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Contos eróticos: Quase inocente

Nenhum verão foi igual aquele. Como todos os anos, desde a nossa infância, passávamos as férias de final de ano juntas, aprontando todas as traquinagens e maluquices comuns à nossa idade. Quando crianças, a cidade era pequena demais para nossas confusões. Não eram raras as vezes que algum vizinho vinha reclamar com nossas mães que estávamos roubando frutas ou tínhamos quebrado alguma vidraça.

Depois, quando ficamos mais velhas e podíamos sair à noite, chegávamos lá pelas tantas, algumas vezes muito bêbadas, depois de farras homéricas com a galera na praia.

Numa dessas noites, saímos para tomar sorvete e acabamos tomando vodca. Voltamos para minha casa e ela dormiu por lá porque estava muito bêbada, sem a menor condição de chegar na dela. Sem falar na confusão que arrumaria com os pais naquele estado.

Dormi um sono pesado, aquele sono de quando a gente bebe demais e não consegue pensar em mais nada que não seja a cama da gente. Algum tempo depois, acordei assustada com ela deitada ao meu lado, acariciando meus cabelos, com a boca bem próxima da minha e me olhando de uma forma diferente, cada vez com o corpo mais próximo do meu, o que me deixava sem ar e muito excitada.

Nunca tinha sentido nada parecido com uma menina. Nunca tinha olhado nem sido olhada daquela forma tão sensual, tão cheia de desejo por nenhuma mulher. Mal conseguia pensar ou respirar de tanto tesão que estava sentindo com toda aquela proximidade.

Ela se aproximou ainda mais, encostando a boca, se enroscando no meu corpo, enfiando as pernas entre as minhas e a língua na minha boca, quase que exigindo a retribuição. Mas nem precisava exigir nada. Eu já estava completamente entregue àquelas sensações malucas que ela me fazia experimentar pela primeira vez. Sentia a respiração acelerada, o cheiro dos cabelos, o perfume dela me envolvendo de forma quente, suave, feminina.

Me abraçou com força, me deixando presa ao magnetismo que o corpo dela exercia sobre o meu, me beijando com mais tesão, me acariciando por cima da blusa, da calcinha, gemendo com palavras que não conseguia compreender. Eu estava tonta, de vodca, de desejo, de susto, de medo… Também nem queria compreender nada. Queria mesmo era continuar sentindo aquelas sensações inéditas e aproveitar ao máximo do momento que estava tendo com ela. Ela me beijava o tempo todo, preenchendo minha boca, me fazendo sentir num furacão, numa tempestade que chacoalhava minhas emoções e meu corpo tremia.

Minhas mãos seguravam o corpo dela como se tudo o que estava acontecendo fosse acabar a qualquer momento. Fui envolvida ainda mais. Eu queimava de desejo, minha cabeça rodava e eu não queria mais nada senão dar vazão a todo aquele prazer.

Todas as carícias e beijos foram retribuídos, mas não passou disso. Nem tiramos as roupas, mas não deixei de sentir o cheiro dela, de experimentar a sensação de tocá-la nos seios e no sexo, mesmo que por cima da calcinha, sentindo-a molhada, sentindo o gosto da pele e a delícia de ser tocada da mesma forma por ela. Adormecemos abraçadas.

Quando acordei, algumas horas mais tarde, ela estava dormindo na outra cama, e eu fiquei sem saber se realmente tinha acontecido tudo aquilo ou se tinha sido um sonho. Ainda meio tonta, tive certeza que não logo em seguida, pois o cheiro dela estava impregnado em mim e senti os vestígios de toda a excitação quando me toquei.

Ela também acordou, agindo como se nada tivesse acontecido. Agi da mesma forma, ficando em dúvida se ela se lembrava ou não do que tinha acontecido. Eu nunca toquei no assunto e muito menos ela.

Continuamos amigas por alguns anos ainda e nunca mais aconteceu nada entre nós. Anos mais tarde cada qual seguiu seu caminho e não mais nos vimos. Nunca mais tive notícias dela.


Para entrar em contato com a autora escreva para byacolares@gmail.com.

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