Quem transita pelo universo underground seguramente conhece Daniel Peixoto. Um dia está loiro, montado e de salto alto. No outro, exibe cabelos pretos e sobe a Augusta de maneira tão discreta que só é percebido pelos seus fãs. E, sim, ele tem muitos.
O rapaz chama atenção não só pelo seu visual andrógino de parar a Paulista durante a sessão de fotos que você confere nestas páginas, mas por sua trajetória musical e de vida. Aos 25 anos, é pai de um garoto de cinco meses que leva seu nome e, apesar de não gostar de rótulos, é bissexual.
A paternidade entre gays, bissexuais e afins é um assunto polêmico. “Já começa logo com uma paulada”, soltou Peixoto na abertura da entrevista que transcorreu durante o ensaio. A frase foi tão espontânea como quando respondeu “cresci de salto alto” sobre a dificuldade de usar o calçado para esse ensaio. “Acho foda transformar moda, maquiagem e clube em arte”, pontua.
A inspiração para a paternidade veio da boa relação que sempre manteve com seu pai. Distante 2.800 quilômetros – ele morava no Ceará e o pai no Rio – sempre foi muito presente. O planejado era ser pai por volta dos 30 anos, mas Daniel agarrou a oportunidade cinco anos antes e “tem sido a melhor coisa até agora”, diz. “Fiquei lembrando que eu e meu pai éramos muito amigos porque tínhamos uma diferença pequena de idade [20 anos]”.
Sua vida “desregrada” não permitiu que ele assumisse a educação de seu filho, mas ele topou o desafio porque confia plenamente na sua amiga de longa data e mãe do aquariano Daniel Teixeira Peixoto Cordeiro de Farias, nascido em 30 de janeiro último. “Ela é uma mulher incrível e a forma que vou ter de educar infelizmente não é presente, vou dar referências”.
Em seu primeiro álbum, a música tema do filme Party Monster faz parte do repertório que aborda as drogas de uma maneira bem realista e influenciada pela noite em que transita. “Dizer que não tem é quase demagogia, não adianta fechar os olhos só porque você não participa daquilo. Minha postura com droga é muito clara, todo mundo faz o que quer da sua vida. Todo mundo que usa sabe dos malefícios e dos benefícios”.
Agora tem cantado sobre outras coisas. “Não porque virei um cara politicamente correto”, avisa. As novidades poderão ser conferidas em seu novo álbum, que não tem parceria com o Montage. Seu parceiro musical Leco Jucá voltou para Fortaleza e eles não tem se apresentado mais juntos. O amigo continua como produtor. No Porn, Data Base e Bad Shape estarão no próximo disco.
O novo trabalho sofreu influencia de São Paulo como megalópole tanto nas letras como nas produções artísticas do álbum. O lançamento está previsto para acontecer também no exterior. O moço já prepara apresentações em países como Bolívia, Chile, Uruguai, Argentina e Peru. Atravessar o Atlântico também está nos seus planos. “Fazendo o que eu faço eu tenho que ir pra Europa. Só não voltei por outros acontecimentos, meu filho foi um deles”.
Daniel ainda guarda muitas novidades para o lançamento do EP, novos shows e apresentações estão por vir, mas partes delas ainda não podem ser divulgadas por questões contratuais. “No segundo semestre o bicho vai pegar”, revela. Fica a dica!
*Matéria originalmente publicada na edição #24 da revista A Capa Especial Queer- Julho de 2009