MACHO, MACHO BAND
O icônico e divertido Village People fala com exclusividade sobre o início da banda, seus artistas favoritos e a invasão do grupo à cultura pop contemporânea
Um soldado, um índio, um caubói, um operário, um motoqueiro e um policial. Ícones da virilidade masculina, estes personagens sempre mexeram com o imaginário gay em todo mundo.
Tanto que, em 1977, o compositor francês Jacques Morali decidiu criar uma banda, voltada ao público LGBT, que tivesse estes cinco elementos acompanhados, claro, de muita música disco, ritmo dominante naquele momento. Assim nascia o Village People, banda norte-americana cujo nome faz uma referência ao bairro nova-iorquino Greenwich Village, conhecido pela substancial população gay, principalmente naqueles anos.
A fama começaria pelo eterno hit Macho Man, mas o reconhecimento mundial como um dos artistas mais importantes da era disco viria com o próximo hit, YMCA. A explosão do quinteto – formado originalmente por Victor Willis (policial), Felipe Rose (índio), Randy Jones (caubói), Glenn Hughes (motoqueiro), David Hodo (operário) e Alex Briley (soldado) – duraria até o início dos anos 80, quando influenciados pelo movimento new romantic da época, lançariam o álbum new wave, Reinassance, em 1981.
Em 1985, o Village People daria um tempo na carreira, para voltar com força total em 1987 e entrar para sempre nos anais da cultura pop contemporânea. Para coroar os anos de estrada e de diversão proporcionados aos seus fãs e público cativo, o grupo ganharia em 2008 a maior honraria que um artista pode receber: uma estrela na calçada da fama de Hollywood.
Alex Briley (foto), o soldado e um dos membros originais da banda, concedeu uma entrevista exclusiva para a revista A Capa, na qual fala sobre os primórdios e o futuro do projeto musical. Confira a seguir.
Você é um dos membros originais do grupo. Como foi o início da banda, quais são suas lembranças dos primeiros anos do Village People?
Foi de muito trabalho, muitos ensaios e provavelmente uma média de 4 dias por mês em casa. Fizemos muita TV, muita promoção para os discos, turnês… porque no começo gravávamos dois álbuns por ano e estávamos na estrada sempre! Para dar uma ideia, a cada single que lançávamos, viajávamos pelo mundo, por diferentes países, para promovê-lo.
O Village People foi inicialmente pensado como uma banda para o público gay, mas logo se tornou conhecido do grande público com sucessos como Macho Man e YMCA. Por que você acha que isso aconteceu?
Uma coisa que você tem que lembrar é que qualquer grupo durante a era disco, se seus produtores eram espertos, lançava suas músicas em boates gays. Os DJs tocavam os singles e, se a pista enchesse com todo mundo dançando, aquela música seria um hit. Todos os artistas daquela época faziam isso. Era a melhor forma de testar. E sentimos isso com Macho Man, com YMCA, era isso que nosso produtor fazia. Logo nossos álbuns foram bem e começamos a tocar sempre, seguir com a divulgação, e daí a coisa se tornou grande.
Que artistas da música marcaram a história da banda, com que músicos vocês se identificavam e trocavam experiências?
Um dos grupos com os quais mais trabalhamos foi KC & The Sunshine Band. Tocávamos juntos constantemente, nos encontrávamos pelos aeroportos e até dividíamos a atenção dos programas de TV e rádio. Desenvolvemos uma amizade com eles ao redor do mundo. Kool & The Gang foi outra banda com a qual tocamos e viajamos por muitos anos. Há outras, mas estas duas representam bastante para o Village People.
E música brasileira? Vocês conhecem ou gostam de algo? Como veem o país musicalmente?
Alguns dos integrantes são enormes fãs de música brasileira. Eu me lembro que, quando visitamos o país no passado, Frenéticas me chamou muito a atenção. E nos divertimos muito com elas quando as conhecemos. Outra artista que me lembro é Maria Creuza, gosto muito da música dela. Estávamos em um estúdio no Brasil e me lembro que vi uma foto dela em uma das paredes e perguntei quem era. Uma das pessoas no local me contou e perguntou se eu queria ouvir algo dela, e ganhei dois discos de vinil gravados por ela. Desde então, tenho tentado encontrar suas canções em CD, mas ainda não consegui encontrar. Mas se você perguntar aos outros membros do grupo, eles irão citar uma série de artistas brasileiros. A música do Brasil é linda, muito viva, cheia de energia, algo que apreciamos muito.
Alguma vez vocês já se sentiram desrespeitados ou vítimas de homofobia?
Na verdade, não, porque conseguimos juntar, em qualquer lugar que tocamos, um público misto. Você pode encontrar qualquer tipo de pessoa em nossas apresentações. Normalmente, nossa audiência é de gays, héteros e muitas famílias. São pessoas que vêm até nós por causa de nossa música. Somos muito sortudos de ter isso, de nunca termos sofrido nenhum tipo de problema dessa natureza.
Em 2008, a banda ganhou uma estrela na Calçada da Fama, mais de três décadas após seu sucesso inicial. Como foi esta experiência?
Isso foi uma honra enorme que tivemos o privilégio de receber. Eles decidiram que, após todos estes anos, era hora de recebermos essa estrela (risos). Foi uma grande honra, ficamos emocionados e gostamos demais de ter participado deste evento. Muitos de nossos amigos artistas receberam a honraria antes de nós, mas foi uma felicidade imensa, de qualquer forma.
Hoje, o Village People e suas canções fazem parte da cultura pop mundial. Como é isso dentro da história ou trajetória do grupo?
Isso é algo que nos surpreende. Sempre que escutamos uma de nossas músicas, seja em um clube ou no rádio, nos deixa feliz o fato de que ainda tocam nossas músicas e queiram nos ouvir. Nunca imaginamos que nossos hits iriam seguir tocando em 2011. Seja num programa de TV, uma paródia, num desenho animado ou numa propaganda, sempre que aparecemos seguimos sendo surpreendidos e apenas temos que agradecer. Obrigado!
Finalmente, quais os planos da banda para o futuro? O que vocês esperam fazer nos próximos anos?
Tomara que possamos continuar viajando pelo mundo e voltando outras vezes para o Brasil. Enquanto existir alguém que queira ouvir YMCA ou Macho Man, estaremos na estrada. Por último, gostaria de deixar registrado que estamos muito felizes de tocar no Brasil no fim do mês.
*Matéria originalmente publicada na edição nº45 da revista A Capa – Maio de 2011