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Curta-metragem brasileiro mostra relações gays entre padres e seminaristas

Ultimamente tem sido cada vez mais frequentes as notícias sobre padres, bispos, arcebispos e derivados envolvidos em escândalos com pedofilia, abuso sexual e práticas eróticas. Muitas vezes, com teor gay – religiosos acabam "caindo em tentação" e se relacionando com alunos, fiéis e por aí afora, em diversos países do mundo.

Mas dentro dos seminários, os próprios postulantes também se envolvem, e esse é um tema rico para o cinema e a literatura, principalmente a brasileira, que já gerou livros clássicos como "O Ateneu", de Raul Pompeia, e o inesquecível "Em Nome do Desejo", de João Silvério Trevisan.

Agora o tema chega ao cinema, em um novo curta-metragem. "Luz", com roteiro e direção de Bruna Capozzoli, tem produção independente comandada por Carol Hubner, e foi feito sem patrocínio ou leis de incentivo.

O filme tem première em São Paulo, na próxima segunda (20), no Teatro Bibi Ferreira, com um charme especial: a projeção terá trilha sonora executada ao vivo pela Sphaera Orchestra, como nos velhos tempos do cinema mudo. A exibição é fechada para imprensa e convidados, e depois o filme segue para festivais e mostras.

Confira a seguir entrevista com a realizadora de "Luz".

Conte um pouco sobre a história do filme.
"Luz" narra a busca pelo amor verdadeiro e as reais possibilidades deste encontro dentro da doutrina cristã. No centro da história está Vicente, estudante seminarista que ao se apaixonar pelo colega Rafael se vê sem direito a um Deus. A violência da exclusão leva Rafael ao suicídio. Vicente transtornado faz os padres do seminário reféns dentro da igreja jurando livrar a vida daquele que confessar o pior pecado. Esta situação limite proporciona uma revisão das personagens envolvidas apontando caminhos mais inclusivos para o amor.

Existe no filme alguma crítica à questão gay dentro do catolicismo?
Fazer um filme é se colocar diante uma história ou temática, é expor o seu ponto de vista. Neste sentido torna-se impossível não ser crítico. O que o filme contesta é a interpretação preconceituosa dos registros bíblicos. Neles existem uma série de metáforas e expressões particulares dos tempos antigos. Uma leitura literal e superficial da bíblia prolifera conceitos degradantes à pessoa humana. Acreditamos no Deus, seja ele qual for, como máxima do amor e neste campo não há espaço para distinções.

E a questão da pedofilia, será abordada?
Uma das questões abordadas é o abuso. Abuso de poder, abuso sexual… Todas as violências que um ser humano é capaz de ter para com o outro quando se tem o poder. A descoberta da paixão entre os seminaristas evidencia o poder dos padres. Um deles se aproveita da fragilidade de Rafael (o seminarista que comete suicídio) para molestá-lo. É inegável que a sucessão de casos de pedofilia retratados na mídia contribuiu para a elaboração desta relação.

Qual sua opinião sobre padres gays? Acha que os padres deveriam poder viver sua sexualidade livremente?
A proibição do matrimônio entre os padres tem origem na questão material e não moral. Um padre casado significava filhos, eles por sua vez significavam divisão da herança clerical. Acho que a sexualidade é fator constituinte do ser humano, é impossível aniquilá-la. De modo que a aceitação da sexualidade é fundamental para uma vida saudável. Todos têm direito a viver livremente sua sexualidade desde que haja consentimento entre os parceiros e que sejam adultos capazes de responder por isso, inclusive os padres.

Confira a galeria de fotos a seguir.

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