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Conheça a história de mães que assumiram a homossexualidade de seus filhos

Existem mães, que mais do que aceitam, assumem a
sexualidade de seus filhos

Fátima*, 52, é secretária executiva e vive no Rio de Janeiro. Neusa, 58, é bancária aposentada e vive no bairro do Brooklin, em São Paulo. Além de serem mulheres da classe média, há mais coisas e histórias em comum. Ambas são mães de filhos gays.
Outra similaridade entre elas é que resolveram encarar a homossexualidade dos rebentos, entendê-la e assumi-la não como uma opção de vida e, sim, como mais uma característica, para dessa maneira voltar a viver harmoniosamente.
A descoberta

Tanto Fátima quanto Neusa relatam uma dor profunda e certa frustração quando passaram da desconfiança à certeza de que seus filhos eram gays. "Nunca vou me esquecer daquele dia, porque pra mim foi o mais doído de toda a minha vida.  Costumo dizer que foi mais doído do que a perda dos meus pais", conta Fátima, mãe de R., 27 anos.

Neusa, mãe de Francisco, 26, diz que no momento em que recebeu a notícia não levou a história adiante, mas o baque foi forte. "Eu estava dirigindo. Nessa época ele tinha 19 anos, e me falou: mãe, isso que você esta imaginando com a Juliana [melhor amiga] nunca vai acontecer, porque eu sou gay. Nessa hora, quase bati o carro", lembra.

Ambas relatam terem entrado em estado de choque ao ouvirem a notícia e resignaram-se. Fátima reconhece que quando descobriu a homossexualidade de R. constatou que pouco sabia de seu filho. "Meu filho estava com 23 anos e tinha se afastado muito de mim. Eu não conhecia os amigos, os lugares onde frequentava. Ele se afastou porque, como ele mesmo disse, foi a forma que encontrou de mentir menos para mim".

Neusa conta que achou melhor esperar chegarem em casa para continuar a conversar, julgou ser mais seguro por conta do teor da revelação. "No momento, não falei mais nenhuma palavra, voltei pra casa e, quando cheguei, mais protegida, dentro do meu lar, falei: me diz uma coisa, isso que você me falou é verdade?  É  uma fase?  Você está desconfiado?  O que é?", questionou.  Com medo, o filho de Neusa tentou "amenizar" sua orientação sexual.  "Ele me disse que era bissexual. Acha que pode? Quase todos falam isso pra deixar a mãe com uma esperança".

Dor e Compreensão
Fato é que mãe e pai não apenas amam os filhos, mas também idealizam este amor e projetam toda uma vida em cima da prole. Tais conceitos, no entanto, estão engendrados em costumes e valores que não trabalham com a questão homossexual. Esta é sempre posta como um desvio, como algo fora da norma, incomum, e muitas vezes à margem da sociedade. Sendo assim, é muito raro pais que não sofram com a descoberta da homossexualidade de seus filhos.

Neusa relata que, na época, pensava que teria de esconder o seu filho das pessoas, para não ter que dar satisfação. Ela conta ainda que mandou o filho à França estudar e que, por ela, "ele ficaria por lá". "Eu pensei:  disfarço. Ninguém precisa ficar sabendo de nada, uma vez por ano vou a Paris. A minha grande preocupação era ter que justificar aos outros". Em tempo, ela percebeu que não era esse o caminho. "Era tudo bobagem. Isso era coisa da minha cabeça e falta de informação". 

Nem sempre é assim. Muitas vezes o processo de entendimento envolve raiva e desprezo. "Entrei num luto profundo, fiquei de mal com Deus e com o mundo", conta com sinceridade Fátima, que revela ter passado noites em claro chorando. "Foi um processo muito difícil e doloroso.  O meu filho querido, inteligente, estudioso, honesto e com um bom caráter, não podia ser aquilo.  Entrei num processo de raiva, tristeza, estranhamento, imensa dor e culpa", relata. 

