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Conheça o ator por trás da personagem Rose, a “doméstica dos viado”

Rose, "a doméstica dos viado", é a mais nova sensação na internet. Um clipe estrelado pela personagem, criada pelo ator mineiro Lindsay Paulino, já teve mais de 80 mil acessos no YouTube – número que não para de crescer, considerando que o vídeo é um fenômeno viral.

Numa paródia de "Halo", de Beyoncé, intitulada, apropriadamente, "Grelo", Rose canta seu apreço pelos patrões gays. O resultado é hilário e politicamente incorreto: "Eu passo as noite sem dormir, lavando as roupa e pondo no varal, as bicha só tem calça da Diesel e cueca da Calvin Klein", diz um trecho.

Desbocada e com sotaque carregado, Rose é uma homenagem a todas as mulheres que ganham a vida executando tarefas domésticas. "Eu sou apaixonado pelo universo das empregadas domésticas. É um material inesgotável", admite Lindsay Paulino, que hoje atua profissionalmente nos palcos de Belo Horizonte.

Em entrevista ao site A Capa, o ator fala de sua personagem, justificando que ela está longe de ser uma simples caricatura: "Tenho certeza que todo mundo conhece uma Rose."

Pode me falar um pouco sobre você? Lindsay é seu nome verdadeiro?
Meu nome é Lindsay Weidy Paulino Almeida, Lindsay mesmo! Meu pai viu meu nome num documentário. Diferente do que a maioria pensa, Lindsay Weidy foi o primeiro homem a atravessar o oceano Atlântico num barco. Meu pai gostou e fez a homenagem, mas depois da Lindsay Lohan, fica difícil escapar de uma piadinha. Sou do norte de Minas, Montes Claros, e desde criança já gostava de arte. Graças a minha avó Joana pude desenvolver esse meu lado artístico no Conservatório de Música da cidade. Lá me apaixonei pelo teatro e nunca mais parei. Hoje moro em Belo Horizonte, onde me formei no curso de atores do Palácio das Artes.

Como surgiu a ideia da personagem Rose, "a doméstica dos viado"?
A Rose sempre existiu. É um dos meus personagens mais fortes e engraçados, mas não tinha o nome de Rose. Era apenas uma mulher com sotaque carregado do norte de Minas, trabalhadeira, pobre, desgraçada. Uma mistura de todas as mulheres que fizeram parte de minha infância na roça da minha tia, nas cidadezinhas rurais onde eu sempre passava férias, minhas tias e minha avó. Só que depois que mudei pra cidade grande, descobri um novo olhar para ela, e vi também que empregadas domésticas eram sempre estereotipadas nas peças que eu assistia e que essa onda de retratar o povo sertanejo, do Vale do Jequitinhonha, já não era novidade. Daí veio a ideia de Rose trabalhar só em casa de gays, seria um universo cheio de possibilidades, novo, e que ainda não havia sido explorado, penso eu. Deu certo. As pessoas amam a Rose.

"Grelo" é a única paródia que você fez?
Conhecida sim. Mas tenho várias paródias. Só que não quero gastá-las não.  Ao mesmo tempo que a internet é um meio de divulgação muito rápido, é também de um imediatismo assustador. As pessoas querem uma coisa nova atrás da outra. Prefiro esperar o Grelo render mais um pouco, pra depois lançar outro.

Seus vídeos têm sido bem clicados no YouTube. Essa repercussão é a mesma fora da rede?
Sim. Começando pelos amigos que adoram a Rose e fazem questão de divulgar. Também já me reconheceram na fila de uma boate e já ouvi pessoas comentando no ponto de ônibus. Sempre que encontro um amigo eu ouço: nossa, o vídeo ficou ótimo! Olha fulano, esse ator aqui que faz a Rose… Aí é só festa!

Quem faz seus vídeos?
Os primeiros foram feitos pelo meu amigo João Cardoso e o Grelo pelo meu outro grande amigo Guilherme Marinheiro, que se formou comigo no Palácio das Artes.

Desde quando seus clipes estão no ar? Você imaginava que eles fariam tanto sucesso?
O primeiro que fiz foi bem caseiro. Eu tinha um blog juntamente com um amigo e gravamos no nosso apartamento. Foi tudo no improviso e não tínhamos a intenção de fazer sucesso na internet. Era só uma brincadeira e nossos amigos adoravam. Até que um dia a letra de Grelo veio à minha cabeça e comecei a escrever, demorei quase um ano para terminá-la porque deixei que a letra viesse naturalmente. Depois gravei num estúdio em Montes Claros. Esse meu amigo do blog trabalha numa agência de publicidade e conseguiu uma boa câmera, era o que faltava para o clipe.

O vídeo "Grelo" faz uma caricatura das domésticas. Você teme alguma reação negativa por parte delas?
Eu não acho que Rose é uma caricatura das domésticas não. Rose existe! Tenho certeza que todo mundo conhece uma Rose. Mesmo que não trabalhe com gays, as pessoas reconhecem suas faxineiras nela. Eu quero que ela seja uma grande homenagem a essas mulheres. Eu sou apaixonado pelo universo das empregadas domésticas. É um material inesgotável.  Claro que não deixa de ser uma crítica e acho que o papel do teatro também é esse, de criticar. Posso receber uma reação negativa por ela roubar, mas ao mesmo tempo é tão natural e tão humano que fica engraçado. E ser politicamente correto não é fazer arte pra mim.

Rose seria uma personagem perfeita num espetáculo de comédia stand-up. Algum plano de levá-la para outros espaços?
Eu me apresentei no Rio de Janeiro fazendo a Rose num bar, as pessoas adoraram, mas ainda não tive tempo pra voltar lá. Em Belo Horizonte brevemente abrirá um bar na região da Savassi, onde eu farei não só a Rose, mas meus outros personagens também. Quanto a um espetáculo só dela gostaria muito de fazer, mas ao mesmo tempo não quero ser reconhecido só por causa desse personagem, tenho outros que são legais também.

Paródias como essa que você fez viraram hit no YouTube. Você chegou a se inspirar em alguém?
Como eu disse, tive várias inspirações para a criação da personagem. Quanto à letra, deixei acontecer, não sentei à mesa para escrevê-la. Uma hora vinha uma frase quando eu estava no ônibus ou na academia. E pra falar do universo gay, nada melhor que uma música da Beyoncé, que inclusive eu sou fã.

Agora, uma curiosidade: depois de trabalhar com patrões gays, você acha que Rose sobreviveria em outro lugar?
Acho que não. Rose foi muito mal acostumada trabalhando com eles, no bom sentido. Se você fosse doméstica trocaria uma casa organizada, bonita, com patrões bem de vida, sem filhos, que te pagassem bem e sem atraso por uma casa de família comum? Claro que eu estou generalizando, na real não é assim. Nem sempre os gays moram em castelos e vivem contos de fadas, mas como é ficção, tudo é válido. E nessa minha viagem, Rose só trabalha com bicha rica e não trocaria seus patrões por nada.

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