dos afiados atores e atrizes. A história se passa muito dentro dos personagens. Há um certo abuso das narrações em off, mas que não compromete o resultado final. Malu de Martinho ousa ao colocar Ana Paula Arósio numa cena de masturbação e de sexo.
E por último, mas não menos importante, para deleite dos rapazes o longa traz ainda uma cena de nu frontal do ator Pierre Baitelli, o que serve de argumento pra arrastar ao cinema aquele seu amigo gay.