Como essas mães conseguiram superar tamanha dor e estranhamento? Neusa foi buscar tratamento terapêutico, pois percebeu que não se tratava de uma doença e que o problema poderia estar com ela. "Eu falava que não queria ele namorando em casa. Aí fui pra terapia, fui segurando o tchan. Foi difícil vê-lo segurar a mão do namorado e dar beijinho. Mas comecei a entender que o preconceito era meu", orgulha-se.

Fátima sofreu, mas encontrou caminhos para superar tal dor. "Quando meu filho me falou que não havia escolhido ser gay, que havia tentado deixar esse sentimento de lado, pensando que poderia viver se enganando, a minha ficha caiu", lembra. A mãe foi buscar na internet informações sobre a homossexualidade e aí começou a compreender melhor a informação. "Foi quando encontrei o GPH (Grupo de Pais de Homossexuais) que me abriu portas, me esclareceu fatos importantes e me deu aconchego", conta.

Assumindo a Homossexualidade do Filho
Após frequentar sessões de terapia e os encontros promovidos pelo grupo, Neusa resolveu que não queria mais manter em segredo a homossexualidade do filho para a família e amigos. "Eu queria deixar claro para todos que eu sabia. Eu pago as minhas contas, o meu filho também. Na verdade é como falar: o seu filho tem olhos verdes, o meu tem azuis. É apenas uma característica", compara.

"Eu assumi a homossexualidade do meu filho perante a minha família, pois, para nós, era o que importava", conta Fátima sobre o processo de conviver publicamente com a orientação sexual de seu filho. Em relação à família, ela diz que todos "o aceitaram sem sombra de dúvidas". Sobre os amigos, revela que as coisas estão acontecendo de maneira natural. "Não vemos motivo para chegar e sair falando: olha, meu filho é gay!  Quando sabemos que ficam sabendo, agimos naturalmente", diz.

Fátima e Neusa também relatam a experiência de estarem em rodas de amigos ou em festas e escutarem piadas e comentários homofóbicos. "Era e continua sendo muito complicado, porque as pessoas têm uma ideia muito ruim sobre a homossexualidade", diz Fátima, que desenvolveu um ótimo mecanismo de defesa. "Geralmente, quando escuto alguém falando horrores sobre gays, pergunto sempre o que essa pessoa sabe sobre ser gay. É impressionante como param pra pensar e percebem que o que sabem não tem embasamento algum".
Neusa conta que é craque em rebater comentários homofóbicos. "Quando meus amigos vêm contar piada de gay, é assim: se contam uma, eu dou uma risadinha. Agora, se vem contar de novo, eu digo: escuta, por favor, você sabe que eu tenho filho gay e você está fazendo isso por que?". A mãe de Francisco ainda diz que proibiu piadas de gays em sua casa.  "É igual quando o meu irmão casou com uma portuguesa. Só se contava piada de português, aí pararam com essas piadas".

Conceitos Desconstruídos
A reportagem pergunta às mães como foi romper com paradigmas sociais que colocam a heterossexualidade como única forma central de modo de vida. "Foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Fora o preconceito que percebi em mim contra homossexuais, eu tinha outros. Melhorei muito como ser humano, me tornei uma pessoa melhor. Tenho certeza disso", conta Neusa.

Fátima diz que, justamente por ter sido preparada a vida inteira para ser mãe e ter um filho hétero, assume ter sido muito difícil rever estes conceitos. "Não somos preparadas para isso [ter um filho gay], então, o nosso mundo desaba.  Além de tudo, quando falamos em sexualidade, parece que os demônios se soltam. Eu costumo dizer que passei por um processo de reinvenção interna.  Felizmente, acho que mudei para melhor.  Hoje, sou mais compreensiva num todo", conta.

Sobre a relação com os seus filhos, elas garantem: tudo melhorou, ou como pontuaram, voltou a ser

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