Inspirado nos depoimentos dos funcionários da Pixar para a campanha norte-americana "It Gets Better", contra o bullying homofóbico, o publicitário André Matarazzo (foto), 36, dono da agência digital Gringo, resolveu produzir o curta "Não Gosto dos Meninos", com histórias nacionais sobre preconceito. O filme, que tem estreia prevista para maio, reúne depoimentos de 40 pessoas, entre gays e lésbicas, que contam suas histórias de discriminação e superação.
Em entrevista ao site A Capa, André fala sobre o projeto e diz que seu objetivo é mostrar para os outros que a homossexualidade não é algo "moldado pela sociedade do século 19". "Queríamos juntar essas pessoas que têm vidas diferentes e colocá-las frente às câmeras para relatarem o que passaram e como atravessaram esse período mais difícil, até chegarem ao ponto atual de total aceitação e de muita felicidade com a vida", explica o publicitário.
Ao final da entrevista, você assiste ao trailer do curta.
Como surgiu a ideia do projeto "Não Gosto dos Meninos"?
Vendo o "It Gets Better" da Pixar. Queria fazer na [agência] Gringo, mas havia poucos gays e ficaria desinteressante. Daí resolvemos abrir para todos, chamar conhecidos, que chamaram conhecidos, e o resto é história – acabamos com 40 pessoas que puderam se comprometer com a data da gravação.
Como "It Gets Better" inspirou vocês a desenvolver o curta-metragem? Os idealizadores da campanha norte-americana contribuíram de alguma forma para o filme?
Não, fizemos sozinhos. O projeto americano chamava grupos de pessoas ou indivíduos a gravarem seus depoimentos, e nós também acabamos gravando – não era necessário o contato direto com a instituição.
A mudança de conceito foi que, originalmente, "It Gets Better" tenta mostrar como se entender gay é difícil, mas que as coisas depois se encaixam, que não se deve perder a esperança e devemos nos moldar nos exemplos que vemos nos vídeos. Aqui temos um problema adicional que é como a mídia normalmente retrata o homossexual de forma muito simplificada e estereotipada.
Queríamos juntar essas pessoas que têm vidas diferentes e colocá-las frente às câmeras para relatarem o que passaram e como atravessaram esse período mais difícil, até chegarem ao ponto atual de total aceitação e de muita felicidade com a vida. E esse foi o motivo principal pelo qual as pessoas participaram: mostrar a meninos e meninas que questionam sua orientação sexual que a escolha não é ser um ser moldado pela sociedade do século 19 ou um ser bizarro estereotipado. Tem muitos caminhos e tipos de gente.
Pode me falar um pouco sobre a equipe envolvida no projeto?
Eu tive a ideia de fazer o vídeo e passei a ideia para o Gustavo [Ferri], que é nosso parceiro em vários projetos de publicidade. Ele adorou a ideia, a causa, e resolveu participar produzindo o vídeo. E ficou lindo.
O trailer traz diversos depoimentos de gays, num formato documentário. O filme será assim também? O que você já pode adiantar sobre ele?
Sim, o filme será neste formato do trailer, só que mais longo (estamos pensando entre 10 e 15 minutos) e entrará na vida e nos momentos de cada um com muito mais foco. Mas existe uma linha que costura tudo isso, os desafios são parecidos, é muito interessante.
Quais serão as estratégias de divulgação do filme? Ele vai estrear em circuito nacional ou apenas na web?
Só na web. Queremos democracia e que a mensagem seja vista por muita gente.
Vocês, idealizadores, também são gays? Suas histórias pessoais motivaram de alguma forma a realização do curta?
Eu sou, mas o Gustavo não é. Minha história pessoal me motivou totalmente, tanto que estou no filme [André surge aos 1’27", de camiseta cinza]. Tive um grande orgulho em puxar esse povo todo a se abrir